Violência na sociedade contemporânea (Violence in contemporary society) (original) (raw)

Violência em sociedade

A recente valorização da sociologia da violência ocorre ao mesmo tempo em que urge pensar a profunda crise social espoletada pela bancarrota financeira. As mudanças sociais reclamam transformações nas práticas sociológicas. Quais podem ser? A análise aqui proposta, com base nos estudos de M. Wieviorka, La violence, Paris, 2005, e de R. Collins, Violence: A Micro-sociological Theory, Princeton, 2008, conclui que a violência é sujeita a tratamentos sociológicos unilaterais, centrados nos agressores, nas lutas por poder e no género masculino. Verifica-se, por outro lado, um alheamento entre as propostas práticas de prevenção da violência e a sociologia da violência. Admite-se que a violência tem potencialidade e centralidade teórica e social susceptíveis de suscitar os debates necessários para a actualização da teoria social, em tempos de transformação social, por exemplo, abrindo-a à consideração de protagonistas que se mantém tabu nestes estudos sociológico da violência, como o género feminino e o Estado. A emergência da sociologia da violência coloca-nos a questão de aceitar colaborar na construção de uma subdisciplina reprodutora dos bloqueios da actual teoria social e dos seus tabus (como a violência) ou usar a tematização da violência como gazua para abrir a sociologia a outros temas tabus na teoria social (como o carácter biológico dos mecanismos sociais e o carácter doutrinário dos ambientes sociais; ou as dimensões sociais secundarizadas pelo protagonismo das análise das lutas de poder, como a vitalidade e a harmonização existencial).

Considerações sobre violência e verdade no mundo contemporâneo

Psicologia Clínica, 2012

Freud associa ao supereu a palavra, que se impõe feroz, sem sentido, instituindo com sua lei insensata o campo da cultura. Nessa concepção, alguma forma de violência estaria na gênese do sujeito e da verdade que o constitui. Se para Lacan a palavra é a morte da coisa, rompendo na criança qualquer possibilidade de reencontro com aquilo que a satisfaria, é esta mesma palavra que estabiliza, ou fixa, a errância disruptiva do real, tornando-nos seres de cultura. A democracia capitalista ocidental, segundo Alain Badiou, se propõe um mundo átono, sem pontos de tensão em que uma decisão tenha que se colocar na forma da palavra. Se esse poder instaurador veiculado pela palavra nos constitui como sujeito de uma verdade, ao rejeitar a existência de sujeitos nossa contemporaneidade se condena à fruição de um gozo sem sentido, que se reatualiza continuamente sob as mais variadas formas.

Violência e sociedade hoje : da infância em perigo ao jovem perigoso

ZIMERMANN, Giovana. Rio de Janeiro e Paris: a juventude apache do cinema na periferia , 2016

O texto apresenta uma análise sobre a violência e a sociedade contemporânea, com foco na situação na França, abordada no sub capítulo VIOLENCE ET SOCIETE AUJOURD’HUI do livro "Rio de Janeiro e Paris: a juventude apache do cinema na periferia", 2016. A autora Giovana Zimermann, menciona que a violência não poupa nenhuma sociedade ou civilização, afetando pessoas de diferentes idades e gêneros. A obra "Violence et société aujourd'hui" de Yves Michaud é mencionada como um ponto de partida para entender a relação entre violência e sociedade. O autor destaca um episódio específico de violência urbana ocorrido na França em 2005, conhecido como "revolta dos jeunes de banlieue". Jovens das periferias francesas saíram às ruas, atearam fogo em carros e causaram danos a instalações públicas, levantando questionamentos sobre suas motivações e o porquê de direcionarem a violência para seus próprios bairros em vez de áreas mais ricas. O texto menciona o caso de dois adolescentes, Zied Benna e Bouna Traoré, que foram eletrocutados em uma subestação de energia enquanto fugiam da polícia. O então Ministro do Interior, Nicolas Sarkozy, defendeu os policiais e alegou que os adolescentes estavam fugindo de outros jovens, não da polícia. Sarkozy adotou medidas como o toque de recolher e o uso da lei de estado de urgência para lidar com a violência urbana, o que gerou controvérsias. O autor também menciona o filme "La Haine" de Mathieu Kassovitz, lançado em 1995, que aborda questões de violência e marginalização nas banlieues francesas. O filme despertou debates e reflexões sobre a situação social e política na França. O texto ressalta a importância de compreender a história e seus eventos passados para entender o presente. Cita Walter Benjamin, que afirma que nada do que aconteceu no passado deve ser considerado perdido para a história, e que o passado se torna citável para a humanidade redimida. Por fim, o texto menciona um dossiê publicado em resposta à crise de violência nos subúrbios franceses em 2005, com o objetivo de mostrar que a luta contra a discriminação era uma luta de toda a sociedade francesa. O estereótipo do jovem da banlieue como perigo urbano também é abordado, destacando como essa imagem evoluiu ao longo da história da França. Em suma, o texto analisa a violência e sua relação com a sociedade contemporânea, especialmente na França, abordando casos específicos, debates políticos e reflexões sobre o estereótipo do jovem da periferia.

Desamparo Contemporâneo e Violência Fundamental

Psicologia em Revista

O artigo propõe uma reflexão acerca da violência e do desamparo na Contemporaneidade, por meio do referencial psicanalítico. Parte de considerações sobre a inserção moderna da crítica freudiana sobre a civilização para atestar o desamparo fundamental da condição humana, demandando um trabalho de gestão do laço social. Apresenta os modelos freudianos da estrutura social e de grupos em sua relação com os ideais para discutir sua dinâmica na Contemporaneidade, a partir da falência dos referenciais simbólicos. Caracteriza as condições de enfraquecimento institucional e de mudanças temporais nas relações intersubjetivas para definir um quadro social de deficiência da narratividade e historicidade. Discute os mecanismos subjetivos para lidar com o desamparo e as implicações de violência e negação da diferença. Defende o resgate da condição alteritária por meio da violência fundamental como condição ética para instituição de laços sociais e saída coletivas para a gestão do desamparo.

Percepções sobre violência no cotidiano dos jovens

Revista Katálysis, 2016

Resumo Este artigo discute a vivência da juventude em contextos de violência urbana. A partir da revisão teórica sobre violência e juventude, desenvolve uma análise com base em uma pesquisa empírica realizada, em 2014, com jovens moradores de uma favela em Niterói (RJ). Os depoimentos coletados em campo exemplificam as percepções desses jovens sobre a violência, sobretudo após a implantação das Unidades de Polícia Pacificadoras (UPPs) na capital do Estado.