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Anais do 4 Encontro de Semiótica do Projeto, 2023
O contexto contemporâneo da pós-verdade, ainda que possa ser uma demarcação questionável, sem consentimento em alguns campos de investigação, é tomado pelo jornalismo (D’Ancona, 2018; Kakutani, 2018) como um cenário que ficou conhecido em 2016, a partir de dois movimentos de repercussão global: as eleições estadunidenses da época e o movimento Brexit. Parte de um fenômeno maior de desinformação, a pós- verdade é entendida aqui como a manipulação discursiva que desenvolveu características próprias a partir da internet e, principalmente, a partir das dinâmicas de comunicação e comportamento criadas pelo crescimento das mídias sociais. Nesse contexto, a fixação de crenças conceituada por Peirce (2021) e os aspectos na manufatura da opinião pública propostos por Lippmann (2021), trazem esclarecimentos possíveis para a investigação do fenômeno. De forma adicional, a semiótica peirceana, enquanto teoria dos signos da comunicação, também permite uma análise aprofundada, sustentada pela sua articulação entre as dimensões estéticas, éticas e lógicas do signo em sua relação com objeto e interpretante. Nesse sentido, expõe-se o caráter estético e de primeiridade dos discursos de pós-verdade, os quais se valem de um efeito a priori onde a argumentação já encontra terreno preparado para o seu acolhimento, pois a ação desse tipo de discurso é premeditada sobre bases emocionais e imagéticas, no campo da performance e representação, que atingem o sistema de crenças do seu público, de forma condicionante e recompensadora. Ou seja, ao planejar o seu efeito na dimensão estética, a pós-verdade consegue flexibilizar a ética e a lógica, criando aceitação de ideias e ações que, de outra forma, causariam dúvida, estranhamento ou rejeição. Considera-se que, no atual cenário, a dimensão estética é reforçada por um ambiente dominado por uma “instância da imagem ao vivo” (Bucci, 2021), ou seja, do uso da imagem como código central na recepção de mensagens. Assim, o contexto atual das mídias sociais desenvolve ações performáticas do indivíduo, além de criar formatos estéticos de disseminação em que a informação precise ser direta, curta, assertiva e resolutiva, transformando o campo do debate e da esfera pública situada na “infosfera” (Floridi, 2014) em territórios de guerra informacional. A inteligência artificial (IA) surge nesse cenário também permeada por profecias e imprecisões, incluindo o uso feito sobre sua própria nomenclatura, trazendo ao imaginário coletivo contaminado por obras de ficção das mais diversas um sentido irreal do que ela representa de fato. De forma mais específica, as possibilidades inauguradas recentemente pelas Large Language Models (LLMs) são tão extensas quanto os questionamentos e reocupações acerca dos seus usos e desenvolvimento. A desinformação textual já encontrada nas LLMs (Pan et al., 2023) suscita o seguinte questionamento: poderia a IA articular aspectos estéticos próprios da manipulação discursiva da desinformação?
O impeachment de Dilma Rousseff segundo os editoriais da imprensa brasileira
Lumina, 2024
Este artigo apresenta uma revisão sistemática de literatura (RSL) de pesquisas empíricas sobre como os editoriais da imprensa brasileira interpretaram a deposição da presidente Dilma Rousseff, em 2016. A RSL realizou uma análise de conteúdo (AC) de trabalhos acadêmicos (n=13) dentro desse recorte com o objetivo de identificar: (a) os veículos jornalísticos estudados e métodos empregados pela literatura especializada; (b) se essa literatura revela padrões interpretativos dos editoriais analisados em relação ao impeachment; (c) se é possível aí observar algum tipo de paralelismo político. Para isso, utilizamos três sistemas de busca acadêmica, a saber: Scopus; SciELO; e Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, nas quais selecionamos trabalhos publicados entre 2016 e 2023. Sob tais parâmetros, foram encontradas 13 pesquisas analisando os jornais O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo; as revistas Veja e Carta Capital; e o telejornal Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão. Os trabalhos revisados mostram que, com exceção de um caso (a Carta Capital), todos os demais veículos jornalísticos intervieram no debate público de modo a defender, por meio de impeachment ou renúncia, a dissolução do governo Dilma. Diante disso, discutimos como o conceito de “paralelismo assimétrico” ajuda a compreender criticamente esses achados da literatura e como pesquisas futuras em torno de veículos de alcance regional ajudariam a melhor compreender esse momento tão crucial da relação entre imprensa e política no Brasil.
