O MEDO DA LITERATURA ESCRITA POR MULHERES: A EXISTÊNCIA NEGRA FEMININA AMAZÔNICA GUIANENSE NA REPÚBLICA FRANCESA IN: V. 3, N. 1 (2022) ANAIS DO SIMPÓSIO DE POESIA CONTEMPORÂNEA DE AUTORIA FEMININA (original) (raw)

A Guiana Francesa e a França Hexagonal possuem relações muito próximas devido ao processo de departamentalização realizado em 19 de março de 1946, pela lei n° 46-451 da Constituição francesa. Atualmente, o território guianense é, portanto, regido pela V República Francesa elaborada em 1958. É importante salientar que não são somente relações geopolíticas, econômicas, culturais, linguísticas e epistemológicas que institui a Guiana enquanto território francês ultramarino, visto que a estrutura social opressora e colonial que considera raça, classe e gênero como elementos constituintes da base dessas relações ainda sustenta toda a complexidade social guianense. Além disso, a República francesa também permite, por meio da colonialidade, ou seja, de maneira não explicita na lei, a dualidade entre cidadão francês e o “Outro”, o estrangeiro da própria nação, aquele que é impelido a espaços pautados pela outridade, subalternização e silenciamento. Dessa maneira, objetiva-se com este trabalho refletir, por meio da obra de Françoise Loe-Mie, como se dá a relação colonial ainda existente entre as regiões francesas hexagonal e amazônica ao evidenciar como a voz lírica dos poemas de Loe-Mie constrói a identidade guianense pautada na diáspora. Isto posto, pretende-se, por meio de um olhar decolonial, realizar uma leitura crítica dos poemas “Exílio infantil I” e “Exílio infantil II” presentes na obra Poesia pimenta, cravo e canela (LOE-MIE, 2004) e compreender como o “Outro”, muitas vezes, se corporifica nas subjetividades de mulheres negras guianenses.