O orgulho de pertencer a uma universidade consciente de sua função social (original) (raw)
2023, Jornal da USP
Este é o final de linha de um antigo estudante de uma geração contestadora que, ao longo da vida, converteu-se em um maître à penser e, agora, é obrigado a deixar a sala de aula por limite de idade. Quando entrei na USP, em 1968, ano marcado por efervescência de ideias e contestações estudantis em muitos países, tudo parecia possível para um jovem recém-chegado do ensino médio. O período em que estudei Direito marcou-me pelo fato de que aquelas manifestações espalharam pelo mundo ondas de protestos, no sentido romântico de uma retomada dos impulsos morais que as gerações anteriores teriam deixado se esvair. Foi um período em que a vida burocratizada de até então passou a ser vista como opressão. Em que medida esse tipo sufocante de vida não estaria encoberto pelo que acreditávamos ser a racionalidade? – esta foi uma das indagações então surgidas. Em que medida o avanço da razão abrira caminho não para o progresso material ou espiritual da humanidade, mas para a acumulação desumanizante subjacente ao capitalismo e para o aumento de desigualdades e injustiças? Se na primazia do desejo os estudantes franceses de 1968 almejavam outra vida e outro padrão de sociedade, os estudantes brasileiros desejavam liberdade, respeito aos direitos fundamentais e o retorno à democracia.