O lado humano da guerra (original) (raw)
A Humanidade e a Guerra, 2016
Este texto descreve a evolução da guerra ao longo da vida da humanidade.
Resumo: Leitura e comentário crítico do poema " Os jogadores de xadrez " , do heterónimo pessoano Ricardo Reis, com vista a uma proposta de sistematização da natureza da relação que o poeta manteve com os eventos em curso nos anos decisivos da sua formação e consolidação artísticas e literárias. Abstract: Reading and critical review of the poem " The chess players " , by Fernando Pessoa's heteronym Ricardo Reis, aiming to propose a systematization of the kind of relationship the poet has maintained with the ongoing events during the decisive years of his artistic and literary education and consolidation .
Introdução ao Guerra Method - As Virtudes da Des-humanização
A study based on female behavior, the biological and chemical effects of the female organism, such as production of pheromones and attraction hormones when the woman is subjected to violent and psychopathic treatment. A Behavioral Study on Female Attraction Related to Male Violence in Healthy Heterosexual Relationships.
A Guerra Não Tem Rosto de Mulher
O ser humano é maior que a guerra "Não quero me lembrar…" "Cresçam meninas… Vocês ainda estão verdes…" "Fui a única a voltar para minha mãe" "Em nossa casa vivem duas guerras…" "O gancho do telefone não atira" "Nos condecoravam com umas medalhas pequenas…" "Não era eu" "Até agora me lembro daqueles olhos…" "Não atirávamos" "Eram necessários soldados… Mas também queríamos ser bonitas…" "Senhoritas! Vocês sabem que um comandante de pelotão de sapadores só vive dois meses…" "Só olhar uma vez…" "Sobre a batata miudinha…" "Mamãe, o que é papai?" "E ela botava a mão ali, onde fica o coração…" "De repente me deu uma vontade enorme de viver…" * * * explicaram de alguma forma, mas eu não consigo explicar para minha filha. Encontrar as palavras. Gostamos cada vez menos da guerra, é cada vez mais difícil encontrar uma justificativa para ela. Para nós já é apenas uma matança. Ao menos para mim. Devia escrever um livro sobre a guerra que provoque náuseas e que faça a própria ideia de guerra parecer repugnante. Louca. Os próprios generais ficariam nauseados… Essa lógica "feminina" deixou meus amigos baratinados (ao contrário das minhas amigas). De novo escuto o argumento "masculino": "Você não esteve na guerra". Talvez isso seja bom: não conheço a paixão do ódio, tenho uma visão normal. Não militar, não masculina. Existe na óptica o conceito de "tempo de exposição"-a capacidade da objetiva de fixar melhor ou pior a imagem captada. A memória feminina sobre a guerra, em termos de concentração de sentimentos e de dor, é a que tem mais "tempo de exposição". Eu até diria que a guerra "feminina" é mais terrível que a "masculina". Os homens se escondem atrás da história, dos fatos, a guerra os encanta como ação e oposição de ideias, diferentes interesses, mas as mulheres são envolvidas pelos sentimentos. E mais: desde a infância, os homens são preparados para que, talvez, tenham que atirar. Não se ensina isso às mulheres… elas não se aprontaram para fazer esse trabalho… E elas lembram de outras coisas, ou lembram de outra forma. São capazes de ver o que está escondido para os homens. Vou repetir mais uma vez: a guerra delas tem cheiro, cor, o mundo detalhado da existência; "nos deram sacolas, e com elas costuramos sainhas"; "no centro de alistamento, entrei por uma porta de vestido e saí pela outra de calças e camisa militar: cortaram minha trança, na cabeça só sobrou um topetinho…"; "os alemães fuzilaram a aldeia e foram embora… Chegamos naquele lugar: areia amarela pisada e, em cima, uma botinha de criança…". Mais de uma vez me avisaram (especialmente homens escritores): "As mulheres vão inventar para você. Vão criar". Mas eu cheguei à conclusão: é impossível inventar isso. Copiar de alguém? Se é possível copiar isso, é só da vida; só ela tem tamanha