Artigo publicado na revista Lumina
Revista Lumina, 2024
Este artigo apresenta uma revisão sistemática de literatura (RSL) de pesquisas empíricas sobre como os editoriais da imprensa brasileira interpretaram a deposição da presidente Dilma Rousseff, em 2016. A RSL realizou uma análise de conteúdo (AC) de trabalhos acadêmicos (n=13) dentro desse recorte com o objetivo de identificar: (a) os veículos jornalísticos estudados e métodos empregados pela literatura especializada; (b) se essa literatura revela padrões interpretativos dos editoriais analisados em relação ao impeachment; (c) se é possível aí observar algum tipo de paralelismo político. Para isso, utilizamos três sistemas de busca acadêmica, a saber: Scopus; SciELO; e Catálogo de Teses e Dissertações da CAPES, nas quais selecionamos trabalhos publicados entre 2016 e 2023. Sob tais parâmetros, foram encontradas 13 pesquisas analisando os jornais O Globo, Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo; as revistas Veja e Carta Capital; e o telejornal Jornal Nacional, da Rede Globo de Televisão. Os trabalhos revisados mostram que, com exceção de um caso (a Carta Capital), todos os demais veículos jornalísticos intervieram no debate público de modo a defender, por meio de impeachment ou renúncia, a dissolução do governo Dilma. Diante disso, discutimos como o conceito de “paralelismo assimétrico” ajuda a compreender criticamente esses achados da literatura e como pesquisas futuras em torno de veículos de alcance regional ajudariam a melhor compreender esse momento tão crucial da relação entre imprensa e política no Brasil.
2024
Tem uma hora que você tem que puxar o gatilho!": discurso de ódio, apologia e incitação ao crime na TV no pós-eleições 2022 "There comes a time when you have to pull the trigger!": hate speech, apology, and incitement to crime on TV in the post-2022 elections "¡Llega un momento en que hay que apretar el gatillo!": discurso de odio, apología e incitación al delito en la televisión después de las elecciones de 2022 João Paulo MALERBA 1 Rosângela FERNANDES 2 Resumo: O presente artigo analisa indícios de discurso de ódio, incitação e apologia ao crime em programas jornalísticos televisivos em três momentos críticos da democracia brasileira. O objetivo é investigar o papel desempenhado pela TV na propagação e normalização do discurso de ódio e de incitação à prática criminosa contra o Estado democrático de direito. Para investigar suas raízes, analisamos o populismo penal midiático e os contornos conceituais de discurso de ódio. Seis edições dos programas Os Pingos nos Is e Alerta Nacional foram objeto de observação em articulação com os Estudos Críticos de Discurso.
Currículo Lattes Prof. Dr. Marco Aurelio Reis
ornalista formado pela Escola de Comunicação da Universidade Federal do Rio de Janeiro com Doutorado e Mestrado em Teoria Literária pela mesma instituição, pesquisando crônicas publicadas em jornais. Também graduado em Letras, é líder do grupo de pesquisa/CNPq Mídia e Literatura. Professor da Universidade Estácio de Sá, é bolsista do Programa de Pesquisa, Produtividade e Desenvolvimento Unesa-RJ (2015/2016/2017/2018) e autor do livro Arquitetura da Informação (2018). Atua (2018) como responsável por disciplinas do curso de pós-graduação Comunicação e Marketing em Mídias Digitais da Universidade Estácio de Sá, ação que se seguiu após ter desenvolvido atividades como Supervisor Nacional de Disciplinas do Curso de Jornalismo da Universidade Estácio de Sá (2017) . Tem experiência na área de Comunicação, com ênfase em Jornalismo, atuando por 20 anos em redações de jornais e emissoras de rádio do Rio de Janeiro. Pesquisa principalmente os seguintes temas: Multimídia, Narrativa, Rádio e TV e Planejamento Editorial Multimídia.
