A Teatralidade Para Além Dos Palcos Na Avenida Do Carnaval (original) (raw)

A Invenção da Teatralidade

A arte só pode reconciliar-se com sua própria existência ao exteriorizar seu caráter de aparência, seu vazio interior. Adorno, Teoria estética. 3 No início de Da arte do teatro 4 , o Diretor, que acaba de conduzir o Amador de Teatro ao espaço teatral para que perceba seu "mecanismo" ("construção geral, cena, maquinaria dos cenários, equipamentos de luz e todo o resto"), pede a seu convidado para se sentar por "um instante na plateia" e se interrogar a respeito de "o que é a Arte do Teatro" ... A lição merece ser compreendida: jamais se deveria abordar a mínima questão de estética teatral sem se colocar, mesmo que mentalmente, diante da cena. Antes de refletir sobre o teatro é importante constatar que esse palco estreito -mas destinado a servir de pedestal a um universo -quando em repouso parece um deserto. Em outros tempos a cortina vermelha permitia que se dissimulasse esse vazio ao olhar dos espectadores; ela estava ali para dar passagem às miragens construídas nos bastidores. Hoje, a cortina de ferro, puramente funcional, interpõe-se entre o público e os artistas no início da representação apenas para sublinhar melhor essa lacuna, esse vazio da cena moderna. Atrás da cortina de veludo, nossos antepassados puderam pressentir a abundância e a plenitude de um teatro baseado na ilusão. No presente, mal a cortina de ferro acaba de se elevar e já sabemos que esse cenário, essa cenografia, jamais poderão

As festas carnavalescas e o Teatro Municipal de São Paulo

Aedos, 2014

Este artigo tem como objetivo realizar algumas reflexões acerca das discussões levadas a efeito pela elite paulistana sobre a realização ou não de festas carnavalescas no Teatro Municipal de São Paulo. Estas discussões se dão na cidade citada na década de 1910, período marcado pela modernização urbana. Utilizamos como fontes de pesquisa o jornal O Estado de São Paulo e as atas da Câmara Municipal da mesma cidade. Partindo do aporte do paradigma indiciário de Carlo Ginzburg, buscaremos, através de pistas e sinais contidos na documentação analisada, observar de que forma foi resolvida a disputa entre vereadores, que representavam a elite paulistana, e os jornalistas, que buscavam expressar a vontade popular.

Entre o Teatro da Corte e o Teatro Público (da Página ao Palco)

2004

, no cap. XXXVI da Primeira Parte das suas Mémoires i , relembra um encontro de trabalho que teve com Vivaldi, em Veneza, na residência do compositor, corria o ano de 1735, a propósito de um conhecido "dramma per musica" de Apostolo Zeno, a Griselda. O promotor do encontro foi Michele Grimani, proprietário e empresário do Teatro di San Samuele que, tendo decidido apresentar aquela ópera na sua sala de espectáculos, na temporada teatral da Fiera dell'Ascensione, incumbiu Goldoni de ajustar com o músico, o criador da nova versão musical, as modificações a serem introduzidas no libreto de Zeno. No relato deste episódio, Goldoni, enquanto exibe ao pormenor, e com evidente autocomprazimento, as suas capacidades de improvisador, deixa bem explícito que a sua intervenção no texto se destina a satisfazer sobretudo as exigências do compositor e dos intérpretes, em particular da pupila de Vivaldi, Anna Girò. Segundo o seu protector, a jovem cantora não gostava, por exemplo, do «chant langoureux», preferindo em seu

O carnaval enquanto fábula: a percussão na periferia da folia

Questão pouco discutida tanto no meio acadêmico quanto nos setores que administram o Carnaval-Negócio em Salvador, as relações de trabalho que são tecidas entre os músicos percussionistas e os seus contratantes apresentam indícios históricos de que os primeiros, os músicos, frequentemente sofrem discriminação e prejuízo financeiro no âmbito deste evento. Tendo como fonte relatos de músicos que atuam no carnaval desde a década de 1970, o presente texto busca apresentar esta temática no intuito de trazer à tona uma realidade que muitos fazem questão de invisibilizar e silenciar.

Entre a Carnavalização e O Grotesco

Contemporânea Revista de Comunicação e Cultura

O objetivo deste artigo é articular os conceitos de carnavalização e de grotesco a par­tir de Mikhail Bakhtin (2010, 2018) e a noção de grotesco nos estudos comunicacionais brasileiros em Muniz Sodré (1972) e Muniz Sodré e Raquel Paiva (2002). A partir dessas articulações conceituais, serão apresentadas possíveis contribuições para compreender elementos do Desfile das Escolas de Samba do Rio de Janeiro. Serão analisados os desfi­les da Beija-Flor de Nilópolis de 1989 e o da Estação Primeira de Mangueira de 2018, em que é possível identificar traços da linguagem carnavalizada, que inverte papéis, rebai­xa figuras de poder e subverte regras. Vistas a partir dos conceitos de carnavalização e de grotesco, as inversões possibilitam “destronar” os mandatários, e imagens sagradas e elevadas, retirando-as de sua posição superior, para figurar o escárnio.

Palco e Cidade Na Experiência De Os Dois Cia De Dança Stage and City in the Experience of Os Dois Cia De Dança

Este artigo descreve e analisa a trajetória de Os Dois Companhia de Dança que investiga o encontro dramatúrgico e coreográfico do corpo do bailarino com objetos banais do universo urbano, dando concretude ao "objeto-partner", conceito central da companhia dos quais se desdobram os conceitos correlatos de função inútil e performance híbrida, provocados pelo diálogo com espaços públicos urbanos. Palavras-chave | Os Dois Companhia de Dança| objeto-partner | conceitos em dança | dança e espaço urbano Abstract This article describes and analyzes the history of Os Dois Companhia de Dança which investigates the dramatic and choreographic encounter of the body of the dancer with banal objects of the urban universe, giving concreteness to the objeto-partner, the company's central concept out of which unfold the related concepts of "useless function" and "hybrid performance", triggered by a dialogue with urban public spaces. Keywords | Os Dois Companhia de Da...

O Desenho Da Performance No Contexto Da 14ª Edição Da Quadrienal De Praga: Teatralidade Testemunhal Em This Building Talks Truly

Cena

O presente artigo aborda o desenho da performance a partir do estudo de caso do projeto expositivo This Building Talks Truly proposto pela República da Macedônia do Norte e premiado com a Triga de Ouro de melhor projeto na Mostra de Países e Regiões da 14ª edição da Quadrienal de Praga de Desenho da Performance e Espaço. O estudo propõe a problematização da “qualidade pública da obra” (Cornago, 2019) concebida sob a forma de situação e/ou dispositivo na qual será analisada as estratégias de ativação do espaço através da performance. Especificamente na condição de atividade e gesto simbólico inseridos na esfera social comunitária e seu deslocamento para o espaço expositivo. Para a análise será utilizado o conceito de teatralidade como operador de leitura a partir noção de “teatralidade testemunhal” (Diegues, 2016) definida pela autora como estratégia capaz de tornar visíveis e advertir processos de deterioração e aniquilação de comunidades na relação sujeito e espaço. Neste sentido, ...