O lugar da cultura de matriz africana no patrimônio cultural paulista (original) (raw)

O reconhecimento do patrimônio cultural de matriz africana – tombamento e registro de territórios tradicionais em São Paulo

arq.urb, 2019

Em meio a trajetória recente de reconhecimento de bens ligados à história e memória das populações negras pelo órgão de preservação do patrimônio no Estado de São Paulo, o presente artigo discute questões sobre a adequação da utilização dos instrumentos do tombamento e do registro no trabalho de identificação e proteção de territórios de matriz africana como bem cultural, a partir dos estudos técnicos desenvolvidos sobre os espaços de Candomblé e Umbanda pela UPPH1 , que balizaram a decisão do CONDEPHAAT. Na reflexão que propõe busca contribuir com a discussão sobre a importância da preservação destes espaços como suportes materiais da cultura afro-brasileira em São Paulo.

Patrimônio Cultural – A atuação do CONDEPHAAT na proteção de bens culturais de matriz africana em São Paulo (1969-2019)

This work presents an analysis of the practices of CONDEPHAAT, the heritage preservation agency of the state of São Paulo, regarding the protection of properties of African origin between 1969 and 2019, having as principal source the administrative processes and registries that resulted or not (in the case of denied motions) in the listing of such properties as cultural heritage. In these documents, it is possible to identify the discourses utilized to justify the requests of the original proposers, in addition to those of other partakers (advisers, counselors, Council presidents and secretaries of culture), so that it becomes possible to verify the changes in the manner in which these requests were approached, both as time progressed and according to the professional degrees of the advisers that were involved in the processes, notably historians and sociologists. By contextualizing these acts of recognition, the participation of black movements and their demands regarding memory-prodding will be discussed, with cultural heritage as a reference for identity. Furthermore, the processes whereby the cultural heritage of African origin incites discussions about the ways in which preservation agencies handle listing requests will be analyzed, with reflections about the limits and possibilities of legal instruments.

Entre a herança e a presença: o patrimônio cultural de referência negra no Rio de Janeiro

Anais do Museu Paulista: História e Cultura Material, 2020

RESUMO Este artigo analisa ações dirigidas ao reconhecimento da herança negra por meio de políticas de memória e patrimônio durante o primeiro governo do estado do Rio de Janeiro eleito democraticamente nos anos 1980, especialmente o tombamento da Pedra do Sal e a instalação do Monumento a Zumbi. Para compreender essas ações, é feita, inicialmente, uma leitura sobre os modos como as políticas de patrimônio em nível federal foram transformadas no contexto da redemocratização do país e estiveram em diálogo com as políticas implementadas no nível estadual do Rio de Janeiro. Este texto busca perceber os paradigmas que fundamentam tais narrativas, ao mesmo tempo que transita da macropolítica ao campo das lutas de memória, como universos entrelaçados. Na segunda parte, analisam-se eventos relacionados à patrimonialização da herança negra na cidade, nos anos 2000, a saber, o reconhecimento da Pedra do Sal como quilombo, em 2005, e os títulos de Patrimônio Mundial atribuídos à cidade pela U...

Africanidades presentes em patrimônios da cultura material e imaterial em Alcântara/MA

Revista Cadernos do Ceom

Este escrito tem como objetivo central discutir as africanidades presentes em patrimônios da cultura material e imaterial no município histórico de Alcântara, no Estado do Maranhão, atentando-se às contribuições dos remanescentes de escravos na sua construção e manutenção, de modo a potencializar elementos fundantes da cultura africana no patrimônio da cidade. Assim, este escrito problematiza a diversidade patrimonial e colabora, de forma significativa, para a formação identitária dos alcantarenses. Para esta escrita, procuraram-se as contribuições em documentos produzidos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), bem como referências que tratem as africanidades presentes em patrimônios da cultura material e imaterial. Consequentemente, utilizaram-se pesquisas de campo, nas quais se registrou o ouvido, o vivido e o sentido, de modo a reunir subsídios que apontem a relação dos descendentes de escravos em Alcântara com o patrimônio material e imaterial da ci...

Remanescentes Culturais Africanos no Brasil

Aletria: Revista de Estudos de Literatura, 2002

Panorama dos estudos sobre o negro no Brasil, do ponto de vista da cultura e das línguas, destacando-se as publicações, iniciadas somente ao final do século XIX. Abordam-se também<br />os congressos, que se realizaram principalmente na década de<br />1930, e os centros de estudos africanistas que se formaram<br />em algumas universidades brasileiras a partir da segunda<br />metade do século XX. Observa-se a precariedade dos estudos<br />lingüísticos nesse campo, os quais, em sua maioria,…

Ser africano na cidade: identidade e memória em São Paulo no oitocentos

Topoi (Rio de Janeiro), 2021

RESUMO Este texto problematiza a posição marginal relegada à contribuição negra na construção histórica de São Paulo através de evidências demográficas e de estudos históricos sobre africanos na cidade durante o século XIX. Discute as transformações na identidade africana dos escravizados e dos negros livres e seus efeitos na apropriação dos espaços da cidade de São Paulo nesse período. O texto também busca as relações entre as narrativas do desaparecimento do africano e de sua cultura na cidade e a obliteração da memória da presença negra com a construção da ideia de invisibilidade histórica daqueles homens e mulheres.

