Pepetela e as (novas) margens da "nação" angolana (original) (raw)

Pepetela: Romance e Utopia Na História De Angola

Via Atlântica, 1999

Em entrevista concedida a Michel Laban, em 1988, e publicada no livro Angola-encontro com escritores , ao falar sobre Muana Puó e as diferentes fases de sua obra, Pepetela observa: "Parece-me que as preocupações de fundo, em Muana Puó são as mesmas de todo o resto que foi escrito depois. Há um tema que é comum, que é o tema da formação da nação angolana. Isso faz o denominador comum." 1 Antes de buscarmos a pista dada pelo autor, é interessante, para nos aproximarmos de "todo o resto que foi escrito depois", examinar a sua bibliografia, tarefa que permite também situar a sua dimensão no sistema que integra. Reunindo já treze títulos , dos quais apenas três publicados no Brasil, Pepetela divide com José Luandino Vieira o estatuto de escritor mais conhecido e premiado de Angola. Para citar apenas dois, apontamos o "Prêmio da Associação Paulista de Críticos de Arte" (em 1993) e o Prêmio Camões (em 1997). O levantamento de sua produção demonstra ainda que a repercussão de seu trabalho já vai além das fronteiras da língua portuguesa. Para muito além, eu diria mesmo, uma vez que Mayombe , foi publicado inclusive no Japão, numa edição "linda, onde só se pode reconhecer os números das páginas e um mapinha de Angola na contracapa", segundo bem humorada declaração do próprio romancista.

A luta anticolonial angolana em Luandino e Pepetela

Sankofa (São Paulo), 2012

Este artigo discute Luuanda e Nós, os do Makulusu de José Luandino Vieira e Mayombe de Pepetela, com base no contexto de luta anti-colonial em Angola a partir da 2ª. Guerra Mundial. Inicialmente, é traçado um breve histórico sobre o ultracolonialismo português e sobre a trajetória da resistência angolana. Depois, são apresentados alguns autores fundamentais para o debate da autodeterminação dos povos do chamado Terceiro Mundo, como Balandier, Memmi, N’krumah e Fanon. Por fim, são trabalhadas estas três obras, escritas por dois intelectuais do MPLA, profundamente engajados na luta por libertação nacional.

Pepetela: entre a História e a Ficção

A partir de alguns romances de Pepetela, aborda-se neste texto a relação entre Literatura e História. O recurso à História e/ou à memória é um dos leitmotive mais recorrente na obra deste escritor angolano. A ficcionalidade da História torna-se forma de escrever a construção da angolanidade através do olhar "de dentro".

FRONTEIRAS SOCIAIS: NEGROS E BRANCOS NA ANGOLA DE PEPETELA (1961-1975)

E scolhemos diagnosticar as fronteiras sociais entre brancos e negros em Angola, primordialmente após a Segunda Guerra Mundial até os albores da independência, tais como são discutidas na obra literária, nos artigos jornalísticos e em ensaios de Pepetela, porque se trata de um dos intelectuais angolanos que mais ricamente refletiu sobre este torrão e suas gentes. Este "branco de segunda"! , cuja família materna estava em Angola desde o século XIX, tão angolano como todos os negros de sua terra, nascido Carlos Maurício Pestana dos Santos, adotou como nome de guerrilha e também literário "Pepetela", tradução de seu sobrenome Pestana em uma língua africana. Sua visão de mundo, em grande parte, encontra-se acondicionada pelo ambiente angolense 2 de Benguela e Luanda, uma síntese da forte tradição portuguesa e das raízes culturais africanas 3 • As fronteira interétnicas, emergentes em seu texto, não constituem os lugares sociais onde uma atuação étnica deixa de se encontrar, mas a partir de onde o outro étnico começa a se fazer presente. Essas fronteiras sociais nascem de "uma relação de forças no campo das lutas pela delimitação legítima" das dominações e submissões, gerando uma "di-visão", uma crise no mundo social. O branco em suas páginas surge como o mais importante edificador das fronteiras sociais, circunscrevendo, de forma hegemônica, as regiões sociais e naturalizando as classificações étnicas arbitrárias que institui 4 • As fronteiras interétnicas em Angola, refratadas no texto de Pepetela, estabelecem-se pari passu ao processo de construção/ Anais do XX Simpósio Nacional de História -ANPUH • Florianópolis, julho 1999 História: Fronteiras constatação da identidade/alteridade, em outras palavras, a presença de um não implica na ausência do outro, muito pelo contrário, um só se define ante o outro. Não instaurando o "ou", mas o "e", possibilitam não apenas a cultura de um ou de outro, mas também o constructo híbrido fruto deste contato cultural.

