Melancolia, persuasão e totalitarismo (original) (raw)
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Galáxia (São Paulo), 2013
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Propaganda política e totalitarismo
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Media e melancolia : o trágico, o grotesco e o barroco
2011
Nao YOU ocupar-me da rilelancolia. discursiva da narrativa romantica, a melancolia das deambula<;5es do folneur, uma melancolia doce e atona, demissionista, sem outro compromisso com a epoca que a contempla<;ao da finitude das coisas. Eu diria que a melancolia romantica e mesmo a «bills negra», diagnosticada pela medicina na Antiguidade, que torna os individuos atreitos a ser possuidos pelo Demonio, quer dizer, pelo Diabo (no sentido da sugestao etimologica de dia/bolC, uma imagem que se separa e autonomiza)I. Sobre a melancolia discursiva, seja ela doce e atona, ou inconformista, gostaria de convocar aqui um trecho de Camilo Castelo Branco, inserto no capitulo XIX de A Brasileira de Prazins. Transcrevo um pequeno dialogo entre 0 padre Osorio e 0 missionario freiJoao de Borba da Montanha (0 de Varatojo), cujo «confessionario era a sua faina de prosperrimas colheitas para a_LeU»: [ ... ] Nao ve, padre lOaD, que esta rapariga esta abatida por uma grande amargura que a prende com actos da sua vida passada? Nao a ve tao caida, tao melanc6lica ... Este entendimento do que e separado e concomitante ao entendimento daquilo que e diverso. E 0 diverso, nas palavras de Victor Segalen (1995, I: 747), e apenas «0 poder de Conceber Outrem». Esta percep~ao do diverso «faz do conhecimento a sensa~ao da estranheza, do inesperado, do sobre•humano, de 'tudo 0 que e Outro', sem que seja todavia um objecto aparentado ao correlato de um sujeito no sentido cartesiano» (Christine Bud•Glucksman, 2005: 51). Pode dizer•se, de facto, retomando esta autora (ibidem) que «0 vento de ateismo reivindicado nao e a perda do misterio. [ ... J Um tal vento deixa produzir•se 0 momento «em que omisterioso partidpa da vertigem. Porque e no proprio diverso que 'e exaltada a e.xistenda'».
A vida psíquica do poder: Melancolia, políticas da visceralidade e políticas da transformação
em Debates Interdisciplinares sobre Direito e Direitos Humanos Impasses, Riscos e Desafios, 2022
Neste artigo, iremos pensar as intrincadas relações entre a dinâmica do poder, seus efeitos na subjetividade e o condicionamento produzido por eles nas habilidades de respostas às violências vividas. Aproximaremos a ideia de um “diálogo de melancolia” ao que o filósofo Achilles Mbembe nomeou de “políticas da visceralidade”. A melancolia e a visceralidade serão as figuras que nos permitirão articular o circuito dos afetos envolvidos no trauma, no luto e na memória. Com esse fio condutor, tentaremos lançar luz à problemática: como fazer brotar, das cinzas do solo da melancolia, condições para uma solidariedade capaz de gerar transformações políticas.
Melancolia, o objeto perdido que me assombra
Reverso, 2018
Este ensaio tem como objetivo explorar teoricamente a condição da melancolia como estrutura clínica, a partir do viés psicanalítico. Com base no livro Psicose e laço social, de Antonio Quinet (2006), as principais características desse fenômeno serão apresentadas aqui, paralelamente com o entendimento de outros autores que já trabalharam com essas ideias. Fazendo uma passagem de Freud a Lacan, será possível compreender os motivos que levam a melancolia a se enquadrar como uma estrutura psicótica.
Loucura, Melancolia e Criatividade
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Francisco de Holanda, teórico de arte do século XVI, é o porta-voz de algo radicalmente novo em Portugal, que contrariando a tendência vigente de associar o trabalho artístico ao trabalho ofcinal, luta pela superação desse preconceito, defendendo a criatividade e a originalidade do artista, assente no lado melancólico, intelectual e excepcional do artista que é manifestado através da sua excepcional personalidade, com traços que a tradição associou à loucura.
