UTOPIA DA LIBERDADE EM NIKETCHE, DE PAULINA CHIZIANE (original) (raw)
Resumo Niketche constitui um tesouro de saberes tradicionais, sobretudo provérbios, a partir dos quais a autora procura demonstrar à sociedade, como estes saberes eternizam o sofrimento da mulher, numa sociedade em que ser mulher, é ser condenada a uma vida recheada de “histórias de espinhos”. Neste artigo, faz-se uma análise sociológica na qual procura-se compreender o valor social das falas das personagens, dos papéis de género com o objectivo de aferir como os provérbios e mitos constróem as diferenças baseadas no sexo ou género. Tony é acusado de não cuidar dos filhos, mergulhando as famílias num caos social profundo. Mas este comportamento é consequência do adultério que caracteriza a vida de Tony. Ao lado dessa realidade, estão os provérbios populares que enfatizam a aporia: “mamas caídas, não pego”; ou “na capoeira, quem canta é o galo”. Estes provérbios cristalizam no universo diegético do romance, cenários humilhantes contra mulheres como os casos em que o homem tem mais de uma esposa e ainda se prostitui, a mulher se mantêm num eterno silêncio, porque desde a infância, à mulher nunca lhe foi ensinado o amor próprio, a amar-se e a respeitar-se, mas sim a respeitar o estado quo estatuído, o da obediência aos homens, facto que solidifica as hierarquias sociais, colocando a mulher sempre à margem da sociedade. Com isso, o romance denuncia e reivindica a forma como se pensa o “ser mulher africana”, alertando para a construção de utopias de um mundo em que ser mulher não será sinónimo de subalternidade. Palavras-chave: Utopia, liberdade, Niketche, Paulina Chiziane.