Alteridade, tecnologia e utopia no cinema de ficção científica norte americano: a tetralogia aliens (original) (raw)
A ficção científica é um fenómeno híbrido, de fronteira, onde confluem a história, a ciência e a religiosidade, e onde se combinam a fantasia e a realidade, a racionalidade e a imaginação, o encantamento e a crítica, passados alternativos, presentes possíveis e futuros imaginados. É no ponto de intersecção de todas estas coisas, entre religião e ciência, entre realismo e fantasia, entre ciências humanas e físicas, que encontramos esta nova forma de imaginação verosímil, um género que emerge em todo o seu esplendor no século XX, século em que, contraditoriamente, é fornecida a maior quantidade de explicações e a menor quantidade de certezas. Como resume brilhantemente Eduardo Prado Coelho: "Com Copérnico, o homem deixou de estar no centro do Universo. Com Darwin, o homem deixou de ser o centro do reino animal. Com Marx, o homem deixou de ser o centro da história (que, aliás, não possui um centro). Com Freud, o homem deixou de ser o centro de si mesmo (que também nem sequer existe, é apenas um lugar vazio, uma brecha, uma voragem) e aprendeu que ele próprio é constituído por uma estrutura, a estrutura da linguagem." 1 Mas podemos ainda acrescentar a este ruir de certezas do século XX que as guerras mundiais, os desastres ecológicos e as reflexões epistemológicas erodem a fé no racionalismo e na possibilidade de uma ciência objectiva, pura e descomprometida, do mesmo modo que o crash da Bolsa de 1929, o Macarthismo e o acentuar das desigualdades abalam o sonho capitalista e democrático americano, e Estaline (e a posterior queda do muro de Berlim) abalam a utopia socialista. A razão, enquanto instância de clarividência, capaz de distinguir o justo do injusto, o verdadeiro do falso, o bem do mal, enquanto fonte de bom senso moral, económico ou político, parece fatalmente ferida, privando a humanidade da sua principal ferramenta mental.