O fim da guerra não é o fim da guerra: a independência de Angola e os buracos negros da literatura (original) (raw)
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Este estudo tem como objetivo fazer uma proposição teórica e reflexiva a partir das vertentes social e literária nas obras Mayombe e A Geração da Utopia, do escritor angolano Arthur Carlos Maurício Pestana dos Santos, mais conhecido como Pepetela. O enfoque consiste nas marcas literárias que identificam o colonialismo, a guerra e a resistência do povo angolano, no qual representam um ensaio engajado de libertação política e cultural. Como referencial teórico-metodológico, buscaremos analisar a literatura a partir das lentes teóricas de Mata (2001), Paiva (2012), Pimenta (2012), dentre outros, que buscam evidenciar os entrelaçamentos sociais e literários a partir da realidade vivida por quem escreve e conhece sobre a importância dos locais de produção. Assim, diante da desigualdade social, regime totalitário e corrupto, mostraremos uma perspectiva sobre o vasto processo de desilusão que quase não deu exílio ao povo Angolano.
PREDADORES: quando a literatura narra as relações de poder em Angola
Este artigo esquadrinha as relações de poder, em Angola, emergentes em Predadores, romance escrito por Pepetela, um dos mais instigantes intelectuais angolanos da atualidade. Ao delinear como o autor narra o “outro”, em especial, a apropriação do público pelo privado, assim como o oportunismo político, detectamos os contornos de seu posicionamento político. As principais temáticas sobre as relações de poder, recortadas nessa obra, comprovam que a sua literatura estrutura uma crítica sócio-política, extremamente perspicaz, da sociedade e dos Estados angolanos contemporâneos.
Breves considerações sobre alguns aspectos da literatura angolana
Revista Njinga & Sepé, 2024
Saindo dos caminhos da literatura colonial, os escritores angolanos começaram a desenvolver uma literatura nova e diferente, expressão da nação e das realidades do povo angolano. No contexto colonial, denunciou-se os males da colonização portuguesa; na pós-independência denuncia-se os limites das lideranças dos próprios angolanos. Na escrita, além do português de Portugal, alguns escritores utilizam uma língua híbrida, mistura de português com línguas nativas (principalmente o Kimbundu), maneira de aproximação da língua pelo povo.
Entre palavras e armas literatura e guerra civil em Moçambique
2017
"Guerra de agressão", "guerra de desestabilização", "guerra civil", "guerra dos dezasseis anos": o conflito bélico que se alastrou por Moçambique entre 1976 e 1992 recebeu diversos nomes e abordagens. Nesta obra, a crítica literária é o princípio investigativo sobre o qual a linguagem estética e tal conflito podem ser analisados como experiências sociais distintas, mas intrinsecamente entrelaçadas. Por isso, este não é um trabalho de verificação de como existe um conteúdo histórico que é ficcionalizado em maior ou menor grau por uma literatura mais ou menos comprometida, mas antes objetiva, sim, perceber como certas estruturas estéticas apresentam composições específicas que, se analisadas literariamente, e posteriormente interpretadas historicamente, expõem visões críticas e manifestações sociais que se colocam em articulação com hegemonias que disputam o poder sobre uma sociedade. Assim sendo, como obras literárias que elegeram a guerra como tema podem contribuir para uma abordagem contemporânea do conflito que considere a compreensão e adesão das populações afetadas? Entre palavras e armas: literatura e guerra civil em Moçambique é totalmente baseado nesta primeira inquietação. Por isso se compõe como uma crítica comparada e histórica de dois romances que tratam da guerra pós-independência: Os sobreviventes da noite (2008), do escritor Ungulani Ba Ka Khosa, e Neighbours (1995), da escritora Lilia Momplé. O trabalho é dividido em dois movimentos: no primeiro, a crítica se desenvolve através da análise literária das configurações estéticas dos romances, de modo que seja possível delinear hipóteses comuns e diferenciais de leitura para ambos; o segundo movimento trata de tomar as hipóteses de leitura e buscar interpretá-las historicamente, com o apoio de um diálogo interdisciplinar entre os estudos literários e a historiografia, a sociologia, a antropologia, a economia e a ciência política de Moçambique.
Literatura, Memória e a Construção De Uma Perspectiva Nacional Angolana
Outros Tempos – Pesquisa em Foco - História, 2016
Lembro-me que, por volta de 2008, pude assistir a uma comunicação sobre a relação entre a escrita literária de Pepetela e a história de Angola, proferida por Silvio de Almeida Carvalho Filho, no âmbito dos encontros realizados pelo Núcleo de Estudos Africanos, da Universidade Federal Fluminense. Passados oito anos, com o lançamento do
Para uma breve história da ficçao narrativa angolana nos últimos cinquenta anos
Revista de filología románica, 2001
Para urna breve história daflc!c7o narrativa angolana nos últimos cinquenta anos Luis KANDJIMBO Escritor e crítico angolano INTRODUCAO Do ponto de vista histórico, o romance é o género literano mais recente em Angola e de um modo geral nas literaturas africanas. A poesia, a narrativa curta, o conto, a narrativa genealógica e retórica sáo géneros mais antigos que encontramos nas literaturas orais dos poyos angolanos. Originário da literatura ocidental dos séculos xviii e xix, durante a ascensáo da burguesia e da sociedade industrial, o romance é introduzido nas literaturas africanas com a implanta9áo do sistema colonial. Urna das ma-nifestaQóes mais evidentes da sua existéncia no espa~o angolano é a proli-fera9áo da literatura colonial no principio deste século. De acordo com os resultados de pesquisas que realizel no Arquivo do Tribunal da Comarca de Henguela, consultando processos de inventário e de abertura de heranga quando pretendia obter informayóes sobre as leituras e obras que circulavam cm Benguela na época em que José da Silva Mala Ferreira por lá passou, cheguei a conclusdes valiosas sob o ponto de vista sociológico. As dedicatórias inscritas nas epígrafes dos poemas cm Espontaneidades da Minha Alma daquele autor, permitem inferir, na perspectiva da intertextualidade exoliterária, a existéncia de um universo de leltores, entre naturais de Angola e Portugal, cuja competéncia é corroborada peía circuIa~áo de obras de autores europeus tais como Victor Hugo, Thiers, Alexandre Dumas, Walter Scott. Com efeito, os primeiros textos romanescos escritos por naturais de Angola sáo da autoria de membros da gerayAo de 1890. Trata-se de Suenas de Africa e O Fi/ho Adideri,w, obras de Pedro Félix Machado publicadas iw segunda metade do século xix. Sáo igualmente conhecidas referéncias de Pat-a urna tic ve história dafic §a narrativa angolana..