A ameaça real do mito (original) (raw)

A ressurgência do Mito

2016

em meio a um cenário contemporâneo moldado por profundas transformações culturais e científicas, convulsionado por efervescências políticas e sociais e atormentado por enfrentamentos ideológico-religiosos, é cabível imaginar o ressurgimento de mitos? lembrando sua polissemia, não estamos falando dos mitos personalísticos fugazes e transitórios, mas de mitos autênticos, aqueles que carregam narrativas de significação simbólica referentes a aspectos da condição humana. Há lugar para o "sagrado" em uma sociedade tecnicista enfeitiçada por lendas, crendices, amuletos, simpatias, milagres, oráculos, curandeiros, bruxaria e discos voadores? o que o presente artigo tenta demonstrar, à luz de um estudo entrelaçado com várias disciplinas e tomando por empréstimo escritos de eminentes autores, é que acreditar em um fenômeno desprovido de suporte científico comprovável, como é o do tema ovni, se encaixa em um sistema de crenças psicossociocultural. em outras palavras, que estamos vivenciando a ressurgência de um mito "pós-moderno". AbSTRACT (tHe resurgence oF mytH) in a contemporary scenery molded by deep cultural and scientific transformations, convulsed by political and social effervescences and plagued by ideological and religious conflicts, is it reasonable to imagine the resurgence of myths? remembering its polysemy, we are not talking about the personalistic, fleeting and transient myths, but about authentic myths, narratives of those who carry symbolic significance related to aspects of the human condition. is there a place for the "sacred" in a technicist society bewitched by legends, superstitions, amulets, miracles, oracles, healers, witchcraft and flying saucers? What this article tries to demonstrate, in the light of a study intertwined with various disciplines and borrowing from eminent authors' writings, is that the belief in a phenomenon devoid of verifiable scientific support, as is the uFo case, fits a system of psychosociocultural beliefs. in other words, we have been experiencing a resurgence of "postmodern" myth. 1 Escritor e ufólogo cético brasileiro.

O Poder do Mito

NOTA DO TRADUTOR Embora lançado simultaneamente à minissérie para a TV, nos EUA, em maio de 1988, O poder do mito não é uma simples transcrição da longa entrevista entre Bill Moyers e Joseph Campbell. O livro tem organização independente, contém cerca de quatro vezes mais material e... oferece tempo para reflexão, como assinala Phil Kloer (crítico de TV do Atlanta Journal), que considera o livro ainda melhor que a minissérie. A edição do texto-esclarece Betty Sue Flowers-"procurou ser fiel à fluência da conversação original", e isso resultou em algumas repetições desnecessárias, uma ou outra frase truncada e, ocasionalmente, algum titubeio próprio da linguagem oral. São passagens, como o leitor perceberá, em que a expressão verbal funciona como contraponto da comunicação gestual e icônica, oferecida ao telespectador. A tradução manteve se fiel a esse espírito da edição original, apenas evitando os excessos que poderiam dificultar a compreensão. O objetivo foi preservar a integridade literária da obra, conservando se em português a informalidade e o tom coloquial da entrevista, para que o texto fosse lido, e assimilado em toda a extensão, independentemente do seu complemento televisivo. O tradutor agradece a Maria Heloísa Martins Dias, por ter traduzido parte do capítulo VIII, colaborando assim para que fosse cumprido o prazo estabelecido pelos editores; e a Maria Estela Segatto Corrêa, do Consulado Americano em São Paulo, que ajudou a esclarecer as referências consignadas em algumas notas de rodapé, identificadas pelas suas iniciais.

