Vogais em Contexto Postônico Medial no Português de São Tomé (original) (raw)

Nasalização vocálica no Português urbano de São Tomé e Príncipe

Diacrítica

Este artigo examina comparativamente a nasalidade vocálica em duas variedades de português faladas em São Tomé e Príncipe: o português santomense (PST) e o português principense (PP). Pautados na análise da duração e dos formantes dos segmentos nasais (ṽN), nasalizados (ṽ.N) e orais (V), observamos dois processos de nasalização distintos nessas variedades: a nasalidade vocálica tautossilábica, engatilhada por uma coda nasal, e a nasalidade vocálica heterossilábica, promovida por um onset nasal. Ambos os processos decorrem do espraiamento regressivo do traço [+nasal] para V, porém, enquanto a nasalidade tautossilábica é obrigatória, distingue significado e ocasiona o apagamento da consoante nasal em coda, resultando na duração alongada de ṽN em relação à V (48% para o PST e 60% para o PP), a nasalidade heterossilábica não ocorreu em pretônicas, é opcional em tônicas e mantém a consoante nasal em onset, refletindo, consequentemente, na duração de ṽ.N, a qual é equivalente à V.

Situação linguística do português em São Tomé e Príncipe

A Cor das Letras, 2020

Este trabalho pretende discutir a situação linguística do português em São Tomé e Príncipe, situado no Golfo da Guiné. São Tomé e Príncipe é um país multilíngue, onde línguas crioulas de base portuguesa convivem com variedades locais de português, compondo uma ecologia linguística de grande complexidade e fortemente marcada pelo contato linguístico de línguas tipologicamente diferentes. Apresentaremos as características sócio-históricas da situação de contato em São Tomé e Príncipe e discutiremos a situação linguística atual e o papel do português neste contexto.

O Apagamento Da Vogal Postônica Medial Na Norma Urbana De São Tomé

PROLÍNGUA, 2019

O apagamento da vogal postônica medial, processo que culmina a regularização de palavras proparoxítonas ao padrão paroxítono, é um fenômeno antigo em Português, com raízes no Latim. A redução de proparoxítonos é observada em diversas normas do Português Brasileiro (PB) e do Português Europeu (PE). Entretanto, poucos são os estudos que se dedicam à descrição do fenômeno em outras variedades do Português. Neste artigo, propõe-se uma descrição do processo de apagamento da postônica medial no Português de São Tomé, em dados relativos à variedade urbana da capital do arquipélago, localizado na costa atlântica do continente africano. A hipótese que norteia este trabalho é a de que as proparoxítonas, não naturais até em contextos em que o Português é língua majoritária, seriam consistentemente regularizadas a paroxítonas na variedade são tomense, como efeito da coexistência do Português com as línguas locais da comunidade.

Consoantes róticas e variação no português de São Tomé

Revista da Associação Portuguesa de Linguística, 2019

We investigate the phonetic variants associated with European Portuguese’s rhotic phonemes /ʀ/ e /ɾ/ in Santomean Portuguese, a variety that presently constitutes the L1 of the majority of San Tomeans, and we discuss the linguistic and sociolinguistic variables that underlie the observed variation. In order to do so, we carried out phonetic transcription of excerpts from 9 spontaneous interviews with Santomean informants, who were recorded in San Tome in 2008 and 2012. The data were transcribed with the EXMARaLDA Partitur software, counted manually, and linguistically analysed. The findings were confronted with recent studies on rhotics in this variety. Our data confirm that the neutralization of the distinction between /ʀ/ and /ɾ/ is a tendency stabilizing in the younger age groups of the urban population of São Tomé (cf. Bouchard, 2017). In light of the overall results, we further propose that São Tomean Portuguese lacks a phonological distinction between /ʀ/ and /ɾ/ (cf. Brandão,...