fantasia. Não importa de que falem as mulheres, nelas estava sempre presente a ideia de que a guerra é só uma matança, e depois, trabalho duro. E então só a vida habitual: cantavam, se apaixonavam, usavam bobes de cabelo… No centro, sempre o fato de não querer e não aguentar morrer. E é ainda mais insuportável e angustiante matar, porque a mulher dá a vida. Presenteia. Carrega-a por muito tempo dentro de si, cria. Entendi que para as mulheres é mais difícil matar. Os homens… A contragosto eles deixam as mulheres entrar em sua guerra, em seu território. Fui procurar uma mulher na fábrica de tratores de Minsk; ela tinha sido francoatiradora. E famosa. Apareceu mais de uma vez em manchetes de jornal. As amigas dela me deram o número do telefone de sua casa em Moscou, mas era antigo. Sobrenome também, eu só tinha o de solteira. Fui à fábrica onde, como eu sabia, ela trabalhava, e no departamento pessoal escutei dos homens (do diretor da fábrica e do chefe do departamento): "Por acaso falta homem para isso? Para que você quer essas histórias de mulher? Fantasias de mulher…". Os homens tinham medo de que elas estavam arregalados de medo. Atrás dele veio correndo uma velha vestida de preto. Toda de preto. Corria e fazia o sinal da cruz: 'Não deem ouvidos ao menino. O menino perdeu o juízo…'." "Fui chamada na escola… Quem conversou comigo foi uma professora que voltara da evacuação: 'Quero transferir seu filho para outra turma. Na minha turma só ficam os melhores alunos.' 'Mas meu filho só tira cinco.' 5 'Isso não importa. O menino viveu com os alemães.' 'Sim, foi duro para nós.' 'Não estou falando disso. Todos os que viveram na ocupação… Estão sob suspeita…' 'O quê? Não estou entendendo.' 'Ele conta às crianças coisas sobre os alemães. E gagueja.' 'Ele ficou assim por medo. Foi espancado pelo oficial alemão que morou conosco no apartamento. O homem não gostou de como meu filho limpou suas botas.' 'Pois está vendo? Você mesma admite… Viveu ao lado do inimigo…' 'E quem deixou esse inimigo avançar até Moscou? Quem nos deixou aqui com nossos filhos?' Tive uma crise nervosa. Passei dois dias com medo de que a professora me denunciasse. Mas ela deixou meu filho na turma…" "De dia temíamos os alemães e os politsai, 6 e de noite os partisans. Os partisans pegaram minha última vaquinha, ficamos só com um gato. Os partisans estavam com fome, eram cruéis. Levaram minha vaquinha e fui atrás deles… Andei uns dez quilômetros. Implorava: devolvam. Deixei três filhos passando fome junto ao fogão. 'Vá embora, tia!', me ameaçaram. 'Senão lhe damos um tiro.' Tente encontrar uma pessoa boa na guerra… Irmão briga com irmão. Os filhos dos kulaks 7 tinham voltado do desterro. Seus pais tinham morrido, e eles serviram aos alemães. Estavam se vingando. Um deles deu um tiro no velho professor em sua casa. Era nosso vizinho. Tinha denunciado seu pai, participado da expropriação. Era um comunista fervoroso. No começo os alemães desfizeram os colcozes, deram as terras para as pessoas. As pessoas tiveram um respiro depois de Stálin. Pagávamos o tributo… Pagávamos certinho… Depois começaram a nos queimar. Nós e nossas casas. Roubavam o gado e queimavam as pessoas. Ah, minha filha, tenho medo das palavras. As palavras são terríveis… Eu me salvei pelo bem, não queria mal a ninguém. Lamentei por todos…" * * * "Fui com o Exército até Berlim… Voltei para meu vilarejo com duas Ordens da Glória e várias medalhas. Passei ali três dias, e no quarto dia minha mãe me tirou da cama cedinho, enquanto estavam todos dormindo: 'Filhinha, eu 'Agora, quanto a vocês serem mocinhas', falou, 'retiro o que disse.' Mas mesmo assim não se conformava… Não conseguia se acostumar conosco… Pela primeira vez, saímos para a 'caça' (é assim que se chama entre os francoatiradores); minha companheira era Macha Kozlova. Nos camuflamos, deitamos: eu fazia a cobertura, e Macha estava com a metralhadora. De repente ela me disse: 'Atire, atire! Está vendo? Um alemão.' Eu respondi: 'Estou fazendo a cobertura. Atire você!' 