O Lugar de fala da mulher fronteiriça: Novas identidades e a consciência “Mestiza” (original) (raw)

As Fronteiras: retomando a palavra e libertando significados. Quem sou eu? As mulheres e as identidades redescobertas

Revista Territórios e Fronteiras, 2011

A partir de uma dimensão da cultura, a palavra fronteira desvencilha-se da ideia de limite territorial definido, a priori, como algo fixo para o delineamento de limites. Liberada desse comprometimento, ela pode ser pensada em outras dimensões: como momentos de transição de identidades vivenciados pelos indivíduos, no caso as mulheres, frente às normas estabelecidas. Questionando o discurso determinante e conectadas a processos de mudanças, elas saíram das margens em que viviam e buscaram reconhecimento de si, fizeram novas escolhas identitárias e assumiram outras possibilidades de ser, de inserção social, associadas à garantia de seus direitos. Reconhecendo a existência desse movimento, proponho um olhar fronteiriço sobre a inserção de mulheres na condição de viuvez, de modo a observar as múltiplas identidades femininas em seus protagonismos. A presente reflexão pretende levar em consideração os esgarçamentos sociais para além dos limites e sentidos impostos – no caso, a viuvez –, d...

A consciência mestiza de Gloria Anzaldúa: por uma outra epistemologia

2016

Como reconhecem as teorias e as criticas literaria, cultural e comparada, na contemporaneidade, o mundo ocidental e em particular para a reflexao no subcontinente latino-americano, a abordagem epistemica da-se como matriz de expressoes tais como: “outra orilha”, “fronteriza”, “borderlands”, mediante as quais obras e escritores demonstram que sua tarefa representa compromisso com o lugar, locus de enunciacao, cuja leitura reverbera em crescente interesse pela relacao entre conhecimento e compromisso. Desta perspectiva, este trabalho visa a reflexao acerca da obra Borderlands / La frontera: the new mestiza (1987), da escritora Gloria Anzaldua, representativo corpus da literatura chicana, cujo proprio titulo da narrativa, “borderlands”, constitui forte paradigma – teorico e critico – para a nossa intervencao no discurso de literaturas originadas das margens e / ou periferias. Deste ângulo, ao circunscrever a narrativa de Borderlands entre as fronteiras Mexico-Estados Unidos, Gloria Anz...

Ontologia fluída do ser Mestiço: uma resenha sobre a exposição Historias Mestiças

Esta resenha tem por objetivo analisar a exposição Histórias Mestiças com curadoria da Lilia Schwarcz e Adriano Pedrosa. A resenha está dividida em duas partes principais: a) disposição museográfica: uma descrição dos espaços e seus usos, em que exploro o diálogo entre os artefatos e o espaço constituído entre as identidades inscritas nos artefatos expostos; b) análise da exposição sob o foco do diálogo proposto entre ontologia e materialidade. Neste item desenvolvo uma hipótese de intermezzo em contraste com o conceito de híbrido ou mestiço. O objetivo é delinear uma justaposição entre exposição dos artefatos e identidades, entre materialidade inerte e ontologia fluida. Ao depara-se com a alteridade, híbridos se constituem sem formar uma unidade identitária. Eu entendo que a exposição criou o diálogo dos intermezzi, não do ser mestiço. Historicamente, a exposição foi uma importante contraposição à 31a Bienal de Artes, que se deixou calcar em um manifesto anti-semita que esvaziou boa parte de seu significado integrador, neutralizando seu direcionamento histórico em diálogos culturais.

‘Nação Mestiça’: As políticas étnico-raciais vistas da periferia de Manaus

In 2001, the social movement Nação Mestiça arose in the poor suburbs of Manaus. Its proposal can be summarised by a single statement: “I’m mestizo in my origins, caboclo in my culture, and a citizen in relation to my rights.” Adopting a pragmatic sociological approach, which consists in taking the movement seriously in terms of its existence and proposal, the article ‘Nação Mestiça’: Ethnic-Racial Policies Seen from the Manaus Outskirts attempts to demonstrate the ideological and practical confi guration of the “racial equality” issue, as it is appears and is expressed from the viewpoint of the movement’s members. Thus, a logical position is sought, among many others, from where Brazilian democracy is questioned. Keywords: multiculturalism, mixed-race, Amazonas, democracy, racial equality

Mestiço como descolonizar a antropologia – Justificando

Mestiço como descolonizar a antropologia , 2020

Pensar o processo de descolonização é necessário a antropologia, principalmente devido ao motivo de como o saber antropológico foi engendrado e ao mesmo tempo como a antropologia reproduz uma lógica de colonialidade – podemos dizer que as práxis antropológicas e a práxis da colonialidade estão politicamente imbricadas. Mas, ao mesmo tempo outra práxis está presente na antropologia – quem faz e escreve a antropologia? – é produzida por sua maioria por pessoas brancas.