O exercicio a soberania estatual nas águas nacionais angolanas

Este trabalho de investigação tem por objecto analisar as questões do exercício de soberania e jurisdição na zona marítima nacional, tendo em observância as regras estatuídas na Lei do Espaço Marítimo e na Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. Procuraremos apresentar uma estrutura concisa e completa, não apenas para ser mais um trabalho de investigação, mas para estimular outros pesquisadores e demais interessados em questões do mar, com vista à construção de identidade e cultura marítima nacional. Pretende-se acomodar uma nova visão ao nosso mar, velando pela governação das suas zonas, como elas estão delimitadas e como exercer a respectiva soberania e jurisdição. Em suma, a nossa abordagem é a reflexão de responsabilidade de cidadania, soberania, jurisdição e sentido de Estado em questões ligadas ao mar.

Nacionalismo e Pós-nacionalismo na Literatura Angolana: o Itinerário Pepeteliano

Comunidades imaginadas: nação e nacionalismos em África, 2008

oBra pUBliCada CoM a ColaBoração de: oBra pUBliCada CoM o apoio de: apoio do programa operacional Ciência, tecnologia, inovação do Quadro Comunitário de apoio iii © noVeMBro 2008, iMprenSa da UniVerSidade de CoiMBra 1 in Mínima Moralia. Reflexionen aus dem besch�digten Leben Reflexionen aus dem besch�digten Leben (in textz.com), p. 71. "Quem já não tem "Quem já não tem pátria talvez até na escrita possa encontrar um lugar para morar", tradução minha. existe edição e tradução portuguesa deste livro: Mínima moralia, lisboa: edições 70, 2001. 2 do poema "navegações (i)", in Fonte de pássaros (recife 1999).

Margem Dentro Da Margem: Olhar Angolano Para O Brasil

Via Atlântica, 2008

O ARTIGO PROPÕE UMA ANÁLISE DE UM DOS MAIS RECENTES TRABALHOS DO ESCRITOR RUY DUARTE DE CARVALHO, DESMEDIDA – LUANDA, SÃO PAULO, SÃO FRANCISCO E VOLTA: CRÓNICAS DO BRASIL (2006), PARA FORMULAR ENTENDIMENTOS ACERCA DO REDIMENSIONAMENTO DOS TRÂNSITOS CULTURAIS ENTRE O BRASIL E ANGOLA, NA EXPERIÊNCIA CONTEMPORÂNEA. O OBJETIVO DESTA PROPOSTA É PÔREM QUESTÃO A ESPECIFICIDADE DE UM OLHAR ANGOLANO PARA O BRASIL QUE, ALÉM DE LER A MARGEM DE DENTRO DA MARGEM, ATUALIZA AS FORMAS DE “COMUNHÃO DA EXPERIÊNCIA HISTÓRICA” E AS CATEGORIAS MODERNAS COLONIAIS LIGADAS ÀS COMUNIDADES DE LÍNGUA PORTUGUESA.

Etnias de Fronteira e questão nacional: o caso dos "regressados" de Angola

Cadernos de Campo , 2002

Este artigo trata dos ex-exilados angolanos, de origem etnolinguístico Bakongo,retornados a Luanda após um longo período de vivência no país vizinho Zaire (atual RDC),durante a guerra de independência de Angola ocorrida entre os anos de 1961-1974. Os Bakongo são uma “etnia de fronteira” presente tanto em Angola como nos dois Congos. O retorno deste grupo, com pelo menos uma geração nascida no exterior, sugere questões sobre a formação e o acirramento de identidades étnicas e o aparecimento de novas concepções de nacionalidade a partir de uma cultura construída numa experiência externa ao país. A busca de nova sformas de participação de reconhecimento social e político através da disputa da legitimidade em torno de concepções de identidade nacional é mais um ingrediente complexificador no processo da reconstrução nacional de Angola.