O culto do espírito santo: bodo e banquetes da festa do imperador de eiras (original) (raw)
2022, Das Culturas da Alimentação ao Culto dos Alimentos
A origem das Festas Imperiais do Espírito Santo tem uma expressão religiosa repleta de simbolismos. Assim, o Pentecostes traduz-se na festa da abundância, ou seja, dar de comer a uma população exausta pelas carências do inverno. Adviria, ainda, a sagração das idades da História, anunciados por Joaquim de Fiore. Este cerimonial teve expressões em diversas localidades: Alenquer, Tomar, Reguengo do Fetal, Zibreira e Penedo, estendendo-se também aos Açores, à Madeira e ao Brasil. Tentaremos reconstituir a história da Festa do Imperador de Eiras, associada às solenidades do Espírito Santo. Eiras, local ameno e próximo de Coimbra, fora escolhido para descanso do Rei D. Dinis e de sua mulher. Daí a suposta ligação deste culto a Isabel de Aragão, segundo a tradição popular e alguma historiografia. No século XVI, os moradores renovam os seus votos ao Divino, por ocasião de uma peste, a que a vila foi poupada. Em 1734, Fabião Soares de Paredes, fez uma descrição minuciosa destas festividades. No decorrer dos tempos esta festa tomou laivos de extravagância. A Festa do Imperador de Eiras terminaria em meados do século XVIII, mas não a do Divino Espírito Santo. O bodo e os banquetes do Imperador de Eiras são, pois, elementos emblemáticos do culto, consistindo em repastos ritualizados e hierarquizados.