Autonomias: do desenho como "alienação" ao desenho como "libertação" da arquitetura (original) (raw)

Este artigo pretende discorrer sobre duas formas de autonomia na arquitetura dadas através da mesma ferramenta: o desenho. O desenho de arquitetura é apresentado aqui através de duas visões distintas e contemporâneas entre si, sendo uma delas dada pela concepção de que ele opera de modo a alienar o trabalhador da construção, tal qual expõem as teorias de Sérgio Ferro (1938 -); e a outra sendo vista como uma maneira de libertar a arquitetura de certas determinações projetuais, as quais exporemos através de ensaios de Peter Eisenman (1932 -). Ambos os usos de autonomia e de desenho são formulados em publicações do fim dos anos 1970 e início dos anos 1980, mas que se dão de maneira distinta, senão antagônica. Contudo, em seus argumentos primais, partilham do intuito de combater postulações do status quo da atuação da arquitetura em uma sociedade capitalista, seja por sua veia decididamente prática, seja pela veia da linguagem disciplinar e estritamente acadêmica. Pretendemos, portanto, mostrar os distanciamentos processuais de cada uma das visões de autonomia, devido principalmente aos meios pelos quais os arquitetos se lançam para alcançá-la, identificando como principal disparidade o papel do desenho em suas formulações. Para tanto, o artigo divide-se em três partes: a primeira e a segunda desenvolvidas através de duas seções que expõem o conceito de “autonomia” para cada um dos arquitetos, contendo seus diagnósticos sobre como enxergam seus respectivos contextos da arquitetura e como identificam no desenho esta ferramenta ora de alienação, ora de libertação da arquitetura; seguidas e também concluídas pelo arco que enlaça ponderações sobre as reflexões de ambos os arquitetos, aliadas de outros comentadores do contexto da arquitetura dos anos 1970. Vale ressaltar que tanto Ferro quanto Eisenman são atuantes em publicações e em projetos, mas apenas seus textos foram analisados no presente artigo.