DO RACISMO ESTRUTURAL À POTÊNCIA REVOLUCIONÁRIA: SOBRE PELE NEGRA, MÁSCARAS BRANCAS DE FRANTZ FANON (original) (raw)
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RACISMO, GENOCÍDIO E CIFRA NEGRA: RAÍZES DE UMA CRIMINOLOGIA ANTROPOFÁGICA
Diante de nossas especificidades, decorrente da nossa colonização e história, para esboçar um discurso criminológico brasileiro necessitamos, obrigatoriamente, tocar no racismo estrutural e estruturante não apenas de nossa sociedade, mas do paradigma fundante da criminologia enquanto ciência. Uma ideologia que forneceu, como resultado, o genocídio e a cifra negra, ainda hoje presentes e funcionais ao controle social. Nesse sentido, explicitamos nosso lugar de fala escravizada, pretendendo trazer aportes para uma criminologia crítica brasileira, em uma perspectiva antropofágica oswaldiana, imprescindível para a compreensão do nosso modelo de sistema punitivo ornitorrinco, que sempre se direciona aos mesmos indesejados, representando o continuum do mesmo modelo punitivo escravagista que aqui desembarcou com o “descobrimento”. A presença do racismo em nosso solo é uma constante, suas raízes estão tão fortemente arraigadas em nossa sociedade que ele é quase imperceptível dada a sua naturalização e negação que continua a ecoar em coro, como um mantra que deve ser sempre repetido mantendo-o velado, na esperança que desapareça, sem nunca ter sido de fato enfrentado.
Antirracismo, negritude e universalismo em Pele negra, máscaras brancas de Frantz Fanon
Resumo: Esta resenha tem como objetivo analisar Pele negra, máscaras brancas, livro de estreia de Frantz Fanon no campo das letras, abordando as análises do autor martinicano sobre desdobramentos do racismo e do colonialismo como formas de dominação entre os seres humanos no mundo moderno, e sobre parte dos debates teóricos e literários que impulsionaram a luta antirracista e anticolonial no contexto pós-segunda Guerra Mundial. Palavras-chave:Frantz Fanon; racismo; colonialismo; antirracismo e anticolonialismo; eurocentrismo e negritude. Abstract: This review aims to analyze Black Skin, White Masks, the first Frantz Fanon's book, in which the Martinican author analyzes the developments on racism and colonialism as forms of domination among humans in the modern world, and on part of the theoretical and literary discussions that boosted anti-racist and anti-colonial struggle in the post-second World War context.
Práxis Comunal, 2019
O presente trabalho busca observar a relação entre institucionalização, contestação e fascismo na Frente Negra Brasileira (FNB). Com base nisso, recorreu-se a bibliografias que buscam discutir essa temática, apresentando apontamentos e possibilitando uma análise crítica. Destarte, a análise da Frente Negra Brasileira, enquanto movimento social, não está de forma alguma desassociado do contexto social, político e ideológico na qual essa organização está inserida. Relacionando a luta contra o racismo, tendo como alvo a luta dentro da institucionalidade, a Frente Negra apresentou diversos paradoxos em seu período de existência. Por causa disso, o presente artigo concluiu que o fascismo no interior da Frente Negra não pode ser compreendido distante do seu contexto social e político, bem como da luta pela representação da “Gente Negra”.
“HUMOR BRANCO” E O RACISMO CONTRA A CAPOEIRA
Revista Íbamò, 2018
A violação dos direitos dos Povos e Comunidades Tradicionais de Matriz Africana no Brasil afetam sobremaneira os Terreiros de Candomblé e Umbanda que vem sendo queimados e destruídos com ações de racismo e intolerância religiosa por todo o país. Não obstante, isso vem ocorrendo com um pouco mais de frequência também com a nossa Capoeira. Depois de longo embate com o sistema CONFEF/CREF’s e de outras diversas formas de apropriação cultural que a nossa arte afro-brasileira da capoeiragem vem sofrendo, agora a Capoeira tem se tornado, nas mãos de pseudo-humoristas, motivo de chacotas e piadas racistas.
“FASCINAÇÃO”, 1909: UM RETRATO DO RACISMO MEDIADO PELA MODA NA OBRA DE PEDRO PERES
Este artigo apresenta uma análise da obra “Fascinação” de autoria de Pedro José Pinto Peres (Lisboa 1850- Rio de Janeiro 1923) datado de 1909 com especial atenção à indumentária retratada. Os modos de vestir são um importante vetor cultural que refletem tensões sociais, algumas vezes escamoteadas pelos discursos predominantes em uma sociedade. No Brasil há um debate corrente acerca dos impactos causados pela condição pós-colonial, entre eles o da escravidão é um dos mais importantes. Procura-se agora desnaturalizar e superar a dada hegemonia eurocêntrica dos modelos sociais e culturais na vida cotidiana e na cultura material a ela associada. Nos estudos sobre indumentária, campo de pesquisa recente no país, é importante identificar a historicidade dos elementos culturais africanos que permanecem invisibilizados pela predominância de temas associados à moda europeia e norte-americana. A exclusão do rico patrimônio cultural da presença africana exclui uma parte fundamental da construção da cultura brasileira, por isso a urgência de inserir este tema na universidade.
