O ETERNO, O HUMANO E A LIBERDADE: a afirmação da ideia de liberdade pela via do livre-arbítrio no pensamento de Santo Agostinho (original) (raw)
2022, Dissertação de Mestrado (UFMG)
Na trajetória do Ocidente nota-se a existência de uma ideia de liberdade que respaldou o surgimento desta enquanto construção jurídica, pois em diversos momentos a temática despontou, mesmo que sem ligação com um direito juridicamente assinalado. Esta mesma ideia é fruto de um longo processo de concepção, conceituação e lapidação, ponto em que o pensamento cristão medieval tem sua importância. Agostinho de Hipona foi um dos autores que mais profundamente influenciou o pensamento cristão do medievo, e em sua busca pela verdade, empenhou-se em amalgamar elementos da tradição filosófica da Antiguidade, com as bases da religião cristã que surgia na Antiguidade Tardia. O Bispo de Hipona nasceu e viveu em um ambiente de mudanças, presenciando a decadência e o fim do Império Romano Ocidental, assim como as invasões nórdicas. Tal como seu contexto, seu processo de formação e conversão são marcados pela relação entre o paganismo e o cristianismo, que lhe proporcionaram vasto cabedal e meios para bem transitar nos dois ambientes, o que se refletiu em sua extensa produção filosófica. Dentre os inúmeros pontos possíveis, o presente estudo busca compreender qual a ideia de liberdade que emerge do pensamento de Santo Agostinho. Por se tratar de pesquisa notadamente teórica, sua principal ferramenta foi a revisão bibliográfica, na tentativa de levantar influências e contribuições de outros autores para o pensamento do Hiponense. Metodologicamente, o estudo adere a perspectiva macro filosófica, vislumbrando a possibilidade de uma maior interdisciplinaridade no estudo jus-filosófico, fazendo permear-se: Direito, Filosofia, História e Teologia. Ao mesmo tempo, buscou-se uma visão ampliada da própria construção filosófica de Santo Agostinho, compreendendo-o no contexto da Antiguidade Tardia, com suas raízes profundamente lançadas no platonismo e neoplatonismo. Com isso se permite vislumbrar sua relação com a tradição filosófica anterior, bem como sua contribuição para o pensamento do Ocidente. Estruturando-se em três capítulos, o estudo buscou compreender inicialmente a teorização do Eterno, por meio das influências do maniqueísmo e do cristianismo Católico, onde Agostinho encontra Deus como um todo espiritual que habita a criação. Em suas complexas relações com Deus, o elemento humano se delimita, ponto em que Agostinho descreve o papel atribuído à sensibilidade e a racionalidade, bem como a importância da iluminação divina. Por fim, emergindo da relação entre o Eterno e o Humano surge a ideia de liberdade. Agostinho avança sobre a questão da origem do mal e dela consolida o papel do livre arbítrio, distanciando-se da tradição que o precedeu, e abrindo um novo horizonte de possibilidade ao homem, que não mais se via agrilhoado ao destino. Pela via do livre arbítrio, Agostinho teoriza uma ideia de liberdade que sintetiza o caminho do homem de retorno ao divino, uma vez que valendo-se de sua racionalidade, e iluminado por Deus, o homem deve compreender a ordem do mundo, hierarquizar o que deve ser usado e fruído, e direcionar sua vontade para o que é o verdadeiro fim em si mesmo, ou seja, a beatitude, chegando assim a contemplar e fruir de Deus. Palavras-chave: Liberdade; Livre arbítrio; Santo Agostinho; Cristianismo; Filosofia Medieval