André Bazin e o plano-sequência do neo-realismo italiano: flutuações entre a experiência da realidade e ficção do personagem Umberto D (original) (raw)
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André Bazin e a política das imagens no pós-guerra: Malraux, Clément e Rossellini
Anais do 24º Encontro Regional da ANPUH-SP, 2018
Em “Cabíria, ou a viagem aos confins do neorrealismo” (1957, "Cahiers du cinéma"), André Bazin se propunha a difícil tarefa de incluir no cinema neorrealista a obra de Frederico Fellini. Como Gilles Deleuze notaria mais tarde, o crítico não tomaria a posição política como critério básico para definir esse movimento, fazendo-o antes por meio de elementos formais articulados ao conceito de “realismo”. Se tal conceito é tradicionalmente lido, na obra de Bazin, a partir de seu ensaio “Ontologia da imagem fotográfica” (1945, "Problèmes de la peinture"), um dos objetivos desse trabalho é refletir sobre os matizes adquiridos por esse realismo no contexto mais definido da crítica circunstancial de filmes. Sendo assim, serão discutidas as análises feitas por Bazin a respeito de três obras: A esperança (1945, dir. André Malraux), Paisà (1946, dir. Roberto Rossellini) e A batalha dos trilhos (1946, dir. René Clément). Ora, no momento mesmo em que buscava sentar as bases de uma definição ontológica da imagem, Bazin voltava-se para filmes que retomavam acontecimentos políticos recentes, como a resistência à ocupação alemã ou a Guerra Civil espanhola. A análise dos comentários do crítico a respeito dessas três obras nos permite, assim, identificar suas primeiras formulações em torno do que se poderia chamar de uma “retórica da transparência”, isto é, uma concepção de realismo como resultado de um trabalho de mise en scène. Anos depois, a propósito de filmes como Umberto D. (1952, dir. Vittorio de Sica) ou Diário de um pároco de aldeia (1951, dir. Robert Bresson), Bazin chamaria a atenção para a crise do acontecimento dramático, com a redução tendencial do roteiro aos gestos cotidianos. Ora, é possível afirmar que essa tendência se encontrava presente já nos referidos filmes do imediato pós-guerra, ainda que com arranjos diversos. Dessa forma, seja em suas reflexões gerais (a “Ontologia da imagem fotográfica”), seja por meio da análise circunstanciada, é possível notar a preocupação com o novo status político da imagem cinematográfica no pós-guerra, quando, por exemplo, ela adquire status de prova jurídica nos Processos de Nuremberg (1945-1946). Decorre desse novo lugar político das imagens um importante questionamento a respeito da tarefa da crítica: não apenas indicar o apelo ideológico do filme, mas sobretudo prolongar suas imagens, criar uma situação em que ao leitor-espectador é dada a tarefa de construção do sentido.
Cinema, realismo e revelação: um diálogo com Paul Tillich e André Bazin
Este artigo tem como objetivo identificar os principais conceitos da teologia da arte de Paul Tillich, a fim de reconhecer possibilidades e/ou limites para uma abordagem teológica da arte cinematográfica baseada neste arcabouçou teórico. Destacaremos uma correlação entre a compreensão de Tillich do realismo na arte contemporânea e a teoria do cinema de André Bazin. Para esses autores, a autenticidade crítica e criativa da arte depende de sua relação temporal e espacial com o real, ainda que o faça de forma simbólica. A fim de desenvolver este estudo, em um primeiro momento, apresentaremos argumentos de Bazin a favor do realismo cinematográfico e, então, estabeleceremos conexões conceituais com Paul Tillich. Palavras-chave: Cinema. Teologia da cultura. André Bazin. Paul Tillich. FILM, REALISM AND REVELATION: A DIALOGUE WITH PAUL TILLICH AND ANDRE BAZIN This article aims to identify main concepts of Paul Tillich’s Theology of art in order to recognize possibilities and/or limits to a theological approach of the cinematographic art based on this Theology. We will point out a correlation between Tillich’s understanding of realism in contemporary art and André Bazin’s film theory. For these authors, the critics and creative authenticity of art depends on its temporal and spatial relationship with the real, although it does that in a symbolic way. In order to develop this study, we will present arguments of Bazin in favor of cinematographic realism and then establish conceptual connections with Paul Tillich. Keywords: Film theory. Theology of culture. Andre Bazin. Paul Tillich
André Bazin e a intermidialidade: por uma historicidade impura do cinema
Rumores, 2018
Pioneiro avant la lettre da intermidialidade, André Bazin não desprezou as possibilidades artísticas do diálogo entre o cinema e as demais mídias. Longe de uma postura purista, Bazin demonstrou como esses entrelaçamentos trouxeram uma inevitável historicidade ao cinema e a possibilidade de aprimoramento da forma fílmica. Num movimento pendular entre a noção de autoria e o elogio à criação anônima das artes, Bazin agregou a arqueologia das mídias ao debate do específico. Através da articulação entre a análise fílmica e o estudo do contexto, os artigos sobre a adaptação teatral e literária abrem-nos caminhos de pesquisa para abordagens intermidiáticas do cinema. A nossa proposta pretende decompor a metodologia baziniana e apresentar as disputas internas do campo cinematográfico em torno da autoria e do específico.
