Diante das cisões: cinema e luta por moradia (original) (raw)

Cinema, discurso e conflitos urbanos

Este texto faz um relato de minha experiência na oferta da disciplina optativa "O cinema como dispositivo do discurso sobre os conflitos urbanos", no curso de graduação em Gestão Pública para o Desenvolvimento Econômico e Social da UFRJ, em 2015, como parte de meu pós-doutorado. A dinâmica da disciplina consistiu na apresentação e discussão em torno de produções fílmicas relacionadas aos estudos urbanos, mais precisamente sobre os conflitos urbanos. Foi enfatizada a promoção do protagonismo dos alunos por meio da problematização de seus cotidianos, conforme as noções de dispositivo segundo Michel Foucault combinado com as noções de tática segundo Michel de Certeau. O cinema funcionou como dispositivo de saber-poder, como ferramenta, como tática, como exercício prático e discursivo, embora experimental. A disciplina foi encerrada com uma mostra audiovisual, intitulada "Conflitos urbanos, arte e sociedade", e que constou dos seguintes vídeos feitos pelos alunos: "Alojamento da UFRJ", "A influência da música na sociedade", "BRTrem pra quem?", "Transporte como divisor de classes sociais", "Mulheres contra Cunha", "Maré de muros", "Realidade invisível: um mundo que a sociedade escolhe não enxergar", "Prisão: a instituição que a sociedade deseja se ver livre", "Rodas Culturais no Rio de Janeiro" e "Traços da rua", sobre o grafite. Com esse experimento, podemos perceber que os alunos tiveram a possibilidade de agir no interior de suas questões mais prementes por meio do dispositivo audiovisual e, além disso, constatamos que as narrativas fílmicas produzidas pelos alunos foram, de alguma maneira, atravessadas pelos dispositivos disciplinar, carcerário, de poder, de saber e de sexualidade. Palavras-chave: Ensino; Conflitos urbanos; Audiovisual.

Cinema de ficção contemporâneo e modos de habitar transitórios

pela torcida e amparo. Aos professores Gustavo de Castro e Michel Maffesoli, pela sabedoria compartilhada. Aos professores Nancy Berthier e Alberto da Silva do CRIMIC pelo acolhimento e contribuição. Aos diretores, professores e funcionários da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília pelo apoio institucional. A CAPES, pelo apoio financeiro à pesquisa. RESUMO MORAES CAVALCANTE, Denise. Cinema de ficção contemporâneo e modos de habitar transitórios. 2014. Tese (Doutorado em Comunicação)

Cidade e cinema: diálogos sobre questões de moradia e corpografias urbanas

Revista UFG, 2020

Tomando como ponto de partida a utilização do cinema como potenteferramenta de transformação, e linguagem que propicia espaços de discussão eaprendizado, o presente relato propõe-se compartilhar experiências resultantes do cinedebate com o tema “Direito à cidade e território no Brasil”, promovido pelo projeto deextensão Cinema: subjetividade, cultura e poder, da Universidade Estadual de Feira deSantana, no intuito de trazer à pauta as lutas por moradia e o quanto os corpos que habitamo espaço urbano são afetados pelas dinâmicas sociopolíticas que os atravessam. O filmeescolhido para exibição e debate foi o documentário Leva (2011), dirigido por JulianaVicente e Luiza Marques, que aborda a temática citada. A partir da atividade realizada,foi possível refletir não só sobre a experiência urbana em São Paulo, no que se refere àsreivindicações pelo direito à cidade e à moradia, mas analisar a própria realidade localbaiana, e mais especificamente, a da cidade de Salvador.

Arquitetura do Medo - Cinema, espaços urbanos e tensões sociais

O objetivo desta pesquisa é realizar uma análise crítica da representação da chamada “arquitetura do medo” em filmes do cinema contemporâneo, a fim de apontar de que modo estes filmes estão relacionados a mudanças no espaço urbano de forma que o representam de maneira crítica e com discurso politizado. Abro a pesquisa com uma contextualização do conceito de “arquitetura do medo” e parto para breve análise de filmes realizados de forma mais espaçada, mas que também tratavam do tema. Em seguida, dou destaque especialmente aos filmes que trazem características dos gêneros horror e suspense, buscando analisar estilisticamente os modos de representação da relação dos personagens com o espaço urbano, seus medos e tensões. Os filmes que fazem parte do corpo principal desta dissertação foram realizados em meados dos anos 2000, em um período onde os centros urbanos atravessavam uma feroz gentrificação e higienização social, e onde o pensamento conservador vem voltando com cada vez mais força. Junto estes fatos às análises fílmicas, propondo uma “leitura documentarizante” indicada por Odin e parto da ideia de Comolli, de que um filme nos diz que é preciso reconhecer a urgência de suas urgências, para lançar sobre essas obras um olhar crítico que busca analisar o contexto sociológico e antropológico em que elas foram produzidas. Por fim, busco indicar que é possível o cinema de horror ser visto como um documento histórico e sociológico de um período específico em que estes filmes foram realizados. Para alcançar o objetivo, tentarei identificar a recorrência de padrões estilísticos, narrativos e ideológicos (no que se trata do discurso) desses filmes, sempre procurando elencar e analisar os contextos socioculturais dos centros urbanos neles representados.