O Ideário Patrimonial, 2018
Entre o final do sec. XIX e meados do sec. XX, o mundo presenciou a elaboração de diferentes teorias, apoiadas pelas ciências humanas e biológicas, que sustentaram a legitimação de comportamentos humanos racistas e discriminatórias como consequência de processos de hierarquização, tidas como naturais e irrefutáveis inerente ao evolucionismo seletivo. Contudo, existiram pesquisadores, como Franz Boas, que atuaram ativamente na desconstrução dessas teorias comparativas, por meio de práticas científicas pautadas na observação e na abordagem de novas correntes interpretativas, como o historicismo, sendo decisivo na ampliação dos horizontes acadêmicos. Entretanto, apesar de passados mais de 70 anos do processo de desconstrução das teorias racistas comparativas, ainda é possível observar vestígios dessa incorporação dos ideais discriminatórios na memória social conduzindo ações em diferentes esferas.
A RECEPÇÃO DE FANON NO BRASIL E A IDENTIDADE NEGRA 1
Frantz Fanon é um nome central nos estudos culturais,pós-coloniais e africano-americanos,seja nos Estados Unidos,na África ou na Europa.Falamos muitas vezes de estudos fanonianos,tal o volume de estudos que têm a sua obra como objeto de reflexão.Meus colegas e alunos negros brasileiros devotam a ele a mesma admiração, respeito e devoção que seus irmãos de cor africanos e do hemisfério norte.No entanto,quando busquei material para escrever este artigo, deparei-me com um silêncio impactante,em revistas culturais ou acadêmicas,que perdurou até meados da década de 1960.
Resenha do livro Pele Negra Máscaras Brancas. Frantz Fanon
Ler Fanon é vivenciar a noção de divisão que prefigura e fende a emergência de um pensamento verdadeiramente radical que nunca vem à luz sem projetar uma obscuridade incerta. Fanon é o provedor da verdade transgressiva e transicional. Ele pode ansiar pela transformação total do Homem e da Sociedade, mas fala de modo mais eficaz a partir dos interstícios incertos da mudança histórica da área de ambivalência entre raça e sexualidade, do bojo de uma contradição insolúvel entre cultura e classe, do mais fundo da batalha entre representação psíquica e realidade social. (BHABHA, 1998:70). Pele Negra, Máscaras Brancas (1952) é o que se pode chamar de-a obra prima do autor-no caso abordado aqui, do intelectual Frantz Fanon, nascido na Ilha da Martinica no ano de 1925. Fanon estudou psiquiatria e filosofia na França, lutou junto às forças de resistência no norte da África e na Europa, dedicou sua vida a lutas em prol do bem comum, foi lido como revolucionário, porque dizia e escrevia o que havia vivido, assim tornou-se ícone entre membros dos movimentos sociais negros espalhados entre os norte americanos, latino americanos, africanos e europeus 2. Na obra evidenciada nessa resenha, o autor Martinicano não poupa exemplos de como acontece o que ele denomina de alienação e situação colonial 3 imposta aos negros, tão bem descritas e abordadas nesse livro. Desse modo, o autor passeia da psiquiatria, passa pela filosofia em uma escrita poética sobre os estudos pós coloniais, pensamento sobre a diáspora Africana oferecendo uma gama de possibilidades de interpretação elencadas de modo refinado e sofisticado, por um pensamento a frente do seu tempo. Essa obra chegou ao Brasil há menos de dez anos, embora tenha sido traduzida de sua versão original escrita em francês no ano de 1952 e, reeditada 23 anos mais tarde [1975]. Frantz Fanon, era e ainda hoje é (re)conhecido como revolucionário, de modo que seu trabalho não pode sequer ser dividido entre inicial e posterior, pois em cada obra Fanon se 1 Mestranda pelo programa de pós graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte-bolsista CAPES e vinculada ao grupo Gênero, Corpo e Saúde-GCS/PPGAS/UFRN. 2 GUIMARÃES, Antonio Sérgio Alfredo. A recepção de Fanon no Brasil e a identidade negra. Novos Estudos-CEBRAP, n. 81, p. 99-114, 2008. 3 Tais conceitos são elucidados pelo autor nos capítulos quatro e sete respectivamente.