Heidegger e o Fim do Mundo (original) (raw)
A comunicação que aqui pretendemos apresentar situa-se, em certa medida, na continuação de um outro estudo que, há meses, apresentámos no II Congresso Internacional da Associação Portuguesa de Filosofia Fenomenológica, 1 e cujas conclusões é imprescindível retomar aqui. Um tal estudo procurou abordar o conceito de vida no pensamento de Martin Heidegger, interrogando-se acerca da razão pela qual, depois de admitir, em Sein und Zeit, que a vida é acessível através do Dasein, encontrando-se, portanto, nele, embora não determinando o seu modo de ser, Heidegger separa de forma crescente a vida e o humano até chegar às formulações de Brief über de n »Humanismus«, ou seja, até chegar à afirmação de que o corpo humano está separado do corpo animal por um abismo e de que o homem, enquanto Da-sein ou "aí" do ser, está mais próximo de um deus que de um ser vivo (Lebewesen). No estudo que propusemos, concluímos que Heidegger recusa de um modo crescente qualquer "contaminação" do Dasein pela vida em função de duas razões principais: por um lado, o contacto intenso com o pensamento de Ernst Jünger, sobretudo a partir da publicação de Der Arbeiter, em 1932; por outro lado, a confrontação com o nacionalsocialismo emergente. A publicação, em 2004, do volume 90 das Gesamtausgabe possibilita documentar até que ponto se estende a relação do pensamento de Heidegger com Jünger, a partir dos anos 30. Para Jünger, a vida é o modo mais completo da mobilização total (totale Mobilmachung), num processo 1 A Vida e o Humano em Heidegger: a ontologia heideggeriana na aurora de uma biopolítica.