A Crítica Fenomenológica e Dialética Da Psicanálise Em Sartre (original) (raw)

Fenomenologia e psicopatologia em Sartre: "irreal normal" e "irreal patológico"

Revista TRANS/FORM/AÇÃO, 2019

Resumo: Este artigo pretende investigar a maneira pela qual o filósofo francês Jean-Paul Sartre en-quadra, em sua psicologia fenomenológica da imaginação, a problemática acerca do irreal normal e do irreal patológico. Estruturando psicofenomenologicamente a atividade da consciência imaginante, será possível ver que a imagem (consciência imaginante) difere radicalmente da percepção (consciência perceptiva), mas ambas permanecem, contudo, consciência intencional. Nessa toada, cabe a indaga-ção: se toda consciência imaginante é consciência intencional (o que significa, igualmente, que ela é consciência de si mesma), como enquadrar as experiências alucinatórias? Abstract: The aim of the present article is to investigate how the French philosopher Jean-Paul Sartre understood, in his phenomenological psychology of the imagination, the problematic of the “normal unreal” and the “pathological unreal”. By psycho-phenomenologically structuring the activity of the imaginative consciousness, we can see that the image (imaginative consciousness) differs radically from perception (perceptive consciousness), but both remain intentional consciousness. In this context, it is necessary to ask the following question: if all imaginative consciousness is intentional consciousness (which also means that it is self-consciousness), how can we frame hallucinatory experiences?

Sartre e a Fenomenologia Do Opressor

Kínesis - Revista de Estudos dos Pós-Graduandos em Filosofia, 2021

No texto A violência revolucionária, Sartre traça um projeto de fazer uma fenomenologia do senhor/opressor baseado nos eventos históricos da escravidão dos negros nos Estados Unidos da Américas e na exploração do operariado europeu no período colonial e do capitalismo industrial. Este texto inacabado e publicado como o apêndice II dos Cadernos para uma moral (1983) apresenta a análise parcialmente histórica da situação de opressão do homem negro escravizado nos E.U.A e um esboço da situação operária europeia para fins de comparação a partir de categorias filosóficas. Pretendemos neste artigo abordar e aprofundar a perspectiva inacabada sartriana de uma fenomenologia do opressor utilizando o seu levantamento feito acerca da situação escravagista norte-americana e operária em conjunção à ontologia fenomenológica encontradas em O ser e o Nada (1943) e nos Cadernos para uma moral. Acreditamos que para constituirmos esta fenomenologia do opressor as condutas de má-fé, a noção de violênci...

Psicologia Fenomenológica, Psicanálise existencial e possibilidades clínicas a partir de Sartre

Estud. pesqui. psicol., Rio de Janeiro, v. 12, n. 3, p. 706-723, 2012., 2012

This paper aims to clarify the precise scope in which three distinct fields of consideration of Sartre's thought, to the world of psychology, are constituted. Firstly, the field of a Sartrean phenomenological psychology, particularly extended in the initial phenomenological investigations of Sartre. Second, the scope of a scheme for an existential psychoanalysis as an alternative and a response to Freudian psychoanalysis. Finally, the idea of a clinical practice inspired by Sartre's thought. It is critical to carry out these boundaries, overcoming misunderstandings, and encourage a caring and dialoguing attitude, especially with regard to aimed consequences to the idea of a clinical practice inspired on Sartre. In fact, this clinical practice from a sartrean perspective can only be build up based on the heuristic exploration, by the relationship between discovery and invention, of the legacies that Sartre has left in the form of an original phenomenological psychology and of an existential psychoanalysis.

Sartre e a psicanálise existencial: apontamentos sobre o caso Jean G

Revista Natureza Humana, 2018

Este artigo pretende compreender a noção de psicanálise existencial, tal como proposta por Jean-Paul Sartre em O ser e o nada, em sua relação com as estruturas ontológicas do Para-si e também com a biografia sobre o escritor Jean Genet, escrita por Sartre. Veremos que se trata de realizar, por meio de um método elaborado na psicanálise existencial, aquilo que a ontologia descreve, mas é, por si própria, incapaz de realizar: a compreensão de uma pessoa (Genet, no caso do artigo) em sua relação específica com os outros e com as facticidades do mundo.

Fenomenologia e Psicologia fenomenológica em Sartre: uma arqueologia dos conceitos

2013

Este trabalho pretende investigar a passagem da fenomenologia à psicologia fenomenológica em Jean-Paul Sartre. Para esta lida, analisar-se-á conceitos presentes em La transcendance de l'Ego, Esquisse d'une théorie des émotios, L'Imagination e L'Imaginaire. Da primeira obra fenomenológica, procuraremos restituir o corolário fundamental da consciência, a saber: a intencionalidade. Isso feito, procuraremos, em Esquisse, identificar as possíveis diferenças teóricas em relação ao ensaio de 37 quando das análises acerca da consciência emotiva. Ao passarmos para as duas obras seguintes, veremos que a questão da hylé da imagem mental sinalizará uma análise profunda acerca da consciência imaginante. Nosso itinerário, iniciando-se na consciência perceptiva, passando pela consciência emotiva e chegando à consciência imaginativa, pretende identificar, em termos eminentemente fenomenológicos, o que significa afirmar que a intencionalidade é, pari passu, a liberdade radical da consciência. Haveria, nestes termos, lugar para uma passividade nos quadros da fenomenologia sartreana?