Mulheres e luta por moradia em Lisboa e Florianópolis

2017

O artigo analisa a participacao de mulheres em localidades da periferia urbana de dois diferentes paises: uma nos arredores de Lisboa (Portugal), a Cova da Moura; outra em Florianopolis (Brasil), o bairro Monte Cristo. Essas localidades foram formadas por imigrantes e, em razao de terem suas historias relacionadas as lutas por moradia, as duas localidades apresentam como outro elemento comum o fato de terem desenvolvido ao longo de suas decadas de existencia praticas associativas nas quais as mulheres tiveram importante participacao. A partir de dados coletados por meio de depoimentos de mulheres que lideraram essas lutas, discutimos o protagonismo feminino, buscando elucidar as relacoes entre o genero e a dinâmica de apropriacao dos espacos nas respectivas localidades.

Transbordar o cinema: anotações sobre imagem, ficção e práticas moradoras

2017

Este artigo parte do desejo em considerar a experiencia estetica a partir de uma intima contaminacao com a vida social e politica. Tentamos levantar algumas observacoes teorico-metodologicas sobre a relacao conectiva da imagem com algumas forcas que a excedem. Trabalhamos com a nocao de devolucao, para pensar, de um lado, como um filme se devolve aos sujeitos filmados e, de outro, como ele se desloca rumo ao espectador. Nosso escopo e uma producao brasileira recente que solicita recursos expressivos da ficcao para narrar experiencias intimamente ligadas ao vivido. Essa estrategia ficcional se insere aqui como uma possibilidade fundamental de engajamento dos sujeitos interpelados pela escritura do filme. No que tange a analise, nos dedicamos aos filmes “A vizinhanca do tigre” (Affonso Uchoa, 2014) e “Branco sai preto fica” (Adirley Queiros, 2014). Palavras-chave: Devolucao. Estetica. Politica. Ficcao. Comunidade.

Elefante branco: discutindo a insolubilidade da precariedade urbana a partir do cinema

Este trabalho tem como princípio o uso do cinema como ferramenta de discussão de problemáticas urbanas, utilizando, neste caso, o filme argentino Elefante Blanco (2012), a partir do qual são levantadas questões sobre a precariedade urbana e as dificuldades em superá-la. A narrativa fílmica coloca em foco um objeto irresoluto e persistente, que pode ser associado à precariedade, ao crime, à pobreza, às villas e favelas. Segue-se uma discussão sobre o papel do mercado de terras e moradia no processo de produção do espaço urbano, que segrega uma parcela da população, obrigando-a a recorrer à autoconstrução, loteamentos ilegais e ocupação de terras para que consigam uma morada. Por fim, articula-se este mercado informal da habitação com seu papel de colaboração com o mercado formal, apontando para a necessidade de permanente precariedade para que a expansão do capital aconteça, e inviabilizando qualquer tentativa de solução da pobreza.

Mulheres guerreiras "supervivendo" com o cinema

Mistral | Journal of Latin American Women's Intellectual & Cultural History

Este trabalho se dedica a investigar vídeo-cartas do projeto Nhemongueta Kunhã Mbaraete, desenvolvido nos primeiros meses da pandemia Covid-19, no Brasil, pelas cineastas Graciela Guarani, Michele Kaiowá, Patrícia Yxapy e Sophia Pinheiro. Defendo a hipótese de que as quatro mulheres expressam em suas imagens o que Silvia Rivera Cusicanqui (2018) chama de supervivências. A partir de uma concepção expandida de corpo (principalmente a partir de Benites 2018), percebo que o encontro entre mulheres e imagens produz potências criativas e curativas semeadora de contaminações afetivas, fazendo germinar e proliferar formas de ser e de superviver com o cinema.

Gênero e direito à cidade a partir da luta dos movimentos de moradia

Cadernos Metrópole, 2019

A partir de uma releitura feminista, é analisado como as dificuldades de acesso à moradia no Bra- sil, marcadas pela histórica exclusão da terra e do mercado de trabalho das camadas mais pobres, abarcam condições ainda mais dramáticas quando se é mulher e piores ainda, quando se é mulher e negra. Por meio de narrativas femininas sobre suas histórias de vida dentro dos movimentos de mora- dia, demonstra-se de que maneira estes se estabe- lecem como um espaço potencializador para seu empoderamento e autonomia: da reestruturação das hierarquias de poder dentro do espaço priva- do e da segurança contra a violência doméstica à reapropriação do espaço público/político, engen- drando uma luta por direito à cidade marcada por segregações de classe, raça e gênero. Palavras-chave: habitação; gênero; moradia; mo- vimentos sociais; direito à cidade. Difficulties in access to housing in Brazil, marked by the historical exclusion of the poor from the land and by their difficulties in accessing the labor market, encompass conditions that are even more dramatic when the person is a woman - and even worse conditions when the woman is black. In this scenario, the housing movements, composed mostly of women, establish themselves as a potentializing space for their empowerment and autonomy. This paper will address significant gains women have in their lives when they participate in these social movements, such as the restructuring of power hierarchies within the private space, safety against domestic violence, re-appropriation of the public/political space, among others. Keywords: housing; genre; home; social movements; right to the city