Teatro, ética e resistência (original) (raw)
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Em Tese, 2018
O volume 24, número 1, da revista Em Tese, traz como tema Teatro & Ética. Essa é a primeira vez que este periódico põe em foco as artes cênicas. Não foi uma tarefa simples, pois compreendemos que o Teatro, graças à multiplicidade de formas que pode assumir, é capaz de reunir em si diversas outras expressões artísticas (literatura, música, dança, pintura, escultura, cinema, arquitetura...). Por ser uma arte de fronteiras que precisam constantemente ser transpostas, os palcos nos exigiram escuta atenta às distintas estéticas que deles eclodem. Nesse momento, o teatro brasileiro vive uma ebulição de literaturas dramáticas e espetaculares que se centram em questões ligadas à visibilidade e representatividade de parcelas da população que foram violentamente minorizadas ao longo da história. É o caso das pessoas LGBTIQ+, negras(os), faveladas(os), mulheres e indígenas. Negando-se a serem enxergadas apenas como "o outro", essas artistas cada vez mais tomam posse de suas partes no discurso do sensível, no "nós" de quem enuncia a arte. Sabemos que a linguagem teatral não atua em um solo neutro e, assim sendo, todas essas imagens estéticas incorporam éticas (enquanto valores, formas de pensamento, experiências vividas) que atuam de forma a redefinir não apenas o campo artístico ao seu redor, como também as esferas sociais e culturais. Pensando na arte teatral como propositora e mediadora dos conflitos que surgem dessas visões de mundo, a Em Tese convidou autoras(es) a enviarem artigos sobre as múltiplas interfaces existentes entre Teatro & Ética, pensando desde as produções de representações éticas nas estéticas descoloniais contemporâneas ou mesmo abordando revisionismos históricos e estados de exceção.
ESQUADRÃO DA VIDA: a ética como paixão transformadora no teatro
2019
Apresenta-se aqui uma reflexao sobre a etica do fazer teatral, sob a perspectiva da experiencia e da paixao, a partir de uma vivencia no grupo de teatro Esquadrao da Vida, fundado em Brasilia, no ano de . Este artigo advoga a ideia de que nao ha fazer teatral sem uma implicacao etica que, por sua vez, seja capaz de produzir experiencias pessoais e sociais transformadoras. PALAVRAS-CHAVE: Experiencia. Etica teatral. Esquadrao da Vida.
Currículo, cultura e crueldade: para compor uma ética com Antonin Artaud e o teatro
Perspectiva, 2013
Este artigo busca nas linhas de força de Antonin Artaud, do Teatro da Crueldade e da Filosofia da Diferença de Gilles Deleuze elementos para compor uma ética da crueldade curricular. Desenvolve-se, assim, o argumento de que a crueldade das formas de vida e a crueldade das forças de uma vida permitem alimentar exigência de uma ética da crueldade curricular. Expõe-se, desse modo, a dimensão ética e cultural da crueldade a partir do duplo formas/forças posto em jogo no Teatro da Crueldade. Extrai-se, portanto, uma ética da crueldade curricular que funciona a partir de dois movimentos: dar conta dos autoengendramentos das formas de vida em um currículo e pensar os movimentos fecundos que possibilitam a permanente invenção de formas de viver.
A ética da performance musical
2019
Este artigo propõe uma reflexão sobre a dimensão ética da performance musical. Nesse sentido, a ética é tomada enquanto a prática de um conjunto de valores que constitui um ethos. Partindo dos postulados aristotélicos, serão pontuados os desdobramentos que o filósofo deu ao ethos retórico, que são objeto de reflexão aqui dentro do discurso musical. A ética é, portanto, o estudo e a ação de se constituir um ethos, mais do que uma ciência de se apontar o certo e o errado em sentidos absolutos. Essa superação faz com que a Ética seja entendida menos como uma moral e mais como uma relação de responsabilidades, dando espaço à proposição de níveis de responsabilidade, subsidiados pelo pensamento de Kierkegaard. Por fim, são propostos meios de se colocar em prática esses valores de maneira adequada aos pressupostos estabelecidos, residindo no conceito de gesto musical uma síntese desses particulares, aqui tomados pelo termo de origem grega frônese.
