QUANDO A ARTE QUEBRA A FRONTEIRA: ALGUNS EXEMPLOS NA ESCULTURA DA DIOCESE DE BRAGANÇA-MIRANDA 1 (original) (raw)
2023, Frontera España-Portugal: personas, pueblos y palabras.
Em 1961, Juan José Martín González publicou, em Espanha, o estudo La huella española en la escultura portuguesa. Já passaram mais de sessenta anos e o estudo da arte, no território transfronteiriço de Trás-os-Montes a que Martín González dedicou especial atenção, permitiu, entretanto, perceber mais relações entre ambos países e mais amplamente expandidas. No entanto, em Portugal continuam a ser escassos os estudos relativos às relações artísticas entre Portugal e Espanha, sobretudo no que concerne aos territórios de fronteira. Lançar novas pistas sobre estas relações artísticas e perceber se a fronteira constrói, efetivamente, uma rutura ou se, pelo contrário, estabelece uma continuidade nos ritmos e fluxos da linguagem artística são objetivos deste estudo. Partindo da obra de Martín González é feita uma aproximação ao fluxo artístico transfronteiriço da região da terra fria trasmontana. As obras de arte escolhidas para este estudo são as esculturas de produção espanhola, com destaque para obras expostas em Bragança, Miranda do Douro e Mogadouro. A metodologia de investigação privilegia a análise comparativa formal e iconográfica das obras que nos permite a aproximação às influências, modelos e narrativas evocadas. O contexto temporal definido é o século XVII, período marcado pela dinastia dos Habsburgos, guerra da Restauração e pelo início da dinastia dos Braganças. Neste contexto temporal os objetos escultóricos dependiam dos encomendadores artísticos de então, (nobreza, clero secular, regular, confrarias, irmandades e burguesia). As esculturas enquanto ilustração da devoção constituem uma importante expressão das relações transfronteriças não só na arte como também na forma de expressar e celebrar colectivamente a religiosidade.