Singularidade e subjetividade da escravidão no Brasil (original) (raw)

Resenha: A escravidão como berço do Brasil contemporâneo

v. 14 n. 26 (2018): Tensões Mundiais - Encontro Tensões Mundiais: Política Externa Brasileira, 2018

Uma resenha sobre a obra A Elite do Atraso de Jessé Souza. Referência: SAMPAIO, W. S. A escravidão como berço do Brasil contemporâneo. Tensões Mundiais, [S. l.], v. 14, n. 26, p. 261–267, 2019. DOI: 10.33956/tensoesmundiais.v14i26.890. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/tensoesmundiais/article/view/890.

Escravos e escravidao no Brasil

Depois da longa travessia atlântica e do desembarque em algum porto das grandes cidades do Brasil, ou em alguma praia deserta após a proibição, os africanos logo percebiam que sobreviver era o grande desafio que tinham pela frente. Dali por diante teriam que conviver com o trauma do desenraizamento das terras dos ancestrais e com a falta de amigos e parentes que deixaram do outro lado do Atlântico. Logo percebiam que viver sob a escravidão significava submeter-se à condição de propriedade e, portanto, passíveis de serem leiloados, vendidos, comprados, permutados por outras mercadorias, doados e legados. Significava, sobretudo, ser submetido ao domínio de seus senhores e trabalhar de sol a sol nas mais diversas ocupações. Por mais de trezentos anos a maior parte da riqueza produzida, consumida no Brasil ou exportada foi fruto da exploração do trabalho escravo. As mãos escravas extraíram ouro e diamantes das minas, plantaram e colheram cana, café, cacau, algodão e outros produtos tropicais de exportação. Os escravos também trabalhavam na agricultura de subsistência, na criação de gado, na produção de charque, nos ofícios manuais e nos serviços domésticos. Nas cidades, eram eles que se encarregavam do transporte de objetos e pessoas e constituíam a mão-de-obra mais numerosa empregada na construção de casas, pontes, fábricas, estradas e diversos serviços urbanos. Eram também os responsáveis pela distribuição de alimentos, como vendedores ambulantes e quitandeiras que povoaram as ruas das grandes e pequenas cidades brasileiras.

A abstração da inequivalência: subalternidade e escravidão

Gragoatá, 2022

O texto busca explorar modos de leitura de Marx que tenham como centro a colonização, sobretudo a partir da figura do/a subalterno/a e do/a escravizado/a. Para tanto, coloco em diálogo textos de Gayatri C. Spivak, Dipesh Chakrabarty, Sylvia Wynter, Frank B. Wilderson III, Fred Moten e Sara-Maria Sorentino. O intuito não é chegar a qualquer tipo de síntese, mas investigar os tensionamentos que essas duas figuras causam à teoria e à metodologia do filósofo alemão. Assim, alguns conceitos importantes para a teoria marxiana serão mobilizados, tais como a forma-valor e o trabalho abstrato.

O tema da emancipação e a escravidão no Brasil: por um olhar semiótico

Resumo: Neste artigo investigamos as formas semióticas presentes em alguns discursos que tratam da escravidão entre os séculos XVI e XIX no território do que hoje conhecemos como o Brasil. A emancipação, tomada como tema semiótico, é investigada a partir da categoria modal do poder. A oposição narrativa entre relações de transitividade (fazer-ser) e factitividade (fazer-fazer) desencadeia reflexões a respeito do status atribuído aos indivíduos escravizados naquele âmbito. O debate se dá a partir de textos jurídicos, acadêmicos e policiais produzidos em diferentes contextos geográficos e históricos.

