O conceito “ausente” à Althusser: A “experiência” thompsoniana de frente à matéria-prima da produção de conhecimento científico (original) (raw)

O “materialismo da chuva” de Althusser. Um Léxico

A publicação de L'avenir dure longtemps, a autobiografia de Althusser escrita em 1985 teve, certamente, o mérito de romper com a cortina de silêncio baixada sobre o nome do autor depois do homicídio de sua mulher. Ao mesmo tempo, chamou a atenção sobre seu caso em sentido médico e literário, dando lugar a um certo número de interpretações, mais ou menos refinadas, nas quais filosofia e vida foram colocadas em curto circuito sem se levar em conta as necessárias e complexas mediações desta operação teórica.

Thompson, Lukács e o conceito de experiência ― um diálogo mais que necessário

Mundos do Trabalho, 2013

Resumo: O objetivo deste ensaio é fazer uma aproximação entre E. P. Thompson e Georg Lukács, buscando resgatar os fundamentos ontológicos do conceito de "experiência", tal como utilizado por Thompson. Num primeiro momento, apresentaremos a categoria de experiência em Thompson e depois a categoria de trabalho e a ontologia do ser social, de acordo com Lukács. Aproximar as análises históricas concretas desenvolvidas por E. P. Thompson da razão dialético-materialista pressuposta na ontologia do ser social de Georg Lukács é uma contribuição para a superação da miséria da razão; só assim é possível alcançarmos a necessária compreensão dialética da categoria de experiência que, enquanto práxis social, tem como modelo a categoria trabalho.

Althusser e o materialismo do encontro: continuidade, complementaridade ou ruptura

Louis Althusser escreveu alguns textos na década de 1980 nos quais apresen-ta e defende uma corrente que ele mesmo chama de materialismo aleatório ou materialismo do encontro. Podemos encontrar três posições sobre a relação entre a obra desta última fase (a da década de 1980) e a obra anterior (os escritos das décadas de 1960 e 1970): a primeira é a compreensão de que ambas as fases se complementam; a segunda é aquela que percebe apenas uma continuidade, dado que a tese da última fase, segundo a qual a história é sinônimo de contingência, apareceria em toda sua obra; por fim, a terceira posição compreende que há uma ruptura entre os dois momentos, não sendo possível pensá-lo como continuidade ou complementaridade, visto que há referenciais teóricos e problemáticas distintas e, portanto, teses diferentes. Esta última compreensão é a que pretendemos defender em nosso artigo. Para tanto, dividimos o texto em três partes: na primeira e segunda tomaremos o exemplo de dois autores cujos argumentos permitem defender, respectivamente, a perspectiva da continuidade e da complementaridade, para, na terceira parte, melhor situar nossa posição com relação à contribuição do filósofo francês e argumentar em favor da ruptura entre os dois momentos.

Entre a dupla ausência e o profissional transnacional - o “não dito” da mobilidade científica

Comunicação e Sociedade, 2015

O artigo versa sobre a situação da maioria dos cientistas em mobilidade e a trabalhar nos mais prestigiados laboratórios internacionais de investigação do século XXI. Problematiza-se o desfasamento entre o discurso oficial que tende a enfatizar constantemente a existência de seleções democráticas e justas e de acesso livre às carreiras científicas e o discurso “não dito” sobre a discriminação étnica baseada na nacionalidade dos investigadores que permeia os locais de trabalho em ciência. A informação recolhida através de investigação etnográfica realizada em laboratórios científicos indica que a etnia e a origem geográfica (bem como a nacionalidade do cientista) desempenham papéis importantes no processo de seleção e permanência nos laboratórios de investigação. Neste texto usa-se o conceito “dupla ausência” de Abdelmalek Sayad, mostrando que a situação de ser cientista “estrangeiro” (a maioria dos alunos de doutoramento e pós doutorandos que trabalha no estrangeiro) é idêntica à de...