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Por que mitos? Por que nos importarmos com eles? O que eles têm a ver com nossas vidas? Um de nossos problemas, hoje em dia, é que não estamos familiarizados com a literatura do espírito. Estamos interessados nas notícias do dia e nos problemas práticos do momento. Antigamente, o campus de uma universidade era uma espécie de área hermeticamente fechada, onde as notícias do dia não se chocavam com a atenção que você era estimulado a ter em se dedicar à vida interior, no aprender, e onde não se misturava com a magnífica herança humana que recebemos de Platão, o Buda, Goethe e outros, que falam de valores eternos e que dão o real sentido à vida. As literaturas grega e latina e a Bíblia costumavam fazer parte da educação de toda gente. Tendo sido surprimidas, em prol de uma educação concorde com uma sociedade industrial, onde o máximo que se exige é a disciplina para um mercado de trabalho mecanicista, toda uma tradição de informação mitológica do ocidente se perdeu. Muitas histórias se conservavam na mente das pessoas, dando uma certa perspectiva naquilo que aconteciam em suas vidas. Com a perda disso, por causa dos valores pragmáticos de nossa sociedade industrial, perdemos efetivamente algo, porque não posuímos nada para por no lugar. Essas informações, proveninetes de tempos antigos, têm a ver com os temas que sempre deram sustentação à vida humana, construíram civilizações e formaram religiões através dos séculos, e têm a ver com os profundos problemas interiores, com os profundos mistérios, com os profundos limiares de nossa travessia pela vida, e se você não souber o que dizem os sinais deixados por outros ao longo do caminho, terá de produzi-los por conta própria. Quer dizer que contamos histórias para tentar entrar em contato com o mundo, para nos adaptarmos à realidade? Sim. Por exemplo, grandes romances podem ser excepcionalmente instrutivos, porque a única maneira de você descrever verdadeiramente o ser humano é através de suas imperfeições. O ser humano perfeito é desinteressante. As imperfeições da vida, por serem nossas, é que são apreciáveis. E, quando lança o dardo de sua palavra verdadeira, o escritor fere. Mas o faz com amor. É o que Thomas Mann chamava "ironia erótica", o amor por aquilo que você está matando com a sua palavra cruel. Aquilo que é humano é que é adorável. É por essa razão que algumas pessoas têm dificuldade de amar a Deus; nele não há imperfeição alguma. Você pode sentir reverência, respeito e temor, mas isso não é amor. É o Cristo na cruz, pedindo ao Pai que afaste seu cálice de sofrimento, e que chora por Lázaro morto, que desperta nosso amor.

A Sedução do Mito

Revista Thot, 2004

Artigo que saiu na Revista Thot nº 80, publicada pela Editora Palas Athena, em abril de 2004) Mitologia é o conjunto de mitos de um determinado povo, de uma civilização, de uma religião. É também o estudo desses mitos, suas origens, evolução, significados. De modo geral, mitos são histórias que relatam e pretendem explicar a origem de determinado fenômeno, ser vivo, instituição, costume social, etc. São narrativas sobre a natureza e os feitos de deuses e heróis. Mircea Eliade diz que o mito descreve as diversas e por vezes dramáticas irrupções do sagrado no mundo: "Ele conta uma história sagrada, relata algo ocorrido no tempo primordial mediante a intervenção de entes extraordinários". 1 Os mitos têm raízes em tradições orais, passadas de geração para geração. Correspondem a uma categoria de pensamento pré-lógico, a uma compreensão do mundo distinta e distante da racional, concebida via intuição, sensações e

Sobre o mito e a maldição do «Eu»

Nossa ânsia de continuidade (coerência ou uniformidade), ávida de paradoxos e tão aborrecidamente emocionante como velar o crescimento de uma planta, desaparece ante nossos «eus» impermanentes e diferenciados para tratar com circunstâncias qualitativamente distintas. Por esse motivo no mundo em que vivemos há cristãos que na Igreja veneram a um Jesus (cujo Pai - que também é Ele mesmo – é o exemplo supremo e absoluto de «eus múltiplos» e de «abandono afetivo») que é amor e em casa castigam a seus filhos ou fustigam a seus cônjuges. Há pessoas que por seu trabalho enganam sem cessar, mas têm grandes escrúpulos em fazer o mesmo a seus amigos. Há pessoas que em um pequeno círculo são valentes e em público miram para outro lado e calam a boca... Nos iluminamos desde a perspectiva do contexto e do papel que estamos desempenhando em cada momento. O gracioso é que ao fazê-lo nos identificamos mais com o papel que com nós mesmos, com nosso maldito «eu». Também o fato de não conhecer-nos a nós mesmos tão bem como desejaram Sócrates, Aristóteles ou Kant não deixa de ser uma enorme vantagem: em uma sociedade que adora a “autenticidade”, cultua a “integridade” e venera a “beleza” como nenhuma outra, o autoengano, a mirada turva ou deturpada de si mesmo, tanto no aspecto físico como no moral e/ou intelectual, é muitas vezes toda uma bendição.