Concordância Nominal no Português de São Tomé e no Português de Moçambique

Duas Variedades Africanas do Português: Variáveis Fonético-Fonológicas e Morfossintáticas, 2018

A concordância nominal talvez seja, juntamente com a concordância verbal, um dos temas mais focalizados no âmbito do Português do Brasil (PB). Em todas as variedades, as rurais e as urbanas, nos diferentes pontos do país, ela constitui uma regra variável, com fortes implicações sociolinguísticas, uma vez que o cancelamento da marca de plural tem caráter estigmatizante. A observação do fenômeno, embora de forma assistemática, remonta aos primeiros trabalhos dialectológicos, em que já se chamava a atenção para o fato de a marca de número se encontrar predominantemente no primeiro constituinte do sintagma nominal, em exemplos como "Estas carta não são as minha", dado por Amaral (1976 [1920]), ou "grandes coisa/coisas grande", fornecido por Marroquim (1945). A partir da década de 1970, com a difusão no Brasil da Sociolinguística Variacionista, o tema é retomado, gerando uma série de estudos como os de Braga; Scherre (1976), Braga (1977), Scherre (1978, 1988), Guy (1981), para só mencionar os pioneiros nessa linha. A esses trabalhos seguiram-se vários outros, como os realizados, individualmente ou em conjunto, por Naro e Scherre, e por diversos doutorandos e mestrandos.

Reflexões De Aspectos Morfofonêmicos Das Vogais Do Português

2008

O papel desempenhado pelas vogais em Reflexoes de aspectos morfofonemicos das vogais do portugues, no contexto dos estudos estruturalistas. Este e o objeto de estudo deste trabalho. Pressupomos, baseadas nos autores indicados no texto, que ha uma estreita relacao entre as regras fonologicas e as regras morfologicas, no que diz respeito a problemas empiricos tratados pelas duas areas de estudo, ao que ressaltamos a importância do papel das vogais como ponto de interseccao no tratamento dos dados morfofonicos. O trabalho tem como suporte maior os pressupostos teoricos de Câmara Jr. (1977, 1998, 2001, 2005).

ACENTO SECUNDÁRIO E EPÊNTESE VOCÁLICA NO PORTUGUÊS DO SUL DO BRASIL

Resumo: A observação de que o acento secundário ocorre na pauta pretônica, um dos contextos mais favorecedores para a ocorrência de epêntese, conforme análises variacionistas, como a de , e de que a epêntese cria uma sílaba a mais nessa posição parece indicar que possa haver uma correlação entre a incidência desse fenômeno e esse tipo de acento. Collischonn (1994) e Moraes (2003) identificam duas tendências em relação ao acento secundário em português: proeminência inicial e alternância binária entre sílabas fracas e fortes. Quando uma palavra tem número par de sílabas pretônicas essas duas tendências podem ser atendidas simultaneamente; o mesmo não ocorre quando o número de sílabas é ímpar. Neste trabalho, investiga-se a possibilidade de ocorrer mais epêntese vocálica em palavras com número ímpar de sílabas pretônicas para atender às duas tendências para a incidência de acento secundário e também analisa-se a localização desse acento em palavras com esse número de sílabas com e sem inserção vocálica. A amostra selecionada constitui-se de 8 entrevistas, pertencentes ao Banco de Dados VARSUL, realizadas na cidade de Porto Alegre com informantes do sexo masculino e feminino, nas faixas etárias mais de 50 anos e menos de 50 anos e escolaridade superior. Palavras-chave: Acento Secundário; Epêntese Vocálica; Português Brasileiro; Análise Fonológica.

Prosódia do português de São Tomé: o contorno entoacional das sentenças declarativas neutras

