Quatro movimentos com Mineirinho, de Clarice Lispector (Texto) (original) (raw)
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O desejo de exceção: reflexões marginais sobre “Mineirinho” de Clarice Lispector
ANAMORPHOSIS - Revista Internacional de Direito e Literatura
O Brasil vivencia uma escalada dos discursos que clamam por medidas autoritárias com a suposta finalidade de conter a violência social. Com base no texto Mineirinho, de Clarice Lispector, discuto a questão ética que se coloca diante do estado de exceção permanente que se evidenciou, mais uma vez, na recente chacina de Jacarezinho. A tese central consiste em apontar que a exceção é, de fato, desejada, de modo a ensaiar algumas hipóteses para as causas desse paradoxo. O estudo se constitui na articulação entre o direito e a literatura e na filosofia de Giorgio Agamben.
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Terra Roxa e Outras Terras: Revista de Estudos Literários, 2017
O resgate visual, decorrente de uma das ações dos sentidos e recuperada pela memória, pode desencadear sensações diferenciadas em relação a uma imagem específica. Calcado nesta afirmativa, o estudo pretende abordar a visão da escritora Clarice Lispector, ante a morte do bandido carioca Mineirinho e a reconstrução deste fato, em sua crônica, a partir dos relatos e descrições jornalísticas, bem como da imagem de Mineirinho morto, veiculada por alguns jornais da época, na arquitetura de seu discurso que associa, de maneira distinta, a relação análoga entre texto e imagem. Para alcançarmos esta compreensão, somos conduzidos a explorar, através dos mecanismos da linguagem, os processos comunicativos que vão auxiliar a construção dialógica existente entre a produção do discurso literário e sua relação com os recursos psíquicos da memória, em sua atuação de resgate e captação das informações/ imagens, resultante das inúmeras sensações provocadas pela brutalidade das ações, aliadas ao impac...
Literatura e Direitos humanos: algumas notas sobre o "Mineirinho", de Clarice Lispector
Resumo: O presente artigo tem como objetivo analisar o conto Mineirinho, de Clarice Lispector. Publicado em 1962, a narrativa tematiza a história de um conhecido criminoso do Rio de Janeiro dos anos 60 que morreu massacrado pela polícia com 13 balas. Em entrevista a Júlio Lerner, Clarice relembra o conto e diz que qualquer que tenha sido o crime uma só bala bastava, o resto era prepotência e vontade de matar. Nesse sentido, nossa análise visa perceber como a autora trabalha a questão da violência e da desumanização ao refletir sobre a morte da nossa própria humanidade projetada no outro e discutir a construção de uma relação de "empatia imaginada", ou seja, discutimos sobre como os romances (associados a outros objetos culturais e dinâmicas jurídicas e sócio-políticas) atuam de forma consistente num processo que possibilitou a emergência de um exercício de empréstimo de subjetividade ao outro. De modo geral, insistimos ainda que a literatura, enquanto fonte de pesquisa, pode oferecer ao historiador um acesso privilegiado em relação a sensibilidade de uma dada época. Clarice Lispector, escritora atenta às dinâmicas sociais de seu tempo, pode ser, assim, uma interlocutora importante para se pensar não só as questões do passado, mas sobretudo as do presente.
REFLEXÃO SOCIAL EM CLARICE LISPECTOR: UM ESCRITA EMPÁTICA NO CONTO "MINEIRINHO"
Revista de Estudos Acadêmicos de Letras - UNEMAT, 2024
Resumo: Este artigo é uma das produções de nosso projeto de pesquisa intitulado "Vulnerabilidades retratadas na literatura brasileira" e busca revelar o aspecto de fortemente social do conto "Mineirinho" da escritora brasileira Clarice Lispector. Nossa análise para este artigo é qualitativa e nossa pesquisa para tal foi através de uma bibliografia coerente com a vida e obra de Lispector e alguns aspectos sociais brasileiros. Os resultados deste trabalho revelam uma Clarice Lispector preocupada com a brutalidade da morte de Mineirinho e com a chocante desigualdade social e a violência institucionalizada no Brasil, além de pensar refletir profundamente sobre a humanidade e as questões éticas desses nossos tempos brutais. Em sua escrita de "Mineirinho" ela se coloca com empatia em relação ao "marginal" (aquele fora da centralidade, mas nas margens sociais) e perplexa diante da violência policial exagerada (revelada pela quantidade de tiros disparados).
