Moeda e Estado: políticas monetárias e determinantes da procura (1688-1797) (original) (raw)

A Procura de Moeda em Portugal Segundo a Abordagem de Johansen

Estudos de Economia, 1998

A fungao procura de moeda (FPM) fornece a ligagao entre as variaveis reais e monetarias numa economia, sendo por isso importante para a definigao e avaliagao da polftica monetaria. A fundamentagao te6rica da FPM tern assentado nos motivos sugeridos por Keynes para guardar moeda: transac9ao, especulagao e precaugao, tendo as diversas teorias enfatizado um ou outro destes aspectos. Enquanto as teorias de transacgao (TT) entendem a moeda como um meio de troca, sendo por isso uma fungao crescente do volume de transacg6es, as teorias de carteira (TC} veem a moeda como um activo entre outros, sendo uma forma alternativa de guardar riqueza. Cada activo apresenta um rendimento explfcito (associado a um determinado grau de incerteza) e alguns servigos implfcitos. No caso da moeda, um desses servigos podera ser a facilidade nas transacg6es, mas existem outros, como a liquidez ou a seguranga. Os indivfduos escolhem a composigao da sua carteira de activos (moeda e outros) de forma a maximizar os rendimentos esperados, procurando um equilfbrio entre a rentabilidade e o risco. As teorias Buffer-Stock (BS) distinguem claramente entre FPM de Iongo prazo e de curto prazo. Enquanto a primeira possui determinantes iguais aos das teorias anteriores, a segunda compreende uma componente temporaria (desequilfbrio), a qual absorve a curto prazo aumentos inesperados na oferta de moeda (resultantes da polftica monetaria), adiando os ajustamentos nas variaveis reais, que tern custos. Em termos gerais, considera-se que a procura de moeda a Iongo prazo e uma fun<;ao crescente do nfvel de pregos e de uma variavel de escala, usualmente o rendimento, e decrescente do custo de oportunidade lfquido. Estas componentes serao medidas por variaveis diferentes, atendendo a teoria aceite a priori. 0 agregado monetario representativo do conceito de moeda sera mais (*) Agradece-se a colabora9ao do Dr. Carlos Robalo Marques, Banco de Portugal, na ob-ten9ao dos dados e amaveis sugest6es, bern como os comentarios de dois consultores an6nimos que muito aiudaram a melhorar este artigo.

A Lei de cunhagem de 4 de agosto de 1688 e a emissão de moeda provincial no Brasil (1695-1702): um episódio da história monetária do Brasil

Revista de Economia Contemporânea, 2005

O objetivo central deste trabalho é examinar os motivos que levaram à cunhagem de moeda provincial no Brasil a partir da instalação, entre 1695 e 1702, de uma casa da moeda "itinerante" com esse exclusivo propósito. A seção 1 do trabalho analisa as principais características da circulação monetária no Brasil na segunda metade do século xvii. A seguir são descritos os impactos da Lei de Cunhagem de 4 de agosto de 1688, incluindo os chamados "motins da moeda". Na seção 3 comenta-se a visão das autoridades coloniais sobre as causas e conseqüências da falta de moeda, assim como suas propostas para solucionar o problema. Segue-se uma breve análise das atividades da Casa da Moeda nas cidades em que operou. A última seção resume os argumentos apresentados ao longo do trabalho.

Oferta e demanda de moeda metálica no Brasil colonial (1695-1808)

História Econômica & História de Empresas , 2021

Este trabalho contesta duas hipóteses, recorrentes na literatura, relativas à circulação monetária no Brasil colonial: (i) havia escassez de moeda metálica; e (ii) o sistema monetário era “caótico” em razão da circulação simultânea de moedas nacionais e provinciais com diferentes valores para o ouro e a prata. Após descrever resumidamente as transformações ocorridas no sistema monetário colonial desde o final do século XVII até meados do século seguinte, são apresentadas novas estimativas da oferta de moeda nacional de ouro para o período 1762-1807, utilizando dados até aqui inéditos sobre a remessa de moedas de ouro do Brasil para Portugal disponíveis nos Livros de Receita e Despesa do Erário Régio. Segue- -se uma análise da circulação de moeda provincial e de sua produção nas casas da moeda da colônia e na de Lisboa, assim como de sua distribuição regional. Os dados levantados, assim como a análise da documentação, indicam que as moedas nacionais de ouro, apesar de referidas como “dinheiro de remessa”, circulavam cada vez mais internamente, enquanto as moedas provinciais se espalharam por toda a colônia exercendo principalmente o papel de moeda de troco no “comércio interior”.

Moeda e troca na constituição moderna

Money and exchange in the modern constitution This paper provides an interpretation of the classical conception of money as a neutral instrument for pure market exchanges, based on the concept of constitution as proposed by Bruno Latour in Nous N'Avons Jamais Été Modernes. The aim is to support the hypothesis of an association between the epistemic constitution of modernity and monetary orthodoxy, as this modern conception also postulates an autonomous sphere of mercantile exchange. In the end, questions are raised concerning a possible renewal of the conception of money so as to correspond to a constitution that would overcome the limits of the modern form.

As moedas e o mapa: fiscalidade e representação política no processo de criação de províncias no Brasil Império, primeira metade do século XIX.

