A Questão Do Narrador e as Duas Insustentáveis Levezas Do Ser: No Romance e No Filme (original) (raw)
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O Narrador Autoficcional Na Literatura e No Cinema
Desde a recente virada de século, vimos assistindo à consolidação da narrativa autoficcional não somente na literatura como também no cinema. A partir de romances de Ricardo Lísias (O céu dos suicidas e Divórcio) e Julián Fuks (Procura do romance e A resistência), e dos filmes Histórias que contamos, de Sarah Polley, e Irmãs jamais, de Marco Bellocchio, a proposta deste ensaio é descrever um tipo de narrador não exclusivo das formas literárias e típico da contemporaneidade. À luz dos célebres ensaios de Walter Benjamin, O narrador, e de Silviano Santiago, O narrador pós-moderno, o contador de histórias autoficcional recupera sua experiência para e na narrativa, e não se relaciona com a imagem somente como espectador: a tecnologia e as particularidades da comunicação lhe permitem hoje entrar na mídia e, a partir desta posição, problematizar concepções como as de ficção e realidade, documento e objeto estético, dentre outras.
Entre o acontecido e o narrado: as potencialidades da ficção em dois filmes
Revista Nexi, 2011
Resumo: Este artigo discute diferentes modos de a ficção instituir o real via narrativa. Para tanto, selecionamos Um instante de inocência (Mohsen Makhmalbaf, 1996) e Narradores de Javé (Eliane Café, 2003). Filmes distintos na forma, no conteúdo e na origem, mas unidos por um mesmo movimento: a reconstrução de acontecimentos do passado. O primeiro mostra a retomada de um fato biográfico da adolescência do seu diretor; o segundo, a tentativa de reunir fatos memoráveis de Javé, uma comunidade prestes a ser inundada pelas águas. Por meio da análise dessas obras, pretendemos mostrar como, ao retomar um acontecimento passado, cada filme, a seu modo, ressignifica tal acontecimento por meio da ficção, realizando de modo distinto uma instituição narrativa do real. Palavras-chave Ficção, realidade, cinema, memória. Abstract: This article discusses different modes that the fiction has for institute the real by the means of a narrative. For this, we select A moment of Innocence (Mohsen Makhmalbaf, 1996) and Narradores de Javé (Eliane Café, 2003). Movies distinct in form, in content and in origin, but united by the same movement: the reconstruction of past events. The first shows the reconstruction of a biographical fact of the adolescence of its director, the second shows the attempt to collect remarkable facts of Javé, a community about to be inundated by the waters. By examining these movies, we intend to show how, in order to resume a past event, each film, in its own way, reframes this event through fiction, doing a particular institution of the real by the means of a narrative.
Entre o literário e o fílmico: a questão do narrador em Lavoura Arcaica
2009
A relacao literatura e cinema tem ganhado cada vez mais destaque. Sao frequentes producoes cinematograficas tendo a literatura como fonte. A discussao sobre o quesito fidelidade nao se mantem quando o que esta em jogo sao os possiveis dialogos entre a obra filmica e a literaria. O objetivo deste artigo sera o de apontar como se porta a figura do narrador na traducao filmica da obra Lavoura Arcaica, do escritor Raduan Nassar, feita pelo cineasta Luiz Fernando Carvalho. Atraves de um recurso marcadamente cinematografico: a voz, o diretor criou a impressao de um espaco entre o tempo da narrativa e o da narracao.
O Narrador, a Metalinguagem e O Espelho Refletido
Nucleus, 2003
RESUMO: O presente trabalho teve como objetivo fazer uma breve apresentação de A hora da estrela (1977) de Clarice Lispector. Para tanto, serão evidenciados os procedimentos irônicos e metalinguísticos adotados pela autora e que permitem classificar a obra como moderna. Por se tratar de uma narrativa especular, questões acerca da miseem-abyme também farão parte de nosso estudo.
Entre O Insuportável e O Monstruoso: Uma Análise Sobre “Duas Narrativas” De a Metamorfose
2016
Este trabalho tem por objetivo analisar as narrativas resultantes de duas traducoes distintas da obra A metamorfose, escrita por Kafka no inicio do seculo XX. Deste modo, interessa a reflexao sobre os sentidos produzidos pelas traducoes (e paratextos) de Marcelo Backes (L&PM Pocket) e Celso Donizete Cruz (Hedra). Em outras palavras, nao cabe a este estudo a pretensao de eleger a melhor traducao. Partimos, neste trabalho analitico, de um olhar atento para o modo como as escolhas dos tradutores podem alterar os sentidos (e a intensidade destes) produzidos. Dois fatores sao constitutivos para o inicio do debate: a problematizacao sobre o titulo traduzido na edicao brasileira e o modo como os tradutores optam por descrever o inseto em que Gregor Samsa se transforma, alternando a qualificacao entre o “insuportavel” e o “monstruoso”.
