Eu vivo da natureza: resistência e conversão agroecológica de produtores na cidade do Rio de Janeiro (original) (raw)
2014, REDD – Revista Espaço de Diálogo e Desconexão
RESUMO: Este trabalho tem como objetivo descrever as formas de resistência e o processo de ressignificação das práticas produtivas, políticas e reelaboração identitária dos produtores estabelecidos no Maciço da Pedra Branca, região que no passado constituía parte da Zona Rural da cidade do Rio de Janeiro e, que a partir de 1974, foi transformada em um parque estadual. Pretende-se mostrar como a criação desta unidade de conservação está relacionada a um conjunto mais amplo de transformações urbanas e que sua implantação exerceu efeitos contraditórios sobre a dinâmica da agricultura local. Em especial, destaca-se a imposição de novas fronteiras e usos, as relações estabelecidas com os agentes ambientais e mediadores e a crescente incorporação de valores de conservação da natureza e agroecológicos que tem alterado as percepções sobre o rural, o urbano e a relação entre agricultura e natureza. Também serão descritos, os processos recentes de mobilização política e apresentados alguns dados sobre esta agricultura, seus produtos, organização do trabalho e circuitos de produção. PALAVRAS-CHAVE: Políticas ambientais. Conflitos ambientais. Agricultura. Relação rural-urbano. Agroecologia. Introdução É pouco conhecida a atividade agrícola na cidade do Rio de Janeiro. Sua invisibilidade é resultado de um longo processo de disputas pelo poder de definir usos no espaço da cidade, que afirmou os usos urbanos e industriais em detrimento do rural e do agrícola. Como marco desta tendência, na década de 1960, a antiga Zona Rural da cidade, também chamada de Sertão Carioca, passa a ser denominada Zona Oeste. O presente artigo tem o objetivo de descrever as formas de resistência e o processo de ressignificação das práticas produtivas, políticas e reelaboração identitária dos pequenos produtores estabelecidos no Maciço da Pedra Branca, região que no passado constituía parte da Zona Rural da cidade do Rio de Janeiro. Em 1974, uma parcela significativa deste território foi transformado em Parque Estadual da Pedra Branca (PEPB), totalizando cerca de 16% da área do município. Pode-se entender a criação desta unidade de conservação como uma interferência do Estado sobre as disputas entre os usos rurais e urbanos que ali se estabeleceram desde a década de 1930 e que, na década de 60 e 70, se tornam marcantes, com a integração viária da cidade, a expansão e consolidação das relações capitalistas no país, as