Trânsitos da censura o teatro como resistência cultural ao autoritarismo
2008
Esto artículo discute los tránsitos de la cultura y de la censura entre el Brasil y España por medio del teatro popular y no profesional, encenados por los inmigrantes españoles, en la ciudad de São Paulo. Este tema es parte del eje de la investigación «A cena paulista: um estudo da produção cultural de São Paulo de 1930 el 1970», del
Teatro, o Ato e o Fato Estético
Conceição, 2012
Arte, técnica e método-três noções complexas em perma-nente interação e repulsa, uma vez que artistas têm certa dificuldade em entender o que cada uma delas é, significa e promove. As três noções são arcaicas, encontráveis já na Idade Antiga, conhecendo, ao longo dos tempos, diversos modos de arranjo e disposição entre si, movimento bascular entre uma e outra que singulariza certas escolas, certos artistas e, sobretudo, dado modo de encarar a própria atividade artística. Foi no início do século XIX, todavia, que uma polarização maior distanciou as três noções, adequando-as à ideologia do período-conhecido como Romantismo-, movimento que implicou agudas discus-sões a respeito da arte, momento que procurou sistematizar a Estética, nascida cinquenta anos antes. Os grandes torneios de opinião vão se cristalizar tendo como campo expressivo a poesia, a arte por excelência para Hegel e seus seguidores, assim como a música, através da valorização de uma subje-tivação absoluta no tocante à criação da obra: o verdadeiro criador é aquele capaz de colocar sua alma na obra, viver até os píncaros seus sentimentos transfigurados em arte, imolando-se diante do leitor/espectador. Nesse molde, a arte foi tomada como o centro do processo criativo; a técnica como sua auxiliar meramente estilística, uma vez que os formatos artísticos até então disponíveis foram relativamente rechaçados e os românticos lançaram-se com afinco na criação de novos. E o método, naquele ambiente, simplesmente declinou de importância, pois contava, antes de tudo, o gênio, um ser de impulso tão poderoso quanto volunta-rista, capaz de transpor todas as barreiras para impor a força de sua criação. Não por outra razão, o artista romântico foi um apaixonado, acometido pelos permanentes reclamos das sensações, das visões, do temperamento e das convulsões dos sentidos, entregue à vibrátil corrente da vida pulsando com os altissonantes acordes das sinfonias. Pouco importa que os verdadeiros gênios tenham sido, efetivamente, alguns poucos; a ideologia romântica instalou-se como fator constitutivo da Modernidade e perdurou muito tempo, ainda hoje matizando, 1. Edélcio Mostaço, pesquisador do CNPq. É doutor, professor da graduação e da pós-graduação da Universidade do Estado de Santa Catarina-UDESC.
Mínimos teatros: poesia contemporânea e ética
outra travessia, 2018
Este artigo interroga as possibilidades éticas abertas por uma aproximação entre a poesia e o teatro, tal como especulada por Stéphane Mallarmé. Na confluência dessas duas práticas artísticas, encontra-se uma certa escrita contemporânea que se sabe assombrada por múltiplas vozes (como os trabalhos de Valère Novarina, Nathalie Quintane, Carlito Azevedo e Sérgio Medeiros) e que produz peças em que a linguagem assume o comando da ação e poemas em que o entrelaçar de alteridades discursivas constitui o modo enunciativo, configurando um mínimo teatro da ética, no sentido em que ela abre a cena do pensamento para a entrada de um outro desconhecido, por vir, segundo uma perspectiva cara a Jacques Derrida.
Uma perspectiva ética no teatro danzante de Elias Cohen
2019
RESUMO: A pesquisa apresentada se debruça sobre a prática do encenador e coreógrafo, Elias Cohen, que tem realizado obras proeminentes no panorama das artes cênicas do Chile e contribuído para a construção de novas epistemologias do corpo na América Latina. Formado em biologia do conhecimento e influenciado pelas teorias do biólogo, Francisco Varela, investiga dança e teatro aliados à pesquisa em neurociências. O trabalho mostra que é a partir do entendimento de que a mente é encarnada em um corpo e co-emergente na ação que podemos ter um olhar mais amplo sobre a poética desse artista, tomando-a dentro de uma perspectiva ética, dissidente e política, assumindo um ponto de vista ecológico de saberes e sustentando um posicionamento "Enativo" em relação a vida. A pesquisa teve início em 2018, dentro do
Traição incondicional por outra ética cultural na Dança
2012
Teco alguns deslocamentos sobre a questao da etica cultural na danca, tomando como premissa que os contextos friccionados nessa sentenca – etica, cultura e danca – escapam a qualquer possibilidade de fixidez e unidade em defesa de um territorio, uma nacao ou uma comunidade, sendo possiveis de serem tratados somente como efeitos de impura margem. Nessa discussao trago questoes contemporâneas do pensamento da Alteridade e Estudos Pos-coloniais – e seus intersticios de entender o outro para alem de uma contra-hegemonia localizavel, identificavel e enderecavel – para provocar ruidos nas habituais nocoes de diferenca cultural, corpo-cultura e etnografia na Danca.