IPOTESI – REVISTA DE ESTUDOS LITERÁRIOS, 2019
A partir das considerações feitas por Walter Benjamin acerca do narrador moderno e no que constitui uma boa narrativa, este artigo busca analisar como a narradora de Insubmissas lágrimas de mulheres (2011), de Conceição Evaristo, é representada. Através de uma análise panorâmica dos contos que constituem a obra, é possível perceber que a construção narrativa se dá pelo entrecruzamento do real com o ficcional e a narradora se coloca como uma ouvinte de histórias que buscam evidenciar as experiências de mulheres a qual se identifica. Palavras-chave: Walter Benjamin. Literatura negra brasileira. Narrativa. Referências ADORNO, Theodor W. Notas de literatura. Tradução Jorge de Almeida. São Paulo: 34, 2012. AUDRE, Lorde. Transformação do silêncio em linguagem em ação. Disponível em http://www.geledes.org.br/a-transformacao-do-silencio-em-linguagem-e- acao/#gs.8EBVThc. Acesso em: 03 fev. 2017. BENJAMIN, Walter. Magia e técnica, arte e política. São Paulo: Brasiliense, 2012. EVARISTO, Conce...
Revista Fragmentum, 2020
Da leitura de Grande sertao:veredas , este trabalho faz uma analise do duplo a partir do narrador-protagonista e o seu interlocutor. Tem como sustentacao teorica o estudo realizado por Nicole Bravo (1998), que analisa o duplo como um mito literario caracteristico da literatura ocidental e defende seu surgimento atrelado a experiencia subjetiva; assim como o estudo do sistema pronominal de Emile Benveniste (1989; 1991): verificaremos como a presenca do duplo no um e a sustentacao para configuracao da subjetividade do eu -protagonista a partir de sua relacao intersubjetiva com os outros personagens inseridos no ambiente narrativo/enunciativo.
O problema da Narração em Walter Benjamin
Revista Sul-Americana de Filosofia e Educação (RESAFE)
Texto quer dizer tecido; mas enquanto até aqui esse tecido foi sempre tomado por um produto, por um véu acabado, por trás do qual se mantém, mais ou menos oculto, o sentido (a verdade), nós acentuamos agora, no tecido, a idéia gerativa de que o texto se faz, se trabalha através de um entrelaçamento perpétuo; perdido neste tecido-nessa textura-o sujeito se desfaz nele, qual uma aranha que se dissolve ela mesma nas secreções construtivas de sua teia"(BARTHES,2002:71) O trecho acima poderia constituir uma metáfora de um trabalho de pesquisa. Muitas vezes, o pesquisador em busca da solução de seu problema se entrelaça na própria teia de seu texto, continuamente aberto, porque se faz a cada novo fio que se entrecruza na trama árdua dos conceitos.
A insustentável leveza do si: a ipseidade entre a existência e a narrativa
Griot, 2021
O presente artigo tem como objetivo apresentar a pertinência do recurso da narração tanto na representação quanto da própria constituição da ipseidade. Para realizar esse intento, optou-se por uma estratégia comparativa entre uma posição antinarrativista e uma narrativista no que concerne aos poderes da narração em apreender e compor o domínio das identificações. Em um primeiro momento será realizada uma reconstrução das posições de Jean-Paul Sartre acerca da narração tendo por base a ontologia fenomenológica de O ser e o nada bem como as considerações sobre narrativa e identidade encontradas no romance A náusea e no texto de Diários de uma guerra estranha. O momento seguinte explorará os argumentos narrativistas de Alasdair MacIntyre em Depois da Virtude, de Charles Taylor em As fontes do self e, especialmente, de Paul Ricoeur em Tempo e narrativa e O si-mesmo como outro. Finalmente, no momento mais estritamente comparativo, pretende-se mostrar certas dificuldades da posição antinarrativista, bem como a fecundidade da posição narrativista, no que diz respeito ao distinto modo de administração da demanda por sentido no rechaço antinarrativista da identidade e do acolhimento do desafio de permanente elaboração de sentido da posição narrativista.