O Retorno do Mito

Os processos contraditórios de desmitologização e remitologização não são desconhecidos para as civilizações antigas, nas quais os velhos mitos são às vezes destruídos (desmitologização) e substituídos com novos mitos (remitologização).Em outras palavras, aqui os processos de desmitologização e remitologização são processos mutuamente causados e interdependentes.Eles não colocam em questão a própria base da comunidade mítica tradicional; ademais, eles a mantém atual e viva. O mito, nomeadamente-exceto em casos especiais de degradação extrema e secularização da tradição e cultura-para nós, não é uma ficção de povos primitivos, uma superstição ou uma incompreensão, mas uma expressão assaz concisa das verdades e princípios sagrados mais elevados, que são "traduzidos" a uma linguagem específica da realidade terrena, na medida em que seja praticamente possível. O mito é verdade sacral descrita por linguagem popular. Onde as presunções para sua compreensão estão desaparecendo, o conteúdo mítico deve ser descartado para que se coloque em seu lugar um novo. As Intuições Perigosas O mito é, nas culturas tradicionais, também uma grande antítese, onde, como demonstrado na obra capital de J.J. Bachofen Direito Materno: Uma Investigação sobre o Caráter Religioso e Jurídico do Matriarcado no Mundo Antigo, os dois princípios maiores e irreconciliáveis são confrontados: o urânico e o ctônico, patriarcal e matriarcal, e isso é projetado para todas as modalidades secundárias do estado e da ordem social através das artes e da cultura. Com o advento do indo-europeu, invasores patriarcais no solo da velha Europa matriarcal começou o conflito dos dois princípios opostos que é trabalhado no estudo de Bachofen. No caso em questão, os velhos cultos e mitos matriarcais se tornam patriarcais, através dos processos paralelos e alternados de desmitologização e remitologização, e traços desse conflito também são encontrados em alguns temas míticos, que podem ser compreendidos como uma história político-religiosa bastante breve, como Robert Graves os interpretou, em seu livro Os Mitos Gregos.

Publicidade e mito

Significação: Revista de Cultura Audiovisual, 2002

Resumo O presente artigo propõe uma retlexão sobre a presença de recursos míticos na produção e no fazer publicitário de nossa sociedade. Aponta relações entre comunicação e cultura. situando a produção publicitária no universo dessas relações e apontando para o uso que a publicidade rea liza de conteúdos míticos e de práticas de ritualização para evocar padrões de indentificação com o consumidor. Ressalta a distinção existente entre dois usos distintos para a palavra '"mito'". mostrando as diferenças básicas de sentido. natureza e intenção de cada uma dessas acepções. Sugere ainda a necessidade de uma maior seriedade no tratamento dado até então à questão de que a~ práticas publicitárias atuai:-. ignoram. ou preferem ignorar. a dimensão ética no uso que fazem desses recursos míticos e rituais.

Invenção Do Mito

Projeto História, 2023

Neste artigo trabalhamos com a hipótese de que as denominações evangélicas são as principais interlocutoras da população periférica e o fazem não só do ponto de vista da escassez, da opressão e marginalização, mas tendo como principal mediador o discurso teológico de fundo moral. Mesmo em contextos em que as CEBS foram as grandes artífices dos movimentos sociais e o catolicismo da libertação uma ferramenta potente de mobilização do significado da linguagem política transformada em ação, as igrejas evangélicas ganham terreno como articuladores legítimos das demandas sociais. Assim, antes de serem máquinas de alienação, as denominações religiosas são tecnologias de organização social, atuando como dispositivos de dominação política aderidas, em sua quase totalidade, à candidatura de Jair Bolsonaro. Desta forma, trabalharemos com o cabedal teórico de Ernesto Laclau para analisar a construção do bolsonarismo como gramática de ação política.