Ventura, o Fatalista e a classe inadequada (original) (raw)

A editora Âyiné, com tradução de Vinícus Nicastro Honesko, presenteou, em 2022, o público brasileiro com o livro Teoria da Classe Inadequada (originalmente de 2017) do jovem autor Raffaele Alberto Ventura (1983). Antes de começarmos, é de bom tom afastar um possível equívoco. Embora no título do livro conste "teoria", na verdade, temos diante de nós um longo ensaio argumentativo divido em seis capítulos, uma "premissa" e um epílogo-e não exatamente um livro conforme o molde acadêmico ou disciplinar. Evidentemente não prestar homenagens às práticas acadêmicas não consiste em nenhum demérito. Formulando ou não uma teoria, o fato é que esse livro passeia entre inúmeros autores de Ernst Mandel a Peter Turchin, de Veblen a Marx, e atravessa inúmeras discussão (p. ex, sobre o trabalho improdutivo), flertando até mesmo com um esquema de filosofia da história ("os cinco estágios do colapso", seção do capítulo 2). Ventura lança exemplos que vão de Zola a Shakespeare, passando por Michel Houellebecq e acabando em Kafka e Tchekhov-procedimento que parece estar em voga, qual seja, se valer da literatura (passim) ou de filmes (p. 107ss) para apoiar um argumento.