Os 'outros japoneses': festivais e construção identidária na comunidade okinawana da cidade de São Paulo (original) (raw)
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Esta pesquisa originou-se de algumas indagações acerca do posicionamento identitário dos nikkei (descendentes de japoneses) no Brasil. A primeira delas é com relação ao estereótipo fortemente consolidado no senso comum de que os japoneses formam um grupo étnico e cultural sólido e homogêneo. Nesse sentido, esse trabalho tem como um de seus objetivos demonstrar que os imigrantes okinawanos no Brasil, apesar de terem sido historicamente identificados apenas como “japoneses”, constituíram-se em um grupo étnico distinto dos demais nikkei. A segunda indagação busca avaliar em que medida as festividades realizadas pela comunidade okinawana paulistana se inserem como os principais elementos demarcatórios das fronteiras étnicas e culturais desse grupo em relação aos não descendentes e aos demais nikkei. Essas festas podem ser compreendidas como um esforço por parte dos membros da comunidade uchinanchu (okinawanos na língua de Okinawa) de se afirmarem como brasileiros, porém, tendo uma descendência distinta que transcende o mero epíteto “nipo-brasileiro”. Através de entrevistas com membros da comunidade okinawana paulistana, bem como da análise de três de seus maiores w mais importantes eventos, o Kyodo matsuri em Diadema, o Okinawa festival no bairro da Vila Carrão e o Sanshin no hi no bairro da Liberdade, a intenção é perceber como essas festividades são mobilizadas para a construção de uma “okinawanidade diaspórica” brasileira (paulistana) ao mesmo tempo em que se mostram interessantes espaços de disputas e negociações.
Os Okinawanos em São Paulo: Festividades e identidade
cih.uem.br
Resumo: O objetivo desse artigo é por em pauta de discussão uma temática ainda recente no campo dos estudos acerca da imigração japonesa para o Brasil. A proposta é apresentar os imigrantes okinawanos como um grupo que apesar de ser oficialmente japonês, foi historicamente discriminado pela sociedade japonesa majoritária, a partir de meados do século XIX, quando Okinawa é anexada ao Império do Japão. Os okinawanos sofreram forte preconceito por parte dos demais japoneses, especialmente até o fim da Segunda Guerra Mundial, por serem considerados um povo ignorante, "achinesado" e atrasado. Durante a maior parte de sua história, Okinawa manteve relações com o Japão, a China e o Sudeste Asiático. Assim, as manifestações culturais que fugiam ao padrão japonês eram discriminadas, ou até mesmo perseguidas. No contexto da imigração japonesa ao Brasil, a província de Okinawa foi a que sofreu maior emigração, devido à grande pobreza e crise social que atingiu a população da ilha no começo do século XX. Só a Província de Okinawa (num total de 47) foi responsável por cerca de dez por cento de todos os emigrantes nipônicos. As diferenças e os preconceitos para com os okinawanos existentes no Japão permaneceram em terras brasileiras inclusive algumas décadas após a Segunda Guerra. No Brasil, os okinawanos e seus descendentes procuraram afirmar constantemente sua identidade como um povo possuidor de uma cultura singular e divergente em muitos aspectos da cultura dos demais japoneses. Devido à sua localização geográfica e à sua história marcada por um intenso contato com diversos povos, os okinawanos se constituíram como um povo mais receptivo, miscigenado e com práticas sociais e culturais mais inclusivas que os demais japoneses, os quais viveram séculos de isolamento devido a sua própria geografia, e a determinadas políticas isolacionistas adotadas pelos japoneses em diversos períodos. Devido a isso, uma das formas mais importantes que os okinawanos e seus descendentes se valem para afirmarem sua identidade sãos as diversas festividades, realizadas constantemente, cujo objetivo é reafirmar certas tradições, propiciar um momento de sociabilidade e entretenimento entre os membros. Nesse sentido, este artigo tem como objetivo, apresentar o grupo dos okinawanos mostrando brevemente sua formação histórica como um grupo contrastante em relação aos demais japoneses e ainda demonstrando que tais diferenças permaneceram no contexto brasileiro pós-imigração. Em seguida, será proposta uma breve discussão acerca das potencialidades e possibilidades de se utilizar as festas como objeto de estudo histórico. Cabe lembrar que esse trabalho está restrito à analise das festas realizadas pela comunidade okinawana da cidade de São Paulo. Por fim, será posto em pauta uma discussão acerca dos conceitos de etnicidade e identidade, visto que durante muito tempo se utilizou um conceito de etnicidade e identidade por demais rígidos, o que impedia que se percebessem as várias fragmentações e fissuras que pode haver em determinados grupos étnicos tidos tradicionalmente como homogêneos. Os japoneses, por exemplo, na grande maioria das vezes foram interpretados por historiadores e cientistas sociais como um grupo sólido e coeso em termos étnicos e culturais. Com esse artigo, que é parte de uma pesquisa maior, se pretende questionar tal posicionamento defendendo que os japoneses não são um grupo homogêneo e que ter consciência desse fato é algo fundamental para que se possa
Os Pankararu e o Associativismo Indígena na Cidade de São Paulo
Tellus, 2014
No relatório da Comissão Pró-Índio de São Paulo (2005,p. 05), segundo dados do IBGE, o número de indígenas que vivem na região metropolitana de São Paulo é de 59.989 indivíduos, o que dá ao estado paulista, em números, a terceira maior população indígena do país (atrás somente dos estados do Amazonase da Bahia). As principais etnias que constituem essa população vieram migradas do nordeste brasileiro, como os Pankararu (PE), Fulni-ô (PE), Atikum (PE), Xurucu (PE), Kariri-Xocó (AL), Pankararé (BA) e Potiguara (PB). No Estado de São Paulo existe cerca de doze associações indígenas de diversas etnias. A maior parte das associações foi fundada de forma autônoma, com o intuito de fortalecer politicamente a demanda dessas populações pela assistência diferenciada garantida pelo estado aos povos indígenas (saúde, educação, preservação de patrimônio, território, moradia e outros).
