Uma história do conceito político de povo no Brasil: Revolução e historicização da linguagem política (original) (raw)
Povo é um conceito de significado fluido e ambíguo, um conhecido exemplo de polissemia na linguagem 1 . Esteio do mundo moderno, o conceito de povo esteve no centro de suas grandes invenções políticas, a cidadania, a democracia e a nacionalidade, sendo, portanto, de uso abundante e plural, tanto na linguagem cotidiana, quanto nos meios científicos e intelectuais. Pode significar a parte e a totalidade de uma população, tomar acepções positivas e negativas, ser glorificado, depreciado ou mesmo temido. É usado como justificativa para quase tudo na vida política e social, pois é dele que emanam, ao menos em teoria, a legitimidade dos governos, assim como os problemas sociais e econômicos. É o ente a que se dirigem políticas públicas, assim como os chamados à ação política e à revolução. O povo é considerado responsável pelos sucessos e fracassos de uma sociedade e é em nome dele que as diversas vozes se elevam na cena pública. O povo é sempre uma questão a ser resolvida, uma problema a ser solucionado, uma vez que defini-lo e encontrar os modos de sua efetivação políticoinstitucional é sempre um grande desafio. São raros os momentos em que os agentes históricos se dedicaram a debater o que é o povo, conceituá-lo e definí-lo de forma mais circunscrita. Trata-se de um conceito, de uma idéia absolutamente presente nos debates, mas de forma extremamente pulverizada, espalhada e generalizada. Estava diante de um objeto difícil de dominar, extremamente fluido e fugidio. Onde pesquisar? Que fontes eleger para o estudo, uma vez que o conceito, a noção ou a idéia de povo aparecem em praticamente todos os contextos, documentos e debates travados durante o período escolhido? Além disso, sendo o povo um conhecido exemplo de polissemia da linguagem que significados eu concentraria minha análise?