O lógos dos polloí no argumento de Gláucon (original) (raw)

O Contrato de Gláucon / Glaucon's Contract

O Livro II da República de Platão se inicia com um desafio de Gláucon para Sócrates, onde este deve provar que o homem justo é, de toda maneira, melhor do que o injusto. Para isso, pedirá que Sócrates defenda a justiça por si mesma e censure a injustiça. O discurso de Gláucon pode ser dividido em três partes, sendo a primeira dedicada à origem e à natureza da justiça; a segunda irá indicar a justiça como algo necessário, mas não como um bem; e a terceira, na qual ele irá tentar provar que a vida do injusto é melhor do que a do justo. Neste trabalho, iremos nos centrar em seu primeiro argumento e de que maneira Gláucon defende a justiça através de um contrato. The Book II of Plato’s Republic opens with Glaucon’s challenge to Socrates where the latter must prove that the just man is in all ways possible better than the unjust one. To this, he will ask Socrates to advocate justice itself, and to censor injustice. Glaucon’s speech can be divided in three parts, being the first dedicated to the origin and nature of justice; the second will point out justice as something necessary, but not as a good; whilst in the third he will try to prove that the unjust life is better than the just one. This work aims to focus on his first speech and in how does Glaucon defend justice through a contract.

De alguns galináceos na obra de Clarice Lispector

Língua-lugar : Literatura, História, Estudos Culturais

A história mais curta da coletânea Laços de família, “Uma galinha”, oferece uma versão condensada do universo literário de Clarice Lispector, cujo potencial semântico e simbólico sugerimos que se desenvolva cruzan- do-o com a crônica “Uma história de tanto amor” (10 de Agosto de 1968). E se o diálogo entre uma menina e algumas galinhas reiterasse a ofensiva antropofágica de Oswald de Andrade? A não ser que se trate de rito mágico, de sacrifício, de redenção ou de ressurreição.

A retórica platônica no diálogo Górgias

Revista Ética e Filosofia Política, 2022

A presente pesquisa busca refletir, a partir do Górgias de Platão, sobre a controversa estratégia que Sócrates utiliza para desqualificar a retórica sofista, definida por ele como uma falsa tékhne no âmbito da justiça. Surpreende neste diálogo a intensa carga dramática aplicada por Platão nas refutações de Sócrates contra as convicções de Górgias, Polo e Cálicles, combinando recursos retóricos, a fim de levá-los à contradição e, assim, “vencer” o debate. O uso da makrologia, da crítica ad hominem, de uma terminologia ambígua e, claro, da vergonha que suscita em seus oponentes, nos apresentam uma face singular do elenchos socrático, que desperta diretamente os protestos e a hostilidade por parte de Polo e Cálicles. Mas o que justifica a forte carga dramática platônica que aproxima a habitual retórica sofista do método usado por Sócrates? O estudo aqui apresentado, apoiando-se no cruzamento tanto das leituras textuais e subtextuais, como das argumentativas e dramáticas no Górgias, vê na genialidade literária platônica um lugar de destaque para uma articulação de sua prática discursiva com a mesma sofística que ele combatia, e que o teria levado à arena do visceral embate político ateniense.

O PERCURSO DO LÓGOS EM GÓRGIAS DE PLATÃO: DO DIÁLOGO AO ANÁLOGO

Em Górgias, Platão descreve Sócrates dialogando com o personagem homônimo na expectativa de que este defina e delimite bem a atividade que ele exerce: a retórica. Para que esta definição seja obtida, Sócrates dialoga. No entanto, ao longo do diálogo, o filósofo insistentemente compara a retórica com diversas outras atividades até que toda esta comparação realizada se consagra na “fala dos geômetras”: uma fala cuja natureza é explicitamente analógica. Procedendo assim, através de um diálogo comparativo que por fim se consolida sob a forma do que é análogo, o filósofo consegue definir a natureza de cada atividade pelos limites que elas mesmas possuem e compartilham em comum, demonstrando o perímetro e o lugar muito próprio que cada uma exerce e ocupa dentro deste campo que é o território próprio do λόγος, onde os diversos discursos emergem e se diferenciam. Estando a demonstrar através da fala analógica dos geômetras os limites e as fronteiras que estas atividades compartilham em comum, o filósofo está, nada mais, nada menos do que agindo como um legítimo geômetra, já que a geometria desde a sua origem é aquela arte que por excelência se ocupa em estabelecer limites e fronteiras. Portanto, no diálogo Górgias, Sócrates procede como um geômetra: ao dialogar, compara; ao comparar, estabelece analogias; ao estabelecer analogias, demonstra os limites que as atividades têm entre si e que ao mesmo tempo as definem mutuamente. Eis o propósito deste artigo: descrever como este procedimento se realiza ao longo desta obra, particularmente no que tange ao modo como o λόγος caminha e avança na forma do diálogo até se constituir na forma do análogo.

O Percurso Argumentativo do Lísis de Platão

Este artigo propõe uma análise da estrutura discursiva do diálogo Lísis de Platão a fim de evidenciar o seu caráter psicagógico. Nesse diálogo, Sócrates discute com dois garotos, Lísis e Menêxeno, sobre a natureza da amizade e procura mostrar a eles como se empreende uma discussão na busca pelo conhecimento. Para tanto, Platão compõe uma intrincada argumentação da qual podemos depreender duas camadas de sentido: uma elocução que dirige-se aos interlocutores e outra aos leitores, ainda que em alguns momentos elas estejam entrelaçadas. Ademais, o presente texto apresenta também como a aporia relaciona-se com a intenção pedagógica do diálogo e está intimamente ligada ao procedimento argumentativo.

A vergonha filosófica contra a adulação retórica no "Górgias" de Platão

Journal of Ancient Philosophy, 2019

In this article I intend to show how three different aspects of the Gorgiasare interconnected: (1) Thecriticism towards Athenianrhetoric and pleasure versus the defense of a philosophical way of life, expressed through Socrates' theses and discussions with his interlocutors; (2) The dialogue's dramatic background and the refutations of Socrates' greedy interlocutors through shame;(3) Socrates' long discourses at the end of the dialogue, in whichhe admits the possibility of a good rhetoric and narrates how a punitive system would work in the afterlife. In order to do so, I first highlight Socrates' rebuttalof the relations between rhetoric and knowledge as well aspleasure andgood through the inversion of common Athenianvalues(I). Secondly, I analyze how the dramatic devices of the dialogue function to show Socrates shaming his interlocutors(II and III). Finally, by analyzing the final myth and Socrates' final speeches(IV and V)I propose a new interpretation to the obscure suggestions of a good rhetoric in the final part of the dialogue: in the good rhetoric exhibited by Platoin the Gorgias, pleasure and adulation are substituted by the production of pain and shame.