O limiar da voz concreta (original) (raw)
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Arquivo Maaravi: Revista Digital de Estudos Judaicos da UFMG
Nossa mente é porosa para o esquecimento; eu mesmo estou falseando e perdendo, sob a trágica erosão dos anos, os traços de Beatriz. (Jorge Luis Borges) Ir às raízes do escrever para tentar entender o processo criativo e as razões que levam um escritor a se perder no labiríntico e borgiano bosque da ficção é um grande desafio. Muitos pensadores e ficcionistas já escreveram brilhante e intensamente sobre esse assunto. Não me atrevo a chegar até lá e, muito menos, ir além... Escolhi Jorge Luis Borges para abrir o meu depoimento porque em seu livro O jardim das veredas que se bifurcam o autor argentino torna bosque metáfora do texto narrativo. Assim como o fez Umberto Eco em Seis passeios pelo bosque da ficção. Escreve ele: Bosque é uma metáfora para o texto narrativo, não só para o texto dos contos de fadas, mas para qualquer texto narrativo. Há bosques como Dublin, onde em lugar do Chapeuzinho Vermelho podemos encontrar Molly Bloom [...]. Usando uma metáfora criada por Jorge Luis Borges um bosque é um jardim de caminhos que se bifurcam. Mesmo quando não existem num bosque trilhas bem definidas, todos podem traçar sua própria trilha, decidindo ir para a esquerda ou para a direita de determinada árvore e, a cada árvore que encontrar, optando por esta ou aquela direção. 1 No meu caso, literalmente, transitei por bosques para escrever o meu primeiro livro de contos, Um violino para os gatos, publicado pela Editora Maltese, em 1995, porque circulava pela zona rural quase todos os dias, entre sítios, fazendas, matas e o cerrado, para cobrir as notícias como repórter do Jornal Nacional da Rede Globo, no interior de São Paulo.
Voz solitária e a guinada subjetiva
Revista Internacional de Folkcomunicação
O termo “jornalismo de personagem” é um conceito em formação. Dialoga com a tradição dos “perfis”, mas ao mesmo tempo abriga um conjunto de outros gêneros textuais, complementares ou em sobreposição, cuja natureza pede investigação sociológica tanto quanto editorial. É fenomenológico. Dentre esses gêneros, destacam-se os “depoimentos”, que traduzem o imperativo da experiência pessoal como medida de todas as coisas. De gênero secundário, desenvolve-se com protocolos de edição cada vez mais sofisticados – a exemplo do explorado na obra da jornalista e Nobel de Literatura Svetlana Aleksiévitch. Dentre os instrumentos de análise está a chamada “guinada subjetiva” – tendência a superfaturar o ponto de vista individual, afirmando-o como o melhor, senão o único, elemento de contato legítimo com a realidade – cada vez mais líquida e resistente aos grandes metarrelatos. Entende-se aqui que a apropriação do personagem é, sobretudo, uma estratégia folkcomunicacional.
O presente trabalho pretende aprofundar o sentido da afirmação de Peter Sloterdijk segundo a qual o humanismo naufraga como escola de formação humana por meio da literatura, postulando, por conseguinte, o fim da utopia da formação humana por meio da literatura. Para tanto, interessa o fato de que o conceito de literatura proposto por Sloterdijk como uma comunidade subjacente ao humanismo se coaduna com o conceito de literatura proposto no Brasil por Antonio Candido. Afinal, Sloterdijk sugere pensar o humanismo segundo o modelo de uma sociedade que recorda as academias mencionadas por Candido como formadoras da literatura brasileira, e a literatura como meio comunicativo pelo qual os homens se formam a si mesmos. Se a literatura constitui um aspecto da civilização, como postula Candido, resta perguntar o que significa a civilização e, sobretudo, a que se opõe. Questionar os limiares da ficção e da realidade corresponde a questionar as polaridades suspensas da exclusão e da inclusão, do externo e do interno.
Mediações - Revista de Ciências Sociais, 2010
Resenha do livro: BUTLER, Judith. Vida Precaria: el poder del duelo y la violencia. Buenos Aires: Paidós,
O Pixel da Voz (The Pixel of the Voice)
Diante dos processos de digitalização da voz na produção musical contemporânea, com sintetizadores e programas de áudio em computadores que são “corretores” de imperfeições vocais, questionamos que corpos emergem dessas materialidades sonoras. Partimos de um debate sobre as práticas de produção das canções para tentar compreender as formas de escuta e engajamento presentes nas matrizes sonoras digitalizadas. O conceito de “grão da voz”, proposto por Roland Barthes, é apontado como “baliza” conceitual para a discussão em torno do que chamamos de “pixel da voz”: a visualização não apenas de um corpo que emerge da performance vocal, mas um sistema de produção de sentido que envolve a figura do produtor musical, lógicas de metamorfose presentes na cultura digital e a capacidade atual de se gerar matrizes vocais que são emprestadas a corpos que não as cantaram.
Um processo de Inovação difere da construção de uma nova tecnologia; a tecnologia é aqui pensada , como uma sucessão de eventos sistemáticos de técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de uma ação de transformação de ideias e de operações. Já a inovação é a aceitação dos eventos da tecnologia pela pluralidade dos elementos de um determinado espaço social que acredita que isso trará um bem comum, uma situação melhor do a que existia anteriormente. A informação livre melhora o homem e sua realidade. Se a informação é a mediadora do conhecimento, aprisionar a informação é como aprisionar o conhecimento. Esta é uma história da informação, ora prisioneira e ora livre para ser comunicada, e está contada neste artigo desde os muros abismais dos monastérios da Idade Média até os dias da Internet e das facilidades de cada individuo libertar sua voz na escritura global. Fica a indagação, contudo, dos limites da técnica quando a liberdade do texto excita a mente, mas o corpo que se exercita decai. O desbalanço corpo e mente na liberdade da Internet e do conhecimento nos leva a um destino previsível?
Momento decisivo na constituição da cultura literária moderna é aquele assinalado pela transição de uma poesia predominantemente oral para uma poesia predominantemente escrita. A forma do soneto, que emergiu na Itália do século XIII, desempenha papel decisivo nesta passageme não por acaso Dante Alighieri partirá dela para propor, com sua obra, uma nova concepção de lírica, distinguida por uma seriedade intelectual que o trovadorismo desconhecia.
Pre Voz Silencio Pleno De Potencia e Sentido
Faculdade de Belas-Artes Universidade de Lisboa, 2021
This article develops the concept of Pre-Voice, anchored not only in an artistic practice-where some vocal performative researches are referred, namely in the show MAGMA (vocal solo) and in the works of vocal research pioneers like Cathy Berberian and Meredith Monk-, but also in the theorization developed by Gilles Deleuze concerning the concept of pre-pictorial, in Gilbert Simondon's theorization concerning the notion of pre-individual and in Eugenio Barba's concerning the pre-expressive. The Pre-Voice as power and sense of the vocal gesture is also still a sound Nothingness that will reveal itself partly in the vocal emission. In the search for a vocality that more directly translates its ontological and singular character, Francis Bacon's painting is taken as a driving force of vocal emergence in the scene, resulting in a distancing from logocentrism and melocentrism, which are commonly considered the main function of the voice.