Louis Althusser - A Única Tradição Materialista

Tradução e revisão a partir do texto original em francês: L'unique tradition matérialiste; contido na revista Lignes, 18. Paris: Éditions Hazan, 1993, páginas 72-119. por: Charles Teixeira Pinto, Agosto de 2024.

A crise das ciências em Husserl: dos contrassensos naturalistas ao esquecimento do “solo originário” das idealizações científicas

Argumentos - Revista de Filosofia

O presente artigo concentra-se em torno do tema da crise e, mais especificamente, da crise das ciências em Husserl. Dividido em duas partes, o artigo aborda, inicialmente, o tema em questão através da crítica de Husserl aos pressupostos da doutrina naturalista, solo sobre o qual se apoiam as ciências positivas da natureza. Num segundo momento, o artigo mostra que a crise das ciências seria decorrente de um deslizamento do sentido da Geometria e, mais particularmente, de um esquecimento fundamental do mundo pré-científico, por meio do qual as ciências perderiam de vista a sua relação originária com o mundo, deixando para trás o fundamento de sentido esquecido da ciência da natureza.

A experiência consciente em David Chalmers: uma pedra no sapato do materialista

A experiência é considerada o verdadeiro ‘problema difícil’' (“hard problem”) da consciência. O problema só é difícil (e, para alguns, intratável!) diante da insistência em explicá-la sob uma perspectiva materialista. Nas linhas abaixo tentarei resumir porque o materialismo não tem sequer um ponto de partida para explicar a experiência, e porque abordagens não-reducionistas parecem fazer muito mais sentido. Explicações não-reducionistas colocam a experiência numa posição privilegiada na natureza, elevando-a ao status de um primitivo ontológico, i.e, uma entidade/propriedade fundamental no Cosmos, tal como cargas e forças eletromagnéticas, massa e espaço-tempo. Também levantarei alguns problemas com a perspectiva não-reducionista pampsiquista de David Chalmers e sinalizarei alguns tópicos de pesquisa empírica que andam levando importantes cientistas e teóricos a passar a admitir a falsidade do materialismo mecanicista-reducionista até mesmo para lidar com os 'problemas fáceis' da consciência.

Ciência(S) No Contexto “Pós”: Aspectos Transicionais Na Produção Do Conhecimento Científico

Roteiro, 2015

Resumo: O artigo apresenta um estudo sobre os aspectos transicionais entre a Ciência Acadêmica e Pós-Acadêmica, a Ciência Normal e Pós-Normal, a Ciência Moderna e Pós-Moderna, e a Ciência Modo 1 e Modo 2. Das perspectivas que intencionam descrever as mudanças produzidas a partir da segunda metade do século XX, nas pesquisas científicas e tecnológicas, foram identificadas as noções de ciência que situam como elemento central desses processos uma complexa configuração das relações entre universidade, indústrias, governo e sociedade e nos modos de se fazer ciência em contextos nomeados "novos" e de prefixo "pós". A Ciência, do mesmo modo que a sociedade, pela sua dinâmica e movimento contínuo, apresenta-se em transição, e, portanto, há mudanças na produção do conhecimento científico. Palavras-chave: Ciência. Produção do conhecimento. Transição.

Ciência “sem pressupostos” e a naturalização dos valores em Max Weber

Ciência como Vocação. Racionalidades e irracionalidades no velho e no novo mundo, 2020

Fruto de um enfoque multidisciplinar, o presente livro tece diversos temas que se recobrem, reunindo os enfoques de filósofos, historiadores, sociólogos, cientistas políticos e antropólogos. Em muito o leitor poderá se beneficiar ao confrontar os registros de uma mesma reflexão reapropriados por diferentes leituras. Dividido em quatro PARTES, o livro explora as tensões do pensamento weberiano, seja analisando a controvertida relação da fundamentação dos valores; seja examinando as antinomias do processo de racionalização; seja confrontando, outrossim, as possibilidades ainda abertas pelo protestantismo como forma de socialização; seja, por fim, ao pôr em perspectiva a força e o alcance das propostas metodológicas weberianas.