Das bandeiras às fronteiras (original) (raw)

Fronteiras das nações

Resumo: O artigo aborda vários significados das fronteiras nacionais no mundo contemporâneo e algumas situações específicas ocorridas nos últimos anos na fronteira luso-espanhola. O objetivo do ensaio é questionar a homogeneidade e a fixidez do limite político, visto geralmente como a fronteira por excelência entre os Estados nacionais, e acentuar a heterogeneidade, multiplicidade, dinamismo, historicidade, assimetrias de poder e os paradoxos vivenciados em algumas situações de fronteiras.

Deslocando fronteiras

2016

Este artigo pretende adensar a reflexão acerca das possibilidades de trocas econômicas e simbólicas que se desdobram da relativa democratização do acesso aos meios digitais, sobretudo, entre as populações jovens e habitantes de áreas socialmente marcadas por processos de precarização nas metrópoles globais. Para tal, tomamos como ponto de partida a análise do modo pelo qual dois coletivos de rappers e realizadores audiovisuais vinculados a regiões periféricas de Lisboa e São Paulo se utilizam de uma variedade de ferramentas comunicativas tanto nos espaços urbanos quanto no ciberespaço.This article aims to reflect upon the effects that have unfolded as a result of the relative democratization of access to digital media, especially in terms of the possibilities for economic and symbolic exchanges, among young people and residents of areas marked by processes of social precariousness in global metropolises. To this end, we analyze the way in which two collectives of rappers and audiovi...

Nas fronteiras dos museus

Revista Hawò, 2022

In recent decades, Western ethnographic museums have been criticized for their colonial collections, discourses and practices. Pressured to change their relationship and communication with society, many did decolonial experiences, aiming at more dialogical museological processes, especially with the communities associated with their collections, such as indigenous peoples. This article outlines conceptual elements on this theme, presenting some results of a postdoctoral research that analyzed eight museums in Brazil. Focusing on collaborative practices with indigenous peoples, the investigation highlighted what Berta Ribeiro and Lucia van Velthem had been announcing since the 1990s: that such processes go beyond the limits of the collections themselves, overflowing the borders of museums. Perhaps it is possible to say that if, on the one hand, these cases are guided by the principles of decolonization, on the other hand, they reveal different configurations of cultural mediation with the indigenous people. On the horizon, the challenge of making these political practices institutional is pointed out.

Unir para além da fronteira

Anuário Antropológico, 2018

Com uma presença notável na região da Selva Central peruana e uma pequena diáspora em território brasileiro, os Ashaninka são hoje um dos povos indígenas mais numerosos da bacia Amazônia, com mais de cem mil pessoas. Como outros povos indígenas da América Latina e da Amazônia, em particular, foram separados pela formação das fronteiras dos Estados nacionais. No início do século XX, com a incorporação do Acre ao território brasileiro e a demarcação da fronteira internacional entre Brasil e Peru na região do Alto Juruá, acabaram divididos de modo extremamente desigual pela geopolítica ocidental. Hoje, menos de 2% da população ashaninka habita o território brasileiro. Esta pequena diáspora não soma duas mil pessoas divididas em sete terras indígenas, todas situadas no Acre, nos afluentes do alto rio Juruá, na fronteira com o Peru. Entre os Ashaninka que vivem hoje no Brasil, destacam-se os da Terra Indígena Kampa do Rio Amônia, território demarcado oficialmente pela FUNAI em 1992. Com uma população atual de cerca de 800 pessoas, reagrupadas na aldeia Apiwtxa e nos seus arredores, os Ashaninka do Rio Amônia representam quase a metade das famílias situadas no Brasil. Embora extremamente minoritários se comparados à população total desse povo indígena, os Ashaninka do Amônia adquiriram uma visibilidade importante nos últimos anos em razão, principalmente, de sua atuação na política interétnica e de suas iniciativas em prol do desenvolvimento sustentável do Alto Juruá. Num contexto marcado por divergências e conflitos em torno das políticas de desenvolvimento para essa região de fronteira, este artigo discute as relações dos Ashaninka do Rio Amônia com seus semelhantes situados em território peruano. Ele dá continuidade a uma reflexão anterior (Pimenta, 2012a) e procura desvendar algumas características recentes da etnopolítica da APIWTXA, associação dos Ashaninka do Rio Amônia. Nas páginas que se seguem, busco mostrar que a lógica colonial dos Estados-nações e a demarcação da fronteira internacional no Alto Juruá nunca apagou o sentimento étnico do povo Ashaninka, que continua se pensando

Diluição de fronteiras

Sala Preta, 2014

O texto tem o objetivo de fazer uma reflexão sobre o "exercício cênico" Conversas com meu pai de Janaina Leite (Centro Cultural Oswald de Andrade, 2014). Será discutida a relação da experimentação contemporânea com a pesquisa acadêmica. Serão destacadas as indefinições de fronteiras sob o ponto de vista de mídias e de gêneros. Por fim, serão apresentados os modos como são exploradas as interações entre "processo de vida" e "processo artístico" e as relações entre obra e seu processo de criação. Palavras-chave: Experimentação cênica, processo de criação, representação, redes comunicativas.