A dialetização da vida psíquica: Sartre e sua concepção dialética do vivido (vécu)

Argumentos , 2023

O presente artigo perscruta o modo dialético pelo qual Sartre, desde os anos 1960, aclimata a vida psíquica e o vivido. Para esta lida, realizaremos uma incursão investigativa sustentada por um conjunto de escritos sartreanos deste período, dando especial enfoque sobretudo ao ensaio Questões de método (1957) e à conferência que nosso autor profere em 1961, e cujo título, Marxismo e subjetividade, é revelador da sua tentativa de conciliar o existencialismo e o materialismo histórico à luz de uma dialética existencial. Na sequência, mostramos como a dialetização da vida psíquica, que pressupõe uma antinomia dialética (presença a si e ausência de si), enseja, por parte do filósofo, uma crítica pontual à psicanálise freudiana.

Tensão Na Ontologia Fenomenológica De Sartre – Ou O Equilíbrio Instável Entre O Primado Da Existência Do Mundo e O Primado Do Sentido Da Consciência

Revista Ética e Filosofia Política, 2018

Pretendemos mostrar nesse artigo o método escolhido por Sartre, em O ser e o nada, para tratar de duas regiões distintas que se unem de fato – que é partir da síntese, do modo como no concreto a relação já está dada, sem que, no entanto, essa união de fato signifique uma indistinção de direito entre as regiões. Por isso, se se deve partir da síntese, esta não faz com que Para-si e Em-si se identifiquem e se tornem irreconhecíveis em suas particularidades. O método utilizado por Sartre em sua proposta de ontologia fenomenológica permite compreender como se dá a relação entre mundo e consciência, objetivo e subjetivo, de modo que a união de fato aponte ao mesmo tempo para um lugar distinto de cada elemento, tendo o primeiro uma primazia da existência, e o segundo, uma primazia do sentido – e com ambos convivendo em um difícil, instável e tenso equilíbrio.

SARTRE E A PSICANÁLISE NO ESBOÇO DE UMA TEORIA DAS EMOÇÕES

Resumo: Objetivou-se nesta presente pesquisa analisar a compreensão do filósofo francês Jean Paul-Sartre (1905-1980 acerca da psicanálise no contexto muito específico de sua pequena obra Esboço para uma teoria das emoções (1939). A pesquisa consistiu em investigar a argumentação sartreana na referida obra com a finalidade de compreender como o filósofo francês concebe aí a psicanálise freudiana. Baseando sua compreensão na filosofia fenomenológica, Sartre critica a noção de inconsciente posicionando a invenção de Freud ao lado das psicologias tradicionais. Fundamentalmente, o autor busca romper com o modelo psicológico positivista propondo um novo significado para o inconsciente, um significado propriamente fenomenológico, compreendendo este último como uma espécie de "segunda consciência". Assim, o Esboço antecede, em linhas gerais, a leitura fenomenológica de Sartre a respeito da psicanálise, que encontrará plenitude crítica na famosa quarte parte de seu clássico O ser e o nadaensaio de ontologia fenomenológica (1943). As conclusões da pesquisa apontam para dois aspectos centrais acerca da compreensão sartreana da psicanálise no Esboço: 1) que esta pequena obra de Sartre já contém as linhas fundamentais do que será a sua "leitura fenomenológica" da psicanálise; 2) que justamente a forte influência da fenomenologia na compreensão de Sartre a respeito da psicanálise representa, ao mesmo tempo, a profundidade de sua crítica e os limites epistemológicos de sua compreensão.

Sartre: a tenção dialética entre a realidade e o imaginário

2015

O presente trabalho tem por objetivo elucidar o conceito de imaginário em seu tenso contraste com o a realidade na filosofia de Sartre. Para isso, acompanhamos as situações vividas pelo personagem Roquentin de A Náusea (1938) em sua busca por “salvação”. O protagonista do romance passa a sofrer crises de Náusea a mediada que o mundo real lhe é revelado como contingente. A esperança de “salvação” da contingência surge quando o personagem descobre a possibilidade de construção de uma obra artística imaginária. Há aqui um impasse ontológico-epistemológico: não é possível explicar as coisas reais, não é possível reduzi-las aos limites do pensamento, deve-se então buscar uma saída estética que é a obra imaginária, a história sobre o que não existiu. A questão sobre como o imaginário pode ser uma “salvação” da realidade nos leva ao seguinte problema moral: o imaginário, ao negar o real e produzir o inexistente, não seria uma fuga, uma recusa de enfrentar o mundo em sua contingência? Como veremos, o imaginário é algo muito mais complexo que um mero instrumento de fuga do real