Resumo: Os okinawanos são um grupo de nacionalidade japonesa, mas com particularidades históricas e culturais, que se expressam, também, nas praticas do culto aos antepassados, chamado Sosen Suuhai . Assim, esse artigo tem por objetivo expor algumas das relações entre este culto e aspectos como família, comunidade, identidade e memória dos okinawanos no Brasil, a partir de entrevistas de história oral temática com praticantes do culto e de observação participante na comunidade okinawana da cidade de São Paulo, entre 2013 e 2014. Primeiramente, as relações históricas entre okinawanos e japoneses são apresentadas como pano de fundo da articulação entre culto, memória e identidade. Em um segundo momento são apresentadas associações do culto okinawano com características relativas à alegria e expansão, em oposição à sobriedade e hierarquia do culto japonês. Tal dicotomização dos significados do Sosen Suuhai se mostrou estratégica, tanto para a demarcação étnica, quanto para ressignificação da identidade okinawana no Brasil. Palavras-chave: culto aos antepassados; identidade; Okinawa Abstract: The Okinawans are Japanese with historical and cultural particularities, including ancestor worship, known as Sosen Suuhai . This paper aims to expose some of the relations between this practice and other aspects of life such as family, community, identity and memory of the Okinawans in Brazil. This study is based on interviews from worship practitioners and participant observation in the Okinawan community in São Paulo, between 2013 and 2014. First, the historical relations between okinawans and Japanese are displayed as a background to worship, memory and identity. Secondly, we will present some associations between okinawan worship which is carachterized by joy and expansion, characteristics that are opposed to the sobriety and hierarchy of the japanese.
Estudos Japoneses, 1969
This article makes use of a traditional Japanese art, tea ceremony, to examine the attitudes of immigrants who have to face cultural assimilation. In order to do that the author draws a parallel between Brazilian history after World War II and the behavior of immigrants and their descendants since then. Issei (first generation) and (second generation) led different ways since the end of the war. Enjoying a more economically stable situation, and having nowhere to go back to (since Japan had lost the war), the issei went back to their roots and started learning tea ceremony. On the other hand, the nissei needed to assimilate the Brazilian culture if they were to ascend economically and socially. However, since the 80’s Japan has played a central role in the world’s economy and politics. Therefore, there is a new interest in its traditional culture. The research revealed that, presently, not only are nissei and sansei (third generation) willing to learn tea ceremony, but also Brazilia...
O Papel dos Museus na Construção da Identidade da Comunidade Nikkei no Brasil
Com o início da imigração japonesa para o Brasil em 1908, ocorreu a formação de uma grande comunidade composta pelos imigrantes e seus descendentes. Entre as iniciativas voltadas para a coesão da comunidade, os museus tiveram um papel destacado, ao registrar e disseminar uma narrativa histórica cobrindo desde os primeiros tempos da imigração, com as dificuldades enfrentadas pelos pioneiros, até a plena integração na sociedade brasileira, representada pela ascensão social de seus integrantes. Esta narrativa, com os atributos positivos que a caracterizam, fornece um sentido de identidade cultural que distingue a comunidade em relação ao conjunto da sociedade. Os museus voltados para a imigração japonesa apresentam tanto atributos de museus históricos como de museus comunitários, integrando em seu acervo vestígios materiais e imateriais do processo de imigração. São apresentados os casos de três museus representativos da comunidade, situados no Estado de São Paulo, analisando-se seu papel atual e perspectivas futuras.
A cerimônia do chá como elemento de convivialidade na população nipo-brasileira
2011
O presente trabalho focaliza a pratica da cerimonia do cha na populacao nipo-brasileira da cidade de Sao Paulo, com o objetivo de apontar os elementos que indicam a contribuicao dessa cerimonia no processo de adaptacao do imigrante ao novo pais. O imigrante precisa reconstruir seus papeis sociais e reavaliar seus valores e condutas para a sua insercao na nova cultura. E para contornar essas dificuldades eles se agrupam e defendem os tracos culturais que os identifica. Essa dimensao da preservacao da cerimonia do cha, tao importante para o imigrante, se ampliou ao proporcionar uma positiva articulacao com os brasileiros nao descendentes atraves da divulgacao do ensino da cerimonia do cha. O segundo objetivo e apontar a relacao direta entre as caracteristicas da cerimonia do cha com a concepcao da hospitalidade enquanto dadiva do espaco e expansao coletiva da convivialidade. Comprovou-se que a cerimonia do cha possui uma dupla funcao; manter a tradicao japonesa e servir de veiculo par...
A identidade latino-americana na comunidade nipo-brasileira
2020
A partir das raízes históricas da construção da ideia de América Latina será apresentado um estudo sobre os desdobramentos do sentimento identitário latino-americano dentro do grupo de descendentes de imigrantes de origem japonesa no Brasil. A noção de território será fundamental para a compreensão do processo de apropriação cultural dos imigrantes japoneses que se estabeleceram no país. Essa população, além de se identificar com essa nova nação, após algumas dificuldades, também adotou, no seu processo de incorporação da cidadania brasileira, tradições e valores ocidentais. Boa parte dos costumes e ensinamentos japoneses que eles aprenderam no seu país de origem e com seus familiares foram passados para os seus descendentes das novas gerações já nascidas no Brasil. O desenvolvimento dessa cultura híbrida deu origem à identidade nipo-brasileira. Por meio de um panorama demográfico, de uma compreensão histórica do processo de ocupação e integração em território brasileiro e da realiz...