A concepção utilitarista da objetivação do outro na crônica “Mineirinho”, de Clarice Lispector
Anais do CIDIL, 2016
RESUMO: O presente artigo visa à análise da crônica Mineirinho, de Clarice Lispector, sob a ótica utilitarista do Direito Penal e suas consequências contratualistas. Na crônica, publicada na Revista Senhor em 1962, Clarice Lispector manifestou sua indignação em relação ao violento assassinato de um criminoso considerado por muitos um justiceiro. A execução de Mineirinho, que foi respaldada pelo Estado por meio de uma ação policial no Rio de Janeiro e relatada pela mídia como uma vitória em prol de uma ideológica paz social, levou a autora a uma profunda reflexão sobre a necessidade de criticar a posição e a "objetificação" do outro pelo sistema penal. Pela análise, observa-se que a literatura emerge como uma forma de promoção do debate sobre as verdadeiras facetas dos conflitos sociais e como as ações institucionais do Estado visam solucionar tais conflitos para a construção de um direito justo e humanizado.
Clarice Lispector e a voracidade
outra travessia, 2009
O presente trabalho se dedicará a analisar quatro questões relacionadas nos textos de Clarice Lispector: o significado da comida e a voracidade no ato de comer (que dará lugar ao canibalismo e ao antropofagismo), a questão do olhar (tomando forma de voyeurismo) e a representação do grotesco. Todas estas questões são encontradas em "O jantar", conto publicado no livro Laços de família (1991). Este conto servirá como base para dialogar e relacionar com outros textos da escritora, através de uma leitura comparativa dos temas citados acima. Palavras-chave: voracidade; antropofagia; voyerismo; grotesco.
A alusão: um movimento de escrever e ler em Água Viva de Clarice Lispector
2016
RESUMO: Neste artigo, discutimos a alusao sob uma nova perspectiva teorica, em que ela deixa de ser uma figura de linguagem menor e assume um lugar de mediadora entre o linguistico e o discursivo. Nessas condicoes, a alusao constitui-se em uma estrategia de ler e escrever que permite ao leitor e ao autor um movimento ininterrupto, linear, mas tambem em espiral, entre o dentro e fora. O movimento de ir, vir e devir impulsionado pela alusao possibilita a construcao do sentido, quando revela, atraves das categorias da metafora e da metonimia, do dito/nao-dito/ausencia/presenca, da memoria discursiva e da intertextualidade, o jogo alusivo construido pelo autor e pelo leitor em Agua viva , de Clarice Lispector, tornando-se, dessa forma, o projeto de leitura e escrita da obra, bem como e a propria metodologia do presente artigo. Assim, trazemos uma discussao ainda recente sobre o fenomeno de ler e escrever na contemporaneidade.
