A tecnica como saber (original) (raw)
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2003
A técnica revela hoje de maneira inequívoca a sua natureza paradoxal: é no nosso tempo que a nossa experiência do mundo se toma tanto mais dependente dos objectes técnicos quanto menos nos damos conta da sua presença e do seu funcionamento. É pelo facto de a nossa época ser em grande medida determinada pelo funcionamento, não de utensílios, instrumentos eu máquinas, mas de dispositivos artificiais que a intervenção da técnica atinge um nível incalculável de performatividade, tomando-se, per conseguinte, tanto mais indiscemível quanto mais naturalizada e incorporada nos mais diversos domínios da experiência. Ao longe dos últimos séculos, o imaginário que alimentou a invenção técnica foi sobretudo dominado per projectes de produção e de transformação da natureza. É este imaginário que os mais recentes dispositivos técnicos parecem contrariar, uma vez que se inscrevem, antes, num claro processo de tecnicização da experiência, envolvendo dimensões que, até ao nosso tempo, pareciam escapar ao domínio da tecnicidade, tais como as dimensões bélicas, éticas, estéticas, lúdicas, sexuais e competitivas. Deste modo, de entre os objectivos que mobilizam o imaginário inventivo, não é o da produção, mas o de acondicienamente dos corpos, tanto individuais como colectivos, que parece hoje determinante. Os neves dispositivos técnicos asseguram, por conseguinte, um largo espectro de funções, que atingem já praticamente a totalidade da experiência de mundo, desde es processos de gestão burocrática da vida colectiva e da vida individual, aos procedimentos de planificaçãe das decisões, tanto em matéria econômica, come nos domínios do urbanismo, da educação, da saúde e da precriação.
Trabalho da Disciplina Gestão Simbólica dos Processos Comunicacionais na Sociedade em Rede. A técnica passou a ser considerada, nos últimos anos, uma problemática do campo filosófico. E isso faz parte da relação e influência direta principalmente sobre a cultura ocidental. Encarada como produções e habilidades do homem, vista como algo como algo de valor pequeno ou secundário diante de outros tantos modelos de saber e avaliar o ser humano, ela passou a representar uma nova perspectiva do ser a partir da visão inovadora de pensadores da modernidade. A avaliação e visão de filósofos e pesquisadores da técnica e a influência deste processo na sociedade moderna serão os temas centrais deste trabalho.
Em resposta à solicitação do Senhor Presidente do COFFITO, Dr. Roberto Mattar Cepeda, solicitando à ABRAFIN emissão de parecer acerca dos Métodos e Técnicas das Especialidades, a atual Diretoria da ABRAFIN apresenta o seguinte documento com esclarecimentos sobre a formação para métodos e técnicas amplamente utilizados na especialidade da Fisioterapia Neurofuncional. O presente documento tem como objetivo auxiliar no planejamento das atividades relativas ao processo público seletivo para a concessão do título de especialista em Fisioterapia Neurofuncional.
A seguir, questionaremos a técnica. O questionar constrói num caminho. Por isso é aconse-lhável, sobretudo, atentar para o caminho e não permanecer preso a proposições e títulos particulares. O caminho é um caminho de pensamento. Todos os caminhos de pensamen-to, mais ou menos perceptíveis, passam de modo incomum pela linguagem. Questiona-mos a técnica e pretendemos com isso preparar uma livre relação para com ela. A relação é livre se abrir nossa existência à essência da técnica. Caso correspondamos à essência, estaremos aptos a experimentar o técnico em sua delimitação. A técnica não é a mesma coisa que a essência da técnica. Quando procuramos a essência da árvore, devemos estar atentos para perceber que o que domina toda árvore enquanto árvore não é propriamente uma árvore, possível de ser encontrada entre ou-tras árvores. 375
I A técnica analítica O analista dirige o tratamento e o tratamento se produz.