O novo realismo italiano: de Pasolini a Saviano
Remate De Males, 2014
Per Pasolini l'arte era un mezzo di comunicazione morale e politica, lo stile era un strumento, a volte provvisorio e semilavorato, per trasmettere un messaggio e dialogare con i contemporanei.
Django Livre e o Western: uma aproximação com a teoria de André Bazin
Revista Sessões do Imaginário, 2017
Este trabalho apresenta a teoria do autor francês André Bazin sobre o western e suas diversas ramificações e alterações ao longo das últimas décadas, com especial aplicação na análise do filme Django Livre (Django Unchained, 2012), do diretor norte-americano Quentin Tarantino. Após tantas transformações e readaptações dos filmes ao gênero, será que Bazin legitimaria esta obra cinematográfica dentro dos cânones de pureza propostos por ele?
André Bazin, cinema e política: leitura preliminar
Anais do 29º Simpósio Nacional de História, 2017
O objetivo aqui proposto é efetuar uma primeira aproximação com determinados temas caros à obra do crítico de cinema André Bazin. Mais especificamente, trata-se de situar sua defesa de uma concepção bastante particular de "realismo ontológico" no interior das tendências estéticas e políticas que marcaram a crítica francesa em meados do século XX. Grosso modo, tal posição foi associada muitas vezes a uma crítica do cinema fundado na montagem (Griffith, Kulechov, Eisenstein etc.), ao qual Bazin oporia uma exploração do valor ontológico inerente às imagens. Para tanto, sua crítica explorou um conjunto de conceitos que teria uma grande importância nos estudos sobre cinema, como a "profundidade de campo" ou o "plano-sequência". Estudos mais recentes, no entanto, apontam para a inexatidão dessa leitura, que se baseia em um conjunto relativamente pequeno de textos (sobretudo a "Ontologia da imagem fotográfica"), de modo a hipertrofiar algumas tendências importantes mas não exclusivas da obra do crítico. Sendo assim, esta intervenção tem por objetivo percorrer alguns textos de Bazin, particularmente aqueles dedicados ao cinema estadunidense. Por um lado, esse campo de interesse constitui já uma cisão política no seio da crítica francesa, predominantemente hostil ao cinema hollywoodiano. No entanto, a figura de Bazin possui uma inserção particularmente ambígua nesse campo, articulando-se de maneira deslocada com os variados nichos político-cinéfilos. Diante disso, parece profícuo acompanhar a análise de determinados diretores e atores para aferir a variação sofrida pela noção de “realismo ontológico” no âmbito de um comentário mais direto sobre filmes. O recorte documental proposto inclui o ensaio sobre Orson Welles (sobretudo seus comentários sobre “Cidadão Kane” e “Soberba”), o conjunto de artigos sobre a obra tardia de Charles Chaplin (principalmente “O grande ditador” e “Monsieur Verdoux”) e ainda seus ensaios sobre Humphrey Bogart ou sobre as “pin-ups”. Note-se que não se trata de analisar nenhum filme em específico, mas sim o percurso crítico constituído a partir deles, o que supõe certa especificidade em termos de análise formal. Assim, de forma algo semelhante à leitura proposta por Gilles Deleuze com relação à discussão baziniana em torno do neorrealismo, trata-se de analisar o significado propriamente político das opções estéticas do crítico no interior da indústria cinematográfica e do “star system” no momento de eclosão da Guerra Fria.
The long tracking shot (or long take) is as old as the cinema-since some authors consider so the films by Edison and by the Lumière brothers. Some of the best directors in cinema history, such as Welles, Hitchcock, Kalatozov, Antonioni, Scorsese, Figgis, Sokurov and much others, are prominent by the use of this technical and narrative device. Andre Bazin was one of the greatest defenders of the long take as a creative feature of the " effect of real ". Nowadays, the long tracking shots by the Hungarian director Béla Taar stand out. The Turin Horse (A torinói ló – Hungary – 2011) was inspired by the episode in Turin that supposedly triggered the process of madness of Nietzsche. The horse owner who spanked the horse and shocked the German philosopher goes home and we see six days of his life with his daughter – six long, silent, windy and repetitive days, beautifully photographed in long takes in black and white. Those long takes tell about life and time, are an important discursive resource. This interpretation leads us to the concept of cinema and long tracking shot by Pasolini. The Italian thinker and artist states that life is similar to cinema, as film is similar to death and the long take is like our experience of reality. The singularity of Pasolini's theory is that he states the similarity of the cinema with reality (our experience, mostly audiovisual, with the world that surrounds us) but advocates and practices a " new formalism " in film.