Tendo os sonhos nos servido de protótipo das perturbações mentais narcisistas na vida normal, tentaremos agora lançar alguma luz sobre a natureza da melancolia, comparando-a com o afeto normal do luto. Dessa vez, porém, devemos começar por fazer uma confissão, como advertência contra qualquer superestimação do valor de nossas conclusões. A melancolia, cuja definição varia inclusive na psiquiatria descritiva, assume várias formas clínicas, cujo agrupamento numa única unidade não parece ter sido estabelecido com certeza, sendo que algumas dessas formas sugerem afecções antes somáticas do que psicogênicas. Nosso material, independentemente de tais impressões acessíveis a todo observador, limita-se a um pequeno número de casos de natureza psicogênica indiscutível. Desde o início, portanto abandonaremos toda e qualquer reivindicação à validade geral de nossas conclusões, e nos consolaremos com a reflexão de que, com os meios de pesquisa à nossa disposição hoje em dia, dificilmente descobriríamos alguma coisa que não fosse típica, se não de toda uma classe de perturbações, pelo menos de um pequeno grupo delas. A correlação entre a melancolia e o luto parece ser justificada pelo quadro geral dessas duas condições. Além disso, as causas excitantes devidas a influências ambientais são, na medida em que podemos discerni-las, as mesmas para ambas as condições. O luto, de modo geral, é a reação à perda de um ente querido, à perda de alguma abstração que ocupou o lugar de um ente querido, como o país, a liberdade ou o ideal de alguém, e assim por diante. Em algumas pessoas, as mesmas influências produzem melancolia em vez de luto; por conseguinte, suspeitamos de que essas pessoas possuem uma disposição patológica. Também vale a pena notar que, embora o luto envolva graves afastamentos daquilo que constitui a atitude normal para com a vida, jamais nos ocorre considerá-lo como sendo uma condição patológica e submetê-lo a tratamento médico. Confiamos em que seja superado após certo lapso de tempo, e julgamos inútil ou mesmo prejudicial qualquer interferência em relação a ele. Os traços mentais distintivos da melancolia são um desânimo profundamente penoso, a cessação de interesse pelo mundo externo, a perda da capacidade de amar, a inibição de toda e qualquer atividade, e uma diminuição dos sentimentos de auto-estima a ponto de encontrar expressão em auto-recriminação e auto-envilecimento, culminando numa expectativa delirante de punição. Esse quadro torna-se um pouco mais inteligível quando consideramos que, com uma única exceção, os mesmos traços são encontrados no luto. A perturbação da auto-estima está ausente no luto; afora isso, porém, as características são as mesmas. O luto profundo, a reação à perda de alguém que se ama, encerra o mesmo estado de espírito penoso, a mesma perda de interesse pelo mundo externo — na medida em que este não evoca esse alguém —, a mesma perda da capacidade de adotar um novo objeto de amor (o que significaria substituí-lo) e o mesmo afastamento de toda e qualquer atividade que não esteja ligada a pensamentos sobre ele. É fácil constatar que essa inibição e circunscrisão do ego é expressão de uma exclusiva devoção ao luto, devoção que nada deixa a outros propósitos ou a outros interesses. E, realmente, só porque sabemos explicá-la tão bem é que essa atitude não nos parece patológica. Parece-nos também uma comparação adequada chamar a disposição para o luto de 'dolorosa'. É bem provável que vejamos a justificação disso quando estivermos em condições de apresentar uma caracterização da economia da dor. Em que consiste, portanto, o trabalho que o luto realiza? Não me parece forçado apresentá-lo da forma que se segue. O teste da realidade revelou que o objeto amado não existe mais, passando a exigir que toda a libido seja retirada de suas ligações com aquele objeto. Essa exigência provoca uma oposição compreensível — é fato notório que as pessoas nunca abandonam de bom grado uma posição libidinal, nem mesmo, na realidade, quando um substituto já se lhes acena. Esta oposição pode ser tão intensa, que dá lugar a um desvio da realidade e a um apego ao objeto por intermédio de uma psicose alucinatória carregada de desejo. Normalmente, prevalece o respeito pela realidade, ainda que suas ordens não possam ser obedecidas de imediato. São executadas pouco a pouco, com grande dispêndio de tempo e de energia catexial, prolongando-se psiquicamente, nesse meio tempo, a existência do objeto perdido. Cada uma das lembranças e expectativas isoladas através das quais a libido está vinculada ao objeto é evocada e hipercatexizada, e o desligamento da libido se realiza em relação a cada uma delas. Por que essa transigência, pela qual o domínio da realidade se faz fragmentariamente, deve ser tão extraordinariamente penosa, de forma alguma é coisa fácil de explicar em termos de economia. É notável que esse penoso desprazer seja aceito por nós como algo natural. Contudo, o fato é que, quando o trabalho do luto se conclui, o ego fica outra vez livre e desinibido. Apliquemos agora à melancolia o que aprendemos sobre o luto. Num conjunto de casos é evidente que a melancolia também pode constituir reação à perda de um objeto amado. Onde as causas excitantes se mostram diferentes, pode-se reconhecer que existe uma perda de natureza mais ideal. O objeto talvez não tenha realmente morrido, mas tenha sido perdido enquanto objeto de amor (como no caso, por exemplo, de uma noiva que tenha levado o fora). Ainda em outros casos nos sentimos justificados em sustentar a crença de que uma perda dessa espécie ocorreu; não podemos, porém, ver claramente o que foi perdido, sendo de todo razoável supor que também o paciente não pode conscientemente receber o que perdeu. Isso, realmente, talvez ocorra dessa forma, mesmo que o paciente esteja cônscio da perda que deu origem à sua melancolia, mas apenas no sentido de que sabe quem ele perdeu, mas não o que perdeu nesse alguém.
Matraga - Revista do Programa de Pós-Graduação em Letras da UERJ
Resenha do livro Melancolia, de Luiz Costa Lima, publicado em 2017.
Melancolia, depressão e suas narrativas
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Os diversos estados depressivos diferem em sua psicodinâmica e nas narrativas que originam. Há um "discurso depressivo", onde o estado de ânimo é contextualizado, e os investimentos afetivos mantidos. Mas a capacidade de encadeamento de significantes depende do luto do objeto arcaico, luto esse impossibilitado na melancolia. Surge daí um "discurso melancólico" onde se observa uma ausência de historicidade para os afetos, em uma narrativa niilista e pobre em expressões fantasmáticas.
Melancolia e poder: análise retórica dos prelúdios de Jacques-Martin Hotteterre
Art Research Journal, 2023
Resumo O presente trabalho consiste em comparar dois grupos de Préludes (Mi menor e Mi maior) de Jacques-Martin Hotteterre para flauta transversal extraídos de L'Art de Préluder, publicado em 1719. Estas micropeças constituem um paradigma para as normas ou regras de improvisação ou composição "em tempo real" do que o autor chama de Préludes de caprice. A retórica é escolhida para a análise como uma disciplina que fornece ferramentas atuais no horizonte cultural da época para explorar não apenas os aspectos composicionais das peças, mas também os vestígios dos tipos de escuta e habilidades cognitivas dos destinatários. As peças em Mi menor recorrem à melancolia como representação do caráter e perfil de comportamento do cortesão, enquanto os prelúdios em Mi maior tematizam aspectos da representação do poder, uma visão irônica do mesmo e conversas galantes.