A técnica como possib de Poiésis
Marshall McLuhan 1 O homem não tem a técnica na mão. Ele é o joguete Martin Heidegger 2 1. Introdução. Heidegger é um dos filósofos que mais pensou sobre a questão da técnica. Apesar das suas reflexões se terem desenvolvido em meados do século passado, ou seja, no culminar da tecnologia mecânica (marcado por aquele que é o grande acontecimento tecnológico da primeira metade do século XX, a II Guerra Mundial), elas são proféticas, tanto em relação aos futuros desenvolvimentos da tecnologia, como às questões que actualmente os acompanham. É inquestionável que o pensamento de Heidegger sobre a técnica ecoa a sua inicial simpatia, e posterior desilusão, com o nacional-socialismo, mais precisamente com alguns pensadores que Jeffrey Herf identificou com pertencendo ao 'modernismo reaccionário', e com a ambígua relação que estes mantêm com a tecnologia moderna. 3 1 McLuhan, Marshall, The Gutenberg Galaxy, University of Toronto Press, Toronto, 1962, p. 248. 2 Heidegger, Martin, "Les Séminaires du Thor" (1966-68-69), Rédacteur Jean Beaufret, in Questions III et IV, Paris, Gallimard, 1976, p. 457. 3 Para uma análise aprofundada das complexas relações de Heidegger e da sua visão da tecnologia com os acontecimentos que lhe são mais imediatamente contemporâneos ver Herf, Jeffrey, Reactionary Modernism, Technology, culture, and Politics in Weimar and the Third Reich, Cambridge University Press, 1984, nomeadamente pp. 109-130. Acerca das visões de Heidegger sobre a tecnologia e da sua atracção pelo nacional-socialismo ver ainda a influente crítica de Adorno, The Jargon of Authenticy (1964), London, Routledge Classics, 2003, ou ainda o livro de Steiner, George, Heidegger, Chicago, The University of Chicago Press, 1989. Uma extensa literatura acerca da estética fascista tem sido produzida nas últimas três décadas e também pode lançar uma boa luz sobre estas questões. De entre elas salientamos o livro de Jameson, Frederick, Fables of Aggression, Wyndham Lewis: The fascist as Modernist, Berkeley, University of Califórnia Press, 1979. Patrícia Castello Branco http://serbal.pntic.mec.es/AParteRei 8 Nesta sua exploração da ideia de techné -enquanto essência unitária da arte e da técnica -e da sua relação com o ser como desvelação e poiésis (que é uma verdadeira trave mestra do projecto heideggeriano), deparamo-nos com uma complexa abordagem que, ao longo deste capítulo, focaremos em dois momentos essenciais. Num primeiro momento, a techné aparece caracterizada como "a acção violenta do saber" e encontra os seus traços essenciais na relação complexa que mantém com a ideia de physis grega original, opondo-se neste contexto à diké (conjuntura dispositiva). Esta intrincada relação -que está sobretudo desenvolvida na Introdução à Metafísica (Einführung in die Metaphysik, 1935) 8 -, revela-se particularmente importante para o nosso argumento. Isto porque a relação da techné com a physis é, em Heidegger, uma problematização que coloca em cima da mesa, questionando e indagando a fundo, a oposição clássica entre cultura e natureza que também aqui, e ao longo desta dissertação, procuraremos problematizar, sobretudo quando se traduz na subsequente oposição entre a técnica e a natureza. Num segundo momento de caracterização da techné como essência da técnica e da arte, procuraremos explorar a forma como ela, seja nas suas atribuições mais técnicas (o fazer do artesão) seja nas suas formas mais artísticas (o fazer do artista) é concebida por Heidegger essencialmente como poiésis. Esta ideia de techné como poiésis é um tema constante da filosofia heideggeriana desde meados dos anos trinta, e surge trabalhada, designadamente, na conferência A Origem da Obra de Arte (Der Ursprung des Kunstwerks, 1936) 9 , sendo retomada nos anos cinquenta, no contexto da sua reflexão sobre a técnica moderna, nas conferências A Coisa (Das Ding, 1950) 10 e A Questão da Técnica (1953). 8 As referências a esta obra reportar-se-ão à tradução portuguesa da autoria de Mário Matos e Bernhard Sylla, Introdução à Metafísica, Lisboa, Instituto Piaget, 1997, e serão identificadas pela sigla EM, seguida do respectivo número de página. 9 As referências a esta obra reportar-se-ão à tradução portuguesa da responsabilidade de Maria da Conceição Costa, intitulada A Origem da Obra de Arte, Lisboa, Edições 70, 1991, e serão identificadas pela sigla UK seguida do respectivo número de página. 10 As referências a esta obra reportar-se-ão à tradução francesa da responsabilidade de André Préau, intitulada "La Chose", Essais et Conférences, Paris, Editions Gallimard, 1958, pp. 194-218, e serão identificadas pela sigla DD seguida do respectivo número de página.
Teia do Conhecimento Modo de Usar
disponibilização quase acidental de novas tecnologias leva a uma cadeia de conseqüências que, não raramente, culmina em uma reinterpretação completa de nossa visão de mundo. Assim ocorreu com o relógio mecânico, com as máquinas a vapor, com a energia elétrica, o computador e agora com a world wide web (www). Dessa forma, sem exaurir a questão, podemos dizer que, assim como o relógio nos fez pensar no mundo como preciso, redutível e previsível, o computador nos fez pensar na possibilidade de simular o mundo (ou talvez, no mundo como uma simulação).
Escassez artificial: contestando a implementação de franquias de dados na internet, 2016
O presente capítulo apresenta a transcrição do painel “Franquias de dados: a dimensão técnica”, realizado na manhã de 19 de agosto de 2016 na sede do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec). O painel contou com abertura do pesquisador Rafael Zanatta, coordenador da campanha “Internet livre: juntos contra as franquias” do Idec, e foi seguido por apresentações de engenheiros de rede e profissionais que atuam com questões práticas do funcionamento de redes e sistemas autônomos. As apresentações sequenciadas são de Rubens Kühl, engenheiro de redes e instrutor da Escola de Governança da Internet, Thiago Ayub, Chief Technology Officer (CTO) da UPX, e Nathália Sautchuk, engenheira de computação e doutoranda pela Universidade de São Paulo. A transcrição completa apresenta também o debate realizado entre os painelistas e os participantes do seminário, atacando argumentos técnicos que pretensamente apoiam a implementação da precificação por volume de dados trafegados na Internet fixa. O painel aprofunda, em dimensão técnica, a ausência de justificativa técnica para as franquias de dados e as alternativas que o Brasil possui para abordar o problema da falta de infraestrutura e aumento do tráfego de dados, mantendo um acesso à Internet de qualidade para todos. Como sustentado por um dos participantes, “não há justificativa técnica para limitação de banda larga fixa por tráfego. Qualquer alegação nesse sentido é a criação de uma escassez artificial”