Antíteses, 2016

Foram vários os temas de ordem política e econômica apresentados como base argumentativa dos discursos proferidos ao longo dos processos decisórios que culminaram com a criação das províncias do Amazonas e do Paraná, em meados do século XIX. Dentre estes a fiscalidade surgiu com acentuada importância, tendo sido abordado tanto por aqueles que defendiam uma nova organização territorial do Império mediante a criação destas novas províncias, quanto dos que se opuseram a estas propostas. O objetivo deste artigo é, por um lado, apresentar este elemento como indicador da importância da problemática da organização territorial do império como objeto histórico e, por outro lado, como um instrumento privilegiado para alcançar a compreensão do processo de construção e consolidação do Estado nacional monárquico.

Oferta e demanda de moeda metálica no Brasil colonial (1695-1807)

História Econômica & História de Empresas, 2021

Este trabalho contesta as hipóteses de que, no Brasil colonial, havia escassez de moeda metálica e que o sistema monetário era “caótico” em razão da circulação simultânea de moedas nacionais e provinciais com diferentes valores para o ouro e a prata. Apresentamos novas estimativas da oferta de moeda nacional de ouro para o período 1762-1807, assim como da produção e distribuição regional de moeda provincial. Os dados levantados, assim como a análise da documentação, indicam que as moedas nacionais de ouro, apesar de referidas como “dinheiro de remessa”, circulavam cada vez mais internamente, enquanto que as moedas provinciais se espalharam por toda a colônia exercendo principalmente o papel de moeda de troco no “comércio interior”. Palavras-chaves: moeda metálica; moeda provincial; história monetária; Brasil colonial

"Uma pax monetaria"? Impasses do sistema monetário português no tempo dos Filipes (1580-1640)

Revista Topoi, 2020

RESUMO No século XVII, o fenômeno monetário era central para o entendimento da economia, notadamente no Mundo Ibérico, onde os fluxos de metais americanos exigiam uma posição sobre seu impacto nas atividades mercantis e produtivas, e na sua articulação com o comércio ultramarino e a gestão das economias coloniais. Este trabalho procura entender os impasses da política monetária filipina para o reino e o Império de Portugal. A União de 1580 manteve, além das "leis, estilos, liberdades, isenções, casa Real e ofícios" da Coroa portuguesa, a moeda com cunho português. Assim, Filipe II permitia que o seu direito exclusivo (regalia) de cunhar a moeda fosse interpretado na mesma chave da conservação da identidade econômica e jurídica de Portugal. Durante todo o período, os Filipes não alteraram o valor da moeda portuguesa, estabilizando o câmbio do real em relação às outras unidades de conta europeias. A chegada em grande quantidade da prata americana, por outro lado, permitia a expansão do meio circulante de Castela, que acabou, no período, intoxicando o meio circulante português. Esse arranjo instável coloca as bases para a transformação que se seguirá no período da Restauração, com sucessivas mutações monetárias. ABSTRACT In the seventeenth century, the monetary phenomenon was central to the understanding of the economy. Notably, in the Iberian World, where the flows of metals of America demanded a position on their impact on the mercantile and productive activities, and their articulation with the overseas trade and the management of the colonial economies. This work tries to understand the dilemmas of the monetary policy of the Habsburgs for the kingdom and the Empire of Portugal. The Union of 1580 maintained, in addition to the “laws, styles, freedoms, exemptions, royal house and offices” of the Portuguese Crown, the Portuguese currency. Thus, Philip II allowed his exclusive right to coinage to be interpreted in the same key of the conservation of the economic and juridical identity of Portugal. Throughout the period, the Philips did not change the value of the Portuguese currency, stabilizing the exchange rate of the real against the other European units of account. The large arrival of American silver, on the other hand, allowed the expansion of the monetary mass in Castile that ended up intoxicating the Portuguese circulating medium. This unstable arrangement puts the foundations for the transformation that will follow in the Restoration period, with successive monetary devaluations.

Moeda, Mercadoria e Crise Mercantil: os debates econômicos na Inglaterra durante a década de 1620

The study proposes to investigate the economic ideas which came to light in early 17th century England from the standpoint of a specific historical episode: the great commercial crisis which took hold of the kingdom between approximately 1619 and 1623. The urge for understanding the phenomena behind the crisis gave rise to a great amount of public debates which culminated in the creation of some of the period’s most representative economic literature – in particular the works of Gerard de Malynes, Edward Misselden and Thomas Mun. The interpretation of such works as part of a historiography of mercantilism ends up obscuring important parts of their true historical meaning, which is lost amidst the systematization effort. The perspective here assumed seeks to place ideas in their proper context, taking into consideration the impact of short- and long-term underlying conditions but without falling back into mere historical determinism; the evolution of ideas is seen as the result of discursive interactions which occur in the public sphere – circumscribed by a discursive context, but still retaining a space for self-determination. Initially, the study recovers the material and institutional conditions which characterized early modern England, describing next the socio-political and economic scenario prevalent during James I’s reign (1603-25). After that, the analysis shifts to the economic reasoning of the period and the evolution of the public debates surrounding the crisis, seeking to understand in detail the processes of change and of dissemination of ideas, and concluding that the peculiar traits of the economic literature which was then produced are directly related to the dynamics which the debates assumed. Finally, the episode is briefly located within an ampler historical perspective.