Transformações Urbanas e as Múltiplas Experiências De Espaços, Lugares e Sociabilidades (original) (raw)

CONEXÕES INTERDISCIPLINARES

Os objetos de pesquisa voltados à temática do urbano e das cidades podem ser variados. Estudos de diferentes matrizes disciplinares pontuam que refletir as sociedades complexas implica considerar um contexto macrossocial caracterizado por fenômenos como globalização, mundialização do capital, consumismo exacerbado, urbanização, migrações, invenções tecnológicas, mídias eletrônicas e novas formas de comunicação. Já no âmbito das interações sociais, para Velho (2004), analisar esse contexto na contemporaneidade, é considerar também as posturas individualistas, a impessoalidade, as tensões, inseguranças e ressentimentos provenientes da violência, do uso de drogas, do comércio de armas, da perda do poder do estado e das desigualdades sociais, entre outras questões. Conexões Interdisciplinares Delgado (2008), Arantes (2000), Augé (2010) avaliam que estamos diante de sociedades híbridas, heterogêneas, porosas, com configurações transitórias, imprevistas, oscilantes, múltiplas e dissonantes, em que predominam vínculos passageiros e não-lugares. Nesses espaços, a existência e consequentes estudos de grupos sociais fixos, homogêneos, com identidades territoriais exclusivas, locais, e mesmo a noção de um "eu", ficam comprometidos, já que se perderiam na fragmentação e no efêmero. Como decorrência, categorias como identidade cultural, comunidades, guetos, lugares e a etnografia clássica como recurso para estudá-los, perderiam seu sentido. Essa conjuntura propicia questionamentos sobre as dicotomias rural/urbano, centro/periferia, local/global, popular/erudito, etc., uma vez que os novos acontecimentos são marcados por fluxos, fluidez e por fronteiras facilmente transponíveis entre culturas, desvinculando as identidades dos territórios e vinculando-as a múltiplas e fragmentárias relações (HANNERZ, 1997; CANCLI-NI, 2005). Segundo Hannerz (1997), todas as ações culturais estão em interconectividade, constituindo-se por fluxos e contrafluxos de capital, trabalho, mercadorias, informações, imagens, e também por limites, o que permite falar em transculturalidade e em reinvenção constante das culturas. Na mesma direção, Canclini (2005) refere-se à hibridização das culturas, onde perduram as intersecções entre os diferentes grupos, camadas sociais e etnias. O autor ressalta que há uma real dificuldade de identidades coletivas se firmarem, "quase toda sociabilidade e a reflexão sobre ela concentra-se em intercâmbios íntimos" (CANCLINI, 2005, p.289), em detrimento da dimensão pública, o que é reforçado por práticas relacionadas ao mercado, ao consumo e a noções de status. Existem tensões entre as histórias oficiais e as novas formas de sociabilidade, em que os poderes se fazem "oblíquos" e de difícil visualização. Conexões Interdisciplinares Percebe-se, desse modo, uma temática específica sobre o espaço vivido nas cidades, os bairros. Estes parecem ser atravessados por uma tensão entre a fragmentação que marca o urbano e a possibilidade de regularidades ou totalidades. Diante disso, o objetivo desse artigo é problematizar tais questões, com foco nas formas de uso e de sociabilidade desse espaço, propondo mais debates do que consensos. Espaço e lugar: as práticas cotidianas e o contexto da experiência Milton Santos (2012, p.31) compreende que os espaços são 'espaços habitados', não existem por si mesmos; além da dimensão geográfica e natural, são atravessados pela dimensão social, política, cultural e afetiva, ou seja, pela vida humana em movimento. A vida em sociedade constitui e modifica os espaços, suas histórias e suas possibilidades, caracterizando-os por densas relações simbólicas e identitárias, tornado-os lugares vividos. Trata-se de "metamorfoses do espaço habitado", como anunciado no título da obra de Santos (2012), que não cessam e que exigem a formação de novos e complexos arranjos simbólicos e estruturais. Subsidiado por essas concepções, o autor contesta a ideia, por exemplo, de que a produção globalizada é soberana frente aos lugares. Não negando o alcance do global, em especial em face das inovações tecnológicas, do poder do dinheiro e do enfraquecimento da cidadania, Santos (2012) reflete que a globalização não chega a se mundializar da forma como é inicialmente proposta, uma vez que, nas regiões, se evidenciam diferentes versões da mundialização, com arranjos, níveis de interação e de contradições específicos. Santos (2012) avalia que os estudos regionais assumem um importante papel na compreensão da contemporaniedade. Com vistas a entender as trans