Mestiçagem: uma categoria teórico-política para os feminismos latino-americanos – entrevista com María Luisa Femenías

Cadernos de Gênero e Diversidade, 2018

No primeiro quadrimestre de 2007, a filósofa feminista argentina María Luisa Femenías publicava o artigo <em>Esbozo de un feminismo latinoamericano</em>, onde constava o seguinte questionamento: existe um feminismo latino-americano? Dez anos depois, encontramos a filósofa durante o 13º Mundo de Mulheres & Seminário Internacional Fazendo Gênero 11, que aconteceu na Universidade Federal de Santa Catarina, em Florianópolis, entre os dias 30 de julho e 04 de agosto de 2017, onde ela aceitou nos conceder esta entrevista. Nossa conversa versou sobre a atualidade de seu texto publicado em 2007, a importância de um pensamento e ação localizados e os desafios dos movimentos e das teorias feministas frente ao contexto de crise econômica e avanço de valores conservadores, principalmente nos países latino-americanos e caribenhos na contemporaneidade. Na conversa, Femenías retoma a potência da categoria <em>mestiçagem</em> como recurso teórico-político de coalisão entre a...

Sobre os Mestiços no Brasil

História, Ciências, Saúde-Manguinhos, 2011

Tradução da comunicação do cientista João Baptista de Lacerda no Congresso Universal das Raças (Londres, 1911), financiado pela Inglaterra e demais países participantes: França, Inglaterra, Bélgica, Itália, Pérsia, Turquia, Egito, Japão, África do Sul, Hungria, Rússia, Haiti, Serra Leoa e Brasil. Tomaram parte do evento autoridades governamentais e eclesiásticas, professores, membros do Tribunal Permanente de Arbitragem e da Segunda Conferência de Haia e um representante de cada país convidado. O Brasil, única nação latino-americana convidada, seria visto como exemplo de mistura de raças, e Lacerda advogaria que políticas de imigração fariam com que mestiços embranquecessem e a 'raça negra' fosse extinta no país. O Brasil ocuparia, assim, lugar de destaque nas Américas, distante do modelo segregacionista dos EUA ou das tiranias continentais. Texto de apresentação de Lilia Schwarcz.

ENTRE PASSADO E PRESENTE: NARRATIVAS DE MULTICULTURALIDADE NA FRONTEIRA

Resumo: Este texto tem por objetivo apresentar e historicizar os usos da ideia de multiculturalidade nas narrativas sobre Foz do Iguaçu e sua condição fronteiriça. Tais narrativas buscariam aliar " atrativos naturais " da região, com aquele que seria seu diferencial no " mercado de cidades " : o ambiente multicultural que teria sido construído a partir da coexistência harmoniosa entre as dezenas de etnias e nacionalidades que ali habitam. Buscamos compreender como os embates entre elites tradicionais da cidade e tecnocratas vinculados a construção de Itaipu a partir de 1975, constituíram estes usos do passado para a construção de uma memória social de harmonia cultural no presente. Dessa forma, foi possível perceber a conformação de uma narrativa sobre o passado que partiu de embates entre grupos sociais distintos, e se colocou a serviço da promoção turística da cidade e da acomodação social entre os grupos dominantes por meio da propaganda da multiculturalidade e de uma suposta harmonia cultural. Palavras Chave: Multiculturalidade. Memória. Cidade. Abstract: The objective of this text is to present and to become historic uses of the idea multicultural on narratives about Foz do Iguaçu and its border condition. The objective of these narratives would be to connect regional " natural attractions " to its supposed differential on " urban markets " : the multicultural environment that would has been built based on balanced coexistence among tens of ethnicities and nationalities living there. We've tried to understand how clashes between traditional elites and technocrats linked to Itaipu building since 1975 constituted these uses of the past to build a social memory of cultural harmony in present. In this way, it was possible to realize a conformation of a narrative about the past based on clashes among different social groups and it was utilized as city touristic promotion and social accommodation among dominant groups thought ads of multicultural and a supposed cultural harmony. Resumen: Este artículo tiene como objetivo presentar y historicizar la utilización de la idea del multiculturalismo en las narativas de Foz de Iguazú y su condición fronteriza. Estos relatos buscan combinar "atracciones naturales" de la región, y lo que podría ser su ventaja en los "mercados de ciudades": el ambiente multicultural que habría sido construida sobre la coexistencia armoniosa entre los de decenas etnias y nacionalidades que viven allí. Buscamos entender cómo los conflictos entre las élites tradicionales de la ciudad y tecnócratas ligados a la construcción de Itaipú de 1975, construyeron estos usos del pasado para construir una memoria social de armonía cultural en el presente. Por lo tanto, fue posible ver la configuración de una narración sobre el pasado que dejó enfrentamientos entre diferentes grupos sociales, que se pone al servicio de la promoción turística de la ciudad y el compromiso social entre los grupos dominantes a través de la propaganda multicultural y una supuesta armonía cultural. Palabras clave: Multiculturalismo. Memoria. Ciudad.