A escravidão brasileira à época da Independência

Revista USP, 2022

Fornecemos, de início, estimativas do “estoque” e do “fluxo” de pessoas escravizadas no Brasil na primeira metade do século XIX, enfatizando a intensificação da entrada de cativos. Em seguida, analisamos os impactos desses números nas características da escravidão brasileira à época da Independência, privilegiando dois temas. O primeiro, o padrão da distribuição da posse de cativos, permite-nos perceber o alargamento da disseminação daquela posse. Quanto ao segundo, as famílias escravas, evidenciamos a concomitância de sua vulnerabilidade e resiliência no enfrentamento dos rigores do cativeiro. Por fim, discutimos a eventual participação direta das pessoas escravizadas no processo de emancipação política, apresentando as características do Partido Negro. Nas considerações finais, destacamos aspectos da trajetória da escravidão até sua abolição, apontando as cicatrizes profundas por ela deixadas, ainda nitidamente visíveis em nossos dias.

Apresentação: Migração e escravidão

Fronteiras & Debates, 2017

A revista <em>Fronteiras & Debates</em>, neste número 1 de seu volume 3, traz a lume um dossiê dedicado às experiências vividas por trabalhadores e trabalhadoras nos meandros da migração e da escravidão. A leitura deste número possibilita uma melhor compreensão das estratégias que em diferentes tempos e espaços os sujeitos históricos inventaram para enfrentar as inseguranças conjunturais e as amarras estruturais que, cotidianamente, ameaçavam suas vidas e sequestravam suas liberdades.

escravidão como berço do Brasil contemporâneo

2019

Em 2018, a movimentação política, o conflito entre os poderes, o surgimento de presidenciáveis ultraconservadores, o crescimento de manifestações e discursos de ódio e a descrença no Estado são as pautas das rodas de conversas em grupos, mídias sociais e sites de notícia que configuram a aura de inquietação que paira neste atual momento de eleições. Já expressivas no processo eleitoral de 2010, agravaram-se em 2014. Jessé Souza1 se dedica a estudar o pensamento social, a desigualdade e as classes sociais no Brasil contemporâneo. Em sua obra A Elite do Atraso, da escravidão à Lava Jato, parte do pressuposto de que a ideia dominante é a da “classe dominante” (MARX; ENGELS, 1998), e analisa a formação do senso comum que propicia o surgimento de homens “incorruptíveis”, os quais travam verdadeiras cruzadas contra a corrupção do Estado. Estes “templários” são a classe média, na posição de “exército” particular da elite financeira – a “Elite do Atraso”, segundo o autor. Munido de uma ling...

O Navio Negreiro: refiguração identitária e escravidão no Brasil

Tempo, 2010

Identity refiguration and slavery in Brazil This article presents and analyses the dramatic staging by the mother-of-saint of a terreiro in Rio de Janeiro, which recounts the departure, the voyage, and the arrival of African slaves in Brazil. The play is put on as an educational activity by the children and members of the family-of-saint of the candomblé terreiro. The narrative conveys a central idea: that the slaves came to Brazil bearing with them a material and intangible culture, and a memory of traditions transferred to Brazil by those who were able to resist the laws of slavery and the conditions of servility. The candomblé, a religion with strong political implications in this instance, is a structural element of the narrative, as its deities become characters in the play, those of slaves and ancestors who become not only deities but also liberators. The figure of the slave as victim is thus reversed and transformed into hero, while a new narrative of the Brazilian nation gives slaves and Africa a leading and civilizing role.

A escravidão: um bem ou um mal para o Brasil?

2021

A escravidao no Brasil foi muito defendida, mas tambem atacada. As defesas, muitas vezes, anonimas, utilizam-se de argumentos que continuam atuais. Quais foram os argumentos e contra-argumentos usados no final da decada de 1830 e como eles sao usados ainda hoje, principalmente, pelo senso comum? Sao apresentados argumentos a favor do comercio de escravos, de possivel autoria de Frederico Leopoldo Cezar Burlamaque, de Padre Leandro Rebello Peixoto e Castro e contra-argumentos de autoria do padre Antonio Ferreira Vicoso, alem de varias reflexoes contemporâneas dessas ideias. E permanece a questao: temos ideias pros e contras a escravidao, quais e por que ainda sao utilizadas pelo senso comum?