Nota sobre as fabulações psicanalíticas de Louise Bourgeois (original) (raw)
2011, Trivium Estudos Interdisciplinares
No discurso lido por sua filha Anna na cerimônia de recebimento do prêmio Goethe da cidade de Frankfurt, Freud afirma que a psicanálise poderia "pôr em evidência novas correlações nesta obraprima de tecelagem que se desenvolve entre as predisposições pulsionais, as experiências vividas e as obras de um artista". 1 Entre esses três planos, para que seja possível tecer relações, pressupõe-se diferença, distância. Em contraponto, a artista francesa radicada nos Estados Unidos Louise Bourgeois dedicou grande parte de sua longa existência, interrompida em 2010 aos 98 anos, a misturá-los. Ao tentar tornar indiscerníveis vida e arte, ela se alinhava a uma importante preocupação das vanguardas da primeira metade do século XX, e tornavase, na década de 1980, um dos mais importantes nomes do chamado "novo subjetivismo" na arte contemporânea. A exposição de Louise Bourgeois O Retorno do Desejo Proibido, vista recentemente em São Paulo e no Rio de Janeiro, tem como eixo central a tese de que boa parte da produção da artista decorre diretamente de sua análise. A publicação, como parte do Catálogo desta exposição, de anotações variadas feitas ao longo de décadas com o título "Escritos Psicanalíticos", é o ato final desta mistura arte/vida. Este ato é tanto mais significativo por se realizar praticamente no momento de sua morte. Isso sugere que Louise se ausenta, sempre, de alguma maneira-como ela anota em 1957, "nós existimos principalmente por nossa ausência". 2