Antes de tudo, agradeço a Deus e ao Universo por todas as pessoas maravilhosas que encontrei pelo caminho. Sem elas não seria quem sou hoje e não teria chegado até aqui. Agradeço imensamente aos meus pais, Lucilene e Luis Antonio, por terem me ensinado com palavras e ações que estudar é a melhor forma de se tornar alguém. Muito obrigada por me criarem em um lar cheio de amor e de livros. Lucilene e Luis Antonio, sem o carinho, exemplo, apoio e ajuda diários de vocês eu não teria conseguido. Meu eterno 'obrigada'! Agradeço com todo meu coração ao meu companheiro Rodrigo, meu mais que marido e amigo, meu "parça". Obrigada por acreditar em mim, pelas risadas, pelas conversas sem fim sobre linguística, o universo e tudo mais, e por achar um barato tudo isso, tanto quanto eu. Obrigada pelas revisões e edições deste e de tantos outros trabalhos. Somos um lindo time e você é uma das minhas pessoas favoritas no mundo. Agradeço também ao meu pequeno lindo filho, por tornar a vida mais bonita, mesmo quando este trabalho parecia não ter fim. Lucas, obrigada pelo seu sorriso, pela sua vontade de aprender coisas novas (que me inspira tanto) e por produzir novos fones a cada dia. Meu 'muito obrigada' também à minha irmã Mariana, por seu exemplo de dedicação em tudo o que faz e por fazer parte da minha vida e da minha família. Agradeço muito a Marta e Nilson, Bruno e Janaína, por me darem apoio e retaguarda para a escrita deste trabalho, cuidando do pequeno e sendo sempre tão gentis comigo. Agradeço à minha querida orientadora, professora Flaviane R. Fernandes Svartman, por ter me acolhido como orientanda e "filha acadêmica" e por tanto ter me ensinado sobre prosódia e a beleza da música das línguas. Obrigada por ser sempre gentil diante das minhas dúvidas e por acreditar no meu potencial. Agradeço imensamente às professoras Carolina Serra, Luciani Tenani e Manuele Bandeira, membros da banca de defesa desta dissertação, pela leitura atenta, pelos comentários e sugestões que enriqueceram tanto este trabalho. Quaisquer erros remanescentes são de minha inteira responsabilidade. Agradeço também aos professores Gabriel Antunes de Araujo, Ana Lívia Agostinho e Margarida Petter, por terem aceitado nosso convite para membros suplentes da banca de defesa. Ao grupo de estudos de prosódia da USP, com quem dividi problemas, dilemas, risadas e congressos, obrigada por todo conhecimento construído e dividido. Meu agradecimento vii especial ao Vinícius, por ter me ensinado muito sobre Praat e seus scripts, pelos insights sobre partes complicadas da análise de dados e por ser uma voz da prosódia sobre o português na África; à Carol, por ter dividido comigo as angústias de cursar as disciplinas de pós-graduação, pelos cafés, conversas e exemplo de como uma capricorniana deve ser; e ao Matheus, pelo seu jeito leve e jovial de encarar a pós-graduação, que me fez rever minha postura muitas vezes. Obrigada pelo time maravilhoso, eficaz e divertido que formamos. Agradeço também aos meus professores de graduação e pós-graduação do curso de Letras da FFLCH, por tanto me ensinarem sobre as línguas e como elas recortam e moldam sociedades, em especial à professora Margarida Petter, que me inspira como africanista, e ao professor Gabriel Antunes de Araujo, quem primeiro me apresentou a minha menina dos olhos, que é a Fonologia, e São Tomé, a ilhazinha pela qual me apaixonei. Meu muito mais que obrigada aos meus queridos amigos e amigas,

A GRAFIA NÃO-CONVENCIONAL DE VOGAIS PRETÔNICAS MEDIAIS: EVIDÊNCIAS DE CARACTERÍSTICAS FONOLÓGICAS DO PORTUGUÊS

As vogais pretônicas mediais no Português do Brasil (doravante, PB) têm sido objeto de investigação por propiciarem reflexões acerca do tratamento da variação fonológica que se verifica tanto em uma mesma variedade quanto entre variedades da língua portuguesa (cf. LEE; OLIVEIRA, 2003). Para além de serem constatadas diferentes realizações das vogais mediais, verificam-se, também, grafias não-convencionais dessas vogais em textos de alunos em fase inicial de aquisição da escrita que, em certa medida, guardam relação com as realizações atestadas nos enunciados falados. Neste texto, nosso objetivo é discutir em que medida podem se identificar evidências do sistema fonológico das vogais em posição pretônica do PB, por meio da análise da escrita não-convencional de , , , 1 em sílabas pretônicas, tanto em verbos quanto em não-verbos