É possível romper com a herança ibérica? Uma releitura da obra de Raymundo Faoro (original) (raw)
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Raymundo Faoro e as interpretações do Brasil
Perspectivas Revista De Ciencias Sociais, 2005
RESUMO: A partir da discussão sobre a relação entre Estado e nação, o artigo pretende situar o pensamento de Raymundo Faoro com referência a diferentes linhas de interpretação do Brasil, chamando a atenção para uma visão pessimista presente na análise do autor.
Gilberto Freyre e o hibridismo da sociedade ibérica
Revista de Estudios Brasileños, 2020
O artigo aborda como a leitura dos autores espanhóis Ángel Ganivet, Miguel de Unamuno e José Ortega y Gasset foi fundamental para o desenvolvimento das temáticas “regionalismo”, “tradicionalismo” e “formação do povo” na obra de Gilberto Freyre. Argumenta que além dos temas centrais em sua reflexão o método que ancora a abordagem dos escritores hispânicos é reivindicado pelo autor pernambucano, caracterizando sua narrativa. O texto argumenta, ainda, que a combinação desses elementos possibilita a consideração da Península Ibérica e do Brasil como sociedades caracterizadas por traços simultaneamente orientais e ocidentais. Busca apresentar, também, esse perfil híbrido não como uma visão dualista, mas compondo uma definição articulada, apontando a interpretação do conjunto dos autores analisados não marcada pelo regionalismo, mas de caráter totalizador.
Iberismo e luso-tropicalismo na obra de Gilberto Freyre
História da Historiografia: International Journal of Theory and History of Historiography, 2012
O artigo discute o luso-tropicalismo, assunto que mobilizou o pensamento de Gilberto Freyre entre as décadas de 1940 e 1960. A caudalosa produção intelectual gilbertiana – marcada pela aproximação com a ditadura de António Salazar e com o esforço português de manter suas colônias na África – somente é inteligível a partir da crítica à modernidade ocidental que Freyre recolheu do pensamento espanhol de fins do século XIX e princípio do século XX. Autores como Miguel de Unamuno, Ángel Ganivet e José Ortega y Gasset refletiram sobre a especificidade da cultura ibérica, percebendo-a como substancialmente diferente da moderna tradição anglo-saxã. Para Gilberto Freyre, os ibéricos, em particular os portugueses, seriam capazes de compreender os trópicos e as suas gentes e com eles transigir, conviver e miscigenar. Tal entendimento o levou, ao menos nos seus momentos mais ideológicos, a defender e justificar o colonialismo português, apesar dos ventos descolonizadores que sopravam desde o f...
O Farandulo de Tó (Mogadouro) – uma proposta de leitura
Resumo-Com este artigo procura o autor fazer uma interpretação racional do ritual de solstício de Inverno que tem lugar no primeiro dia de Janeiro, na localidade de Tó, concelho de Mogadouro. Devidamente enquadrada no contexto geográfico, a festividade do Farandulo de Tó inscreve-se na linha de rituais com máscaras que abundam no Inverno transmontano e fazem a ponte entre o ano velho e o ano novo. O evento é prenhe de simbolismo, que o autor tenta desvendar com esta proposta de leitura.
A herança ibérica dos tribunais brasileiros
CARLOS VICTOR NASCIMENTO DOS SANTOS, 2022
This paper aims to set up a historical perspective on the understanding of collegiality in the Brazilian courts and, mainly, in the Brazilian Supreme Court. Through documentary and bibliographical research, it was possible to reconstitute the discourse created by historians about the origin and functionality of collegiality in Brazilian Courts. The result was the identification of multiple factors of influence, such as an Iberian heritage and the respect and observance of Brazilian customs and habits, and not of Italian law, as Brazilian jurists claim.
Tradição e apropriação: El hacedor (de Borges), remake de Fernández Mallo
ITINERÁRIOS - Revista de Literatura , 2015
O cenário cultural espalha indícios de que a figura do autor ocupa no contemporâneo uma posição ambivalente. Ao mesmo tempo em que não podemos nos descartar tão facilmente de seu nome e da função que exerce na relação que mantém com o texto literário, já convivemos com episódios e obras que demonstram um desprendimento, um deslizamento dessa mesma função, sugerindo uma reinvenção do modo de inscrever assinaturas. Assim, a comunicação quer apostar no comentário de um estudo de caso em particular: trata-se de El hacedor (de Borges), remake do escritor espanhol Agustín Fernández Mallo. Identificando nesse texto uma estratégia de composição que recicla ideias e imagens já presentes na obra de Jorge Luis Borges, é fácil ver como tal procedimento de escrita ganha fundamento teórico se consideramos as noções de “escrita não-criativa” tal como elaborada por Kenneth Goldsmith e “gênio não original”, investigada por Marjorie Perloff. Nesse sentido, a hipótese é que a “apropriação criativa” em operação pode ser considerada como uma estratégia de redimensionamento dos modos de entendimento da autoria na dinâmica de forças do sistema literário, comprometendo, por tabela, a noção de obra, de originalidade e o próprio conceito de literatura.
Raymundo Faoro e o Estamento Burocrático: o Elitismo dos trópicos?
O presente artigo tem por objetivo identificar em que medida a perspectiva apresentada na obra Os Donos do Poder, pode ser enquadrada dentro do escopo analítico da Teoria das Elites, ou seja (i) se a noção de estamento burocrático converge para a noção de Elites políticas, e (ii) até que ponto as ideias apresentadas em Os Donos do Poder se afasta ou reproduz o conteúdo normativo exposto pelos autores elitistas. Para tanto, o trabalho se estrutura da seguinte forma: após esta introdução, será apresentada uma breve revisão sobre o percurso teórico que conformou o pensamento elitista, passando pelas Teorias das Elites clássicas (Vilfredo Pareto, Gaetano Mosca e Robert Michels), chegando até ao elitismo contemporâneo (Joseph Schumpeter, Robert Dahl e Giovanni Sartori). Na seção seguinte, a partir da noção weberiana de estamento burocrático e sua aplicação para o caso brasileiro, traça-se um paralelo entre a perspectiva faoriana e o elitismo descrito na seção que a antecede. Finalmente, seguem-se as considerações finais em que se apresentam duas conclusões: primeiro, que a noção de estamento, tal qual exposta por Faoro, não converge, necessariamente, para o conceito de elites; e, segundo, que ainda que as categorias e conceitos guardem diferenças, o conteúdo normativo da abordagem faoriana se assemelha àquele propalado pelo elitismo pluralista.
Notas para pensar a presença ibérica na obra de José Saramago
Convergência Lusíada, 2023
Este artigo pretende refletir sobre o significado da questão ibérica em obras de José Saramago, sobretudo acerca da forma como essa perspectiva colabora para uma análise densa dos sistemas totalitários que ocuparam Portugal e Espanha por longo período e de como o imaginário por eles construído ainda se apresenta como um paradigma a ser questionado. Nesse sentido, indicará formulações presentes, por exemplo, em O Ano da Morte de Ricardo Reis (1984), A Jangada de Pedra (1986) e n'As Pequenas Memórias (2006), compreendendo que o reiterado exercício crítico do autor propôs, com vigor, uma problematização das identidades culturais ibéricas e da forma como tais identidades dialogaram com as existentes em outros espaços geopolíticos. Destina-se, assim, a pensar o transiberismo de uma forma ampla, percebendo que, por meio dele, Saramago estabeleceu uma análise sociocultural dos distintos enlaces estabelecidos pelos países ibéricos, valorizando as tensões e o forte dinamismo presente no agenciamento de tais relações.