A Revolta Voluntária Do Tradutor Ruivo: Verter “Tentação” De Clarice Lispector
2012
Em tempos de fervor clariceano na esteira de badalada biografia da mais peculiar das autoras brasileiras e de uma nova leva de traduções de sua obra em língua inglesa 1 , parece adequado refletir sobre a tarefa de vertê-la, vertendo-a. O conto "Tentação" oferece amplas oportunidades para esta reflexão, pois apresenta traços estilísticos e desafios à tradução bem típicos da autora, além de por em jogo temas constantes na obra de Lispector: "a busca da identidade, a solidão, o acaso" (DARIN, 2000, p. 73). Ele relata um encontro fortuito entre uma menina ruiva e um cachorro, um basset, igualmente ruivo. Bem ao gosto da autora, o texto todo se passa no mais absoluto silêncionenhum som, nenhum latido, nenhuma palavra. Os dois protagonistas não se cumprimentam, nem se abraçam; apenas se olham, comunicam-se por silencioso olhar num instante tão intenso que apaga tudo à sua volta e suspende o tempo: "Eles se fitavam profundos, entregues, ausentes de Grajaú" (LISPECTOR, 1994). Em seguida, o cachorro rompe o elo tênue e segue seu caminho até dobrar a esquina e sumir, deixando a menina pasma. Como de costume nos contos de Clarice Lispector, o bicho mostra-se mais forte, mais seguro de si que os humanos, acometidos que são de embaraços, contradições e dúvidas. Mais que um relato, uma estória, trata-se de uma epifania na tradição do conto moderno estabelecida por James Joyce 2 , certamente reforçada em Clarice Lispector pela leitura de Katherine Mansfield e Rosamund Lehmann. Ambas eram caras à brasileira, ambas adeptas de narrativas epifânicas nas quais, como no caso de "Tentação", "o episódio mais banal é capaz de produzir a intuição mais profunda e dramática-o momento vital em que o tempo para e nossa existência cotidiana se despe das camadas confortáveis e convencionais para deixar a pessoa só na solidão da sua consciência e da sua personalidade" 3 (PONTIERO, 1972, p. 17). Como nos contos de Dubliners e Primeiras estórias, nada acontece, mas o não-acontecimento é revelador para a menina e, quem sabe, para o basset. Nesse momento de intensa interação, "motivos humanos se revelam com franqueza assustadora: nossa fome insaciável de possuir e de ser possuído" 4 (ibid., p. 20) expressa no conto pelo comentário: "Entre tantos seres que estão prontos para se tornarem donos de outro ser, lá estava a menina que viera ao mundo para ter aquele cachorro". E, logo adiante: "Sabe-se também que sem falar eles se pediam. Pediam-se, com urgência, com encabulamento, surpreendidos" (LISPECTOR, 1994). Leila 1 Refiro-me aqui à biografia de Clarice Lispector escrita por Bernard Moser (Why this world: a biography of Clarice Lispector. Oxford: Oxford Univeristy Press, 2009) e traduzida para o português (Clarice, uma biografia. Rio de Janeiro: Cosac Naify, 2011), que teve calorosa recepção nas duas línguas. O próprio Moser agora coordena um projeto de tradução e/ou re-tradução para inglês da obra de Clarice, inclusive os contos completos, por considerar que fora mal servida pelas traduções já publicadas até por tradutores do porte de Gregory Rabassa e Giovanni Pontieiro, opinião secundada pelo crítico e tradutor de Machado, John Gledson. Ver "Para inglês entender", Carta Capital, ano XVII, n. 671, 9 nov. 2011, p. 82-94. 2 Ver Stephen Hero e A portrait of the artist as a young man, de James Joyce.
A análise do conto “a menor mulher do mundo” de Clarice Lispector
Revista do Instituto de Políticas Públicas de Marília, 2018
O objetivo do texto é analisar o conto “A menor mulher do mundo” de Clarice Lispector sob a vertente do Materialismo Histórico e Dialético, em específico, as características do feminino no conto e sua relação com a categoria dialética conteúdo e forma. A Literatura em seu processo histórico-social demonstra por meio de suas personagens as transformações sociais de pensamentos, comportamentos, que refletem os anseios e as necessidades da sociedade em momentos pontuais. Na literatura brasileira esse processo também ocorre e pode servir de alicerce histórico e social ao leitor. No caso das personagens femininas, as transformações podem evidenciar o caráter discriminatório sofrido pela figura da mulher em diferentes âmbitos: social, político, religioso, cultural, psicológico, econômico, histórico. A análise do conto busca evidenciar o papel social da mulher no contexto de produção da narrativa, tendo como parâmetro o método dialético de Marx, cuja transformação da realidade prima pela c...