Geopolítica Rodoviária na Amazônia (original) (raw)
O presente trabalho discorre sobre a política rodoviária desenvolvida pelo governo militar nos anos 60 e 70, do século XX, apoiada em concepções clássicas sobre a geopolítica da circulação, elaboradas por Friedrich Ratzel e Camille Vallaux, e que foram assimiladas pela Escola Superior de Guerra – ESG, no Brasil, resultando em uma gama de projetos com vista à integração territorial. Naquele momento, a Amazônia não estava articulada ao sistema rodoviário nacional. Para articular o território e promover a segurança e o desenvolvimento, o governo militar lançou o Programa de Integração Nacional - PIN, constituindo-se em uma ferramenta do Estado para concluir obras que estavam sendo realizadas, em locais onde o isolamento, a estagnação e o vazio demográfico seriam “resolvidos” com a interligação de cidades do centro-oeste e sudeste ao norte, particularmente a Amazônia, que se encontrava geograficamente na parte periférica em relação a outras regiões, consideradas desenvolvidas. Essa política rodoviária permitiria uma comunicação eficiente em e com qualquer ponto do território, sendo um pensamento extremamente geoestratégico, elaborado durante o regime militar, tendo como um dos objetivos conectar a porção meridional e a setentrional do território e constituir uma integração nacional e internacional. A política rodoviária na Amazônia se constituiu numa forma de possibilitar acesso a uma porção preservada da floresta, ocasionando diversos conflitos sociais e impactos ambientais em diversas escalas. Uma parcela dessas rodovias, projetadas e implantadas na Amazônia, não chegou a ser concretizada, porém, na atualidade, ocorre um processo de retomada do projeto de integração que não chegou a ser concluído, mas não consiste em abrir rodovias extensas, e sim consolidar as rotas já existentes, através de dois instrumentos: o Programa de Aceleração do Crescimento - PAC e a Iniciativa para a Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana - IIRSA, ambos na Amazônia. O primeiro, na reconstrução da BR-319, interligando a porção norte e sul, que corresponde, posteriormente, às rotas de exportação em direção à Venezuela, e a BR-163 propiciando o fluxo, principalmente de exportações, oriundo do centro-oeste. É notável que ambos os projetos se articulam, e, simultaneamente, realizam uma integração territorial da Amazônia e, simultaneamente, criam-se novas usinas hidrelétricas próximas dos eixos rodoviários.