Tecidos africanos e africanizados nos candomblés paulistas

Revista de Ensino em Artes, Moda e Design

Os tecidos vindos da África são fundamentais para pensar a estética dos candomblés paulistas, pois suas trajetórias históricas demonstram uma complexa trama cultural que questiona a noção de origem pura, sem deixarem de ser utilizados como símbolos de identidades culturais africanas e afro-brasileiras. Este trabalho analisa a motivação douso de tecidos específicos vindos do continente africano pelos candomblés paulistas. O objetivo é relatar essa história e discutir, desde o continente africano até a atualidade, as presenças do tecido Așǫ Oke, produzido pelos yorùbá; do tecido estampado industrialmente Wax Print; e das rendas industriais nigerianas-austríacas. Buscou-se identificar a presença desses têxteis em imagens do século XX e em terreiros de São Paulo, para a análise no contemporâneo. Descobriu-se processos distintos que motivaram esse uso: o Wax Print ganhou uma carga de conexão com o que se veste no continente africano atualmente. Já o Așǫ Oke se relaciona com a ideia de tr...

Diversidade e sentidos do patrimônio cultural: uma proposta de leitura da trajetória de reconhecimento da cultura afro-brasileira como patrimônio nacional

Anos 90

Considerando que o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural pressupõem uma reeducação das relações étnico-raciais para além dos muros escolares, o texto busca articular as diretrizes que norteiam o processo de reelaboração da nova perspectiva de ensino para se pensar a questão da brasilidade à ressemantização do conceito de patrimônio cultural. Tomando como base os decretos e leis da política oficial de preservação do patrimônio cultural no Brasil do final do século XX, o texto reflete a trajetória de construção do patrimônio como um longo processo de luta para a valorização e reconhecimento da cultura afro-brasileira.

Espelhos patrimoniais em Ouro preto: museus e passado afro-brasileiro

resumo Apresento no presente artigo algumas reflexões etnográficas a respeito das redes sociais da cidade de ouro Preto tendo o patrimônio cultural como víeis metodológico. A análise dialoga com dados provenientes de pesquisa de campo por meio de entrevistas, levantamento em arquivos e acervos realizados entre os anos de 2007 a 2009. Neste trabalho fizemos um recorte analítico enquadrando um dos dramas sociais da cidade, a escravidão, que compõe um dos fios das teceduras patrimoniais de ouro Preto. As categorias conceituais utilizadas na análise são patrimônio, me-mória, museus, e história. Por meio destas categorias percebe-se a crista-lização de outra categoria, a do sofrimento, presente no imaginário sobre a cidade, e reificado pelas práticas museológicas a favor da história síntese do estado-Nação brasileira, numa perspectiva hierárquica, excludente e redutora. Práticas que inviabilizam a complexidade da cosmovisão afro-ouro-pretano que podem levar a uma ideia ingênua da vitimização social ou obliterar novas possibilidades patrimoniais relacionadas à cidadania. Palavras-chave: Patrimônio Cultural, Memória, ouro Preto.

Terreiro De Candomblé Axé Ilê Obá: Patrimônio Cultural Da Cidade De São Paulo

Foco, 2023

Recebido em: 01 de Abril de 2023 Aceito em: 05 de Maio de 2023 RESUMO A realidade histórica e as imagens reais e mentais que produzimos da cidade se configuram como fatos de direito a cidade. Direito enquanto jurídico, direito enquanto fato social das relações entre os grupos sociais. Religiões de matriz africana, os terreiros de candomblé e umbanda são fatos da realidade urbana da cidade de São Paulo que não se encontram impresso nas imagens da cidade. As identidades sociais e a cidadania se formam através das imagens produzidas. Os patrimônios culturais exercem um papel importante na formação das identidades individuais, coletivas e urbanas, sendo esse um fator importante para a educação e para produção da cidadania. São Paulo produziu uma imagem mental da cidade dos italianos e dos japoneses excluindo a população negra da produção da cidade. O artigo retoma a discussão da representação e da inclusão dos terreiros de candomblé na imagem da cidade de São Paulo tendo como exemplo o terreiro Axé Ilê Obá, no período de 1984 à 2014, quando da gestão da Ialorixá Mãe Sylvia de Oxalá. Reverenciando na atualidade a orientação de Mãe Paula de Inhasã, para qual os autores tomam a benção. Palavras-chave: Memória urbana; terreiros de candomblé; patrimônio cultural; direito a cidade; forma urbana negra; população negra na cidade de São Paulo.