Revista Eco-Pós
Este artigo explora uma vertente emergente no jornalismo contemporâneo, denominada Jornalismo de Soluções, como inovação de práticas jornalísticas sob a perspectiva de experiências e representações sociais mais inclusivas. A partir do quadro teórico de comunidade interpretativa, e suas relações com conceitos de noticiabilidade e valores-notícia, adota-se uma metodologia experimental híbrida para seleção, tratamento e análise de reportagens sob a temática da saúde publicadas entre os anos de 2011 e 2019 na multiplataforma do jornal britânico The Guardian, que completa 200 anos de publicação ininterrupta em 2021. Os achados sugerem que embora as reportagens enderecem, de fato, a relação problema-resposta em diferentes contextos internacionais, não se configuram como evidências de soluções, temporárias ou permanentes, relativas ao tratamento da raiz de problemas societais sistêmicos.
Jornalismo cultural: pesquisa internacional sobre artigos registrados em base de dados
Lumina, 2015
Resumo: Este artigo apresenta uma panorâmica da produção científica internacional sobre jornalismo cultural. Pretende reunir, organizar e sistematizar uma parte do conhecimento acadêmicocientífico sobre a temática, oferecendo uma perspectiva parcial sobre o avanço das pesquisas na área. A partir de determinadas palavraschave de referência foram compilados artigos lançados nas bases de dados Scopus, Web of Science, Scielo e Dialnet no período de vinte anos (1992-2012). No total de quarenta textos, verificam-se quatro tendências: pesquisas empíricas longitudinais e de cunho histórico; problematização do gênero crítica; discussões acerca da identidade do profissional especializado; e proposições teóricas sobre a constituição do segmento. Nota-se, entre outros pontos, que a análise da noção de cultura atravessa o conjunto dos trabalhos; nele, o dispositivo impresso constitui-se em vetor hegemônico das investigações, evidenciando sua dimensão de documento histórico e mapa possível para a interpretação dos temas, agentes e consensos culturais de cada período histórico. Palavras-chave: Jornalismo cultural; produção científica internacional em jornalismo cultural; mapeamento temático em jornalismo cultural.
Processos de produção e design editorial multiplataforma: um olhar sobre o jornal Zero Hora
2015
O artigo identifica e analisa alterações empreendidas no âmbito da produção jornalística com foco na publicação multiplataforma, tendo em vista demandas que incidem sobre a atividade de design editorial, tomando como objeto empírico o jornal Zero Hora (ZH). Com base na pesquisa documental e observação realizada na redação do periódico, evidenciam-se aspectos que apontam para tensionamentos entre os processos de produção para o tradicional mundo impresso, com limites físicos de informação, e o espaço online como um contínuo informativo. Estes apontam para diferentes gerenciamentos simultâneos da relação entre espaço e tempo no âmbito da redação integrada e sua significativa dependência dos sistemas computacionais que viabilizam os processos de produção e publicação
2010
Os jovens, em suas interacoes sociais com os meios de comunicacao, buscam algo que esteja alem de externar emocoes, sensacoes e experiencias situacionais. Pretendem a insercao no contexto midiatico em sua totalidade, aderindo ao consumo de bens simbolicos e de servicos disponibilizados pelo mercado e difundidos pelos meios de comunicacao de massa. O objetivo deste trabalho e analisar, com enfase em um recorte local, as representacoes sociais produzidas e consumidas pela juventude, em sua relacao com os noticiarios televisivos. Interessa-nos, ainda, perceber as estrategias lancadas pelos jornalistas na tentativa de criacao de uma identidade e de um dialogo com a juventude urbana, mediada, re-cortada e re- contada pela televisao.