Fronteiras e Relações Internacionais

Editora Íthala, 2015

A coletânea organizada por Henrique Sartori de Almeida Prado e Tomaz Espósito Neto traz, para o debate brasileiro de Relações Internacionais, o tema da fronteira, tão trabalhado em outros campos das Ciências Humanas, mormente na Geografia. Pode parecer curioso que, em 2015, o tema da fronteira seja escolhido para organizar um diálogo entre pesquisadores de diferentes instituições brasileiras (UFGD, UFPEL, UFMS, IESB, UNIFAI, UFRJ, UNB, UFRGS e UNIPAMPA) e de outros países da região (Argentina, Chile, México e Paraguai,). Porém, ao trabalharem em torno de dois eixos (integração política e agendas em zona de fronteira, de um lado, e as relações entre segurança e história, em especial a cooperação na área de defesa e segurança, de outro), os autores deste livro buscam resgatar a análise de questões fundamentais para pensá-la nas relações internacionais: a cooperação (e o conflito inerente a quaisquer agendas de cooperação); as políticas públicas fronteiriças; o papel das entidades subnacionais e da cooperação descentralizada; as tensões entre o “eu” e o “outro” na região fronteiriça na história e nos dias atuais; as dinâmicas e os atores presentes na política de defesa na fronteira. Por que o debate sobre a fronteira é relevante para pensar a política internacional? No começo dos anos 1990, eram recorrentes as hipóteses (infundadas) sobre o fim do território, o fim da geografia e da história, sobre o papel secundário (senão irrelevante) da materialidade das trocas para a compreensão da política internacional. Os fluxos (econômicos, culturais, ambientais, tecnológicos etc.) eram priorizados em detrimento da fixidez do território-lugar (e dos recursos imóveis, a exemplos dos recursos energéticos). Ao longo dos anos 1990, assistia-se ao “império analítico da globalização” (interdependência econômica e democracia liberal), frequentemente rimado com a derrocada do Estado-nacional, a perda de importância da identidade nacional, ou ainda com a irrelevância do orçamento público e das despesas militares dos Estados (que seguiriam, acreditavam alguns, curvas fortemente decrescentes). A fronteira enquanto elemento de diferenciação entre Estados, em muitas interpretações, então em voga, quase desaparecia. Minorava- se a relevância da fronteira do nacional e do território soberano em prol de visões exclusivamente transnacionais do mundo e de marcos interpretativos cosmopolitas das relações internacionais. O problema estava na ideia de exclusividade: as relações internacionais sempre foram habitadas por atores sociais e fluxos transnacionais, mas não deixaram de ser o espaço das cooperações e dos conflitos entre os Estados – ou seja, o mundo da geopolítica. O debate sobre a fronteira é epistemologicamente fundamental para as Relações Internacionais, inclusive porque são muitos os sentidos acerca dela. A fronteira entre os Estados é limite que separa e que afasta (donde os vistos e os controles de acesso), mas ela também é espaço de interação social em que têm lugar inúmeras formas de intercâmbio e cooperação. É pela fronteira que cruzam as mercadorias (e onde incidem eventuais impostos ou procedimentos que podem dificultar seu ingresso) e as pessoas (migrantes, turistas, viajantes, estudantes, gerentes de empresas privadas, líderes de movimentos sociais e organizações da sociedade civil, bem como representantes de instituições públicas). No primeiro, como no segundo, casos incidem normas de diferenciação quanto ao acesso. No entanto, a fronteira também é o espaço a partir do qual se pode olhar para a história das relações entre dois (ou mais) Estados nacionais sob uma ótica distinta, longe das rivalidades entre as capitais e os centros do poder institucional - sendo, portanto, a fronteira, igualmente, espaço de construção de identidades. É com essa dupla perspectiva dos fatores materiais e ideacionais da fronteira que nos brindam os autores desta coletânea e suas interessantes análises que, em última instância, resgatam a possibilidade de repensar, no diálogo com a Ciência Política, a Geografia, a História e a Sociologia, a agenda de pesquisas sobre a fronteira no século XXI, particularmente importante no contexto sul-americano. Rio de Janeiro, 8 de maio de 2015. Carlos R. S. Milani Professor e Pesquisador, IESP-UERJ