'Enquanto a gente ficar discutindo isso, ele vai embora', ela falou. Mas eu continuava: 'Primeiro preciso estabelecer o mapa de tiro, assinalar o ponto de referência: onde há um galpão, uma bétula…' 'Você vai fazer toda uma papelada, como na escola? Eu não vim para ficar preenchendo papel, vim para atirar!' Vi que Macha já estava brava comigo. 'Ora, então atire, qual é o problema?' Ficamos brigando assim. E nesse tempo, realmente, o oficial alemão dava as ordens aos soldados. Uma carroça se aproximou, e uns soldados em fila começaram a passar a carga. Esse oficial ficou ali, deu alguma ordem e depois sumiu. E nós brigando. Vi que ele já tinha aparecido duas vezes, e se bobeássemos de novo, acabou. Perderíamos o alemão. E quando ele apareceu pela terceira vez-era realmente só por um instante: uma hora aparecia, na outra sumia-, resolvi atirar. Decidi, e de repente cruzou pela minha cabeça um pensamento: mas é uma pessoa; mesmo sendo inimigo, é uma pessoa, e minhas mãos começaram a tremer um pouco, um arrepio passou por todo o corpo, um calafrio. Um medo… Até hoje às vezes essa sensação volta no sono… Depois dos alvos de compensado, era difícil atirar em uma pessoa viva. Ainda estava olhando pelo visor ótico, via bem. Ele parecia próximo… E, dentro de mim, algo resistia… Algo não deixava, eu não conseguia me decidir. Mas retomei o controle e apertei o gatilho… Ele acenou com as mãos e caiu. Se estava morto ou não, não sei. Mas depois disso comecei a tremer ainda mais, surgiu um medo: eu matei uma pessoa?! Era preciso me acostumar a essa ideia. Sim… Numa palavra, um horror! Não dá para esquecer… Quando chegamos, começamos a contar no pelotão o que tinha acontecido comigo, fizemos uma reunião. Nossa chefe do Komsomol era Klava Ivánova, ela me convencia: 'Não é para ter pena deles, é para ter ódio'. Os fascistas tinham matado o pai dela. Às vezes cantávamos, e ela pedia: 'Meninas, parem; quando vencermos esses desgraçados, cantamos'. E não foi de uma vez… Não foi de uma vez que conseguimos. Isso não era coisa de mulher: odiar e matar. Não era nosso… Era preciso se convencer. Se persuadir…" Alguns dias depois, Maria Ivánovna me ligou e me convidou para falar com sua amiga do front, Klávdia Grigórievna Krókhina. E de novo escutei… KLÁVDIA GRIGÓRIEVNA KRÓKHINA, PRIMEIRO-SARGENTO, FRANCOATIRADORA "Na primeira vez dá medo… Muito medo… Nos deitamos e fiquei observando. E então reparei: um alemão se levantou das trincheiras. Eu engatilhei, apertei o gatilho, e ele caiu. E aí, sabe, eu tremia inteira, escutava meus ossos batendo. Comecei a chorar. Quando atirava no alvo, não tinha problema, mas aí: eu matei! Eu! Matei uma pessoa que não conheço. Não sei nada sobre ele, mas o matei. Depois isso passou. E foi assim que… Que aconteceu… Já estávamos avançando, estávamos passando na frente de um pequeno povoado. Acho que na Ucrânia. E ali, perto da estrada, vimos um barracão ou uma casa, já era impossível distinguir, tudo estava queimando, já tinha queimado, só sobraram pedras pretas. As fundações… Muitas meninas não se aproximaram, mas parecia que algo me puxava… Nesse carvão encontramos ossos humanos, entre eles estrelinhas queimadas; tinham queimado...
As duas faces da guerra ou da história tecida entre memórias
2019
Partindo da importância de documentarios historicos no processo de reconstituicao de memorias coletivas, sobretudo, em cenarios de censura e perseguicao politica, o presente artigo busca, a partir de uma analise sobre o documentario As duas faces da guerra (Diana Andringa e Flora Gomes, 2007), discutir o tensionamento entre aspectos objetivos e subjetivos que atravessam a producao de documentarios de natureza historica, observando em que medida a utilizacao de estrategias convencionadas como legitimadoras do discurso (uso de entrevistas, imagens de arquivo) podem interferir na intencionalidade historica do documentario.