Mágico-vitalismo, alquimia e outras visões de mundo: um breve estudo histórico sobre concepções de matéria até o século XVI (original) (raw)

Alquimia e Cosmos: hermetismo e concepção de mundo no século XV.

Monografia apresentada à Escola de História da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro como requisito para obtenção do grau de licenciado em História. Texto avaliado e aprovado por Profª. Drª. Miriam Cabral Coser (UNIRIO) e Profº. Dr. Daniel Wanderson Ferreira (UNIRIO). O texto pretende demonstrar o caráter cosmológico da alquimia no fim da Idade Média inglesa. Para isto, parte-se da noção de "mundo fechado" para estabelecer as bases da cosmologia medieval. Discute-se a história, a historiografia e as novas perspectivas de abordagem da temática da alquimia. Por fim, faz-se uma análise sucinta da obra alquímica de George Ripley, alquimista inglês do fim do século XV.

Cosmologia e experiência em Portugal no século XVI

Revista Navigator, 2012

This article aims to raise a few preliminary questions about the role of cosmological theories in the context of Sixteenth Century Portuguese maritime expansion. Chalenged by the adversities of open sea navigation and by the long distances to be sailed, the Portuguese have called upon astrological knowledge – until then related specially to medical diagnosis and prognosis – for developing the theoretical foundations of astronomic navigation. Still centuries away from the last downfall of divinatory Astrology’s scientifical status, the areas of thought today know as Astrology and Astronomy were then permeable to each other, and coexisted in publications destined to a large group of readers, such as the texts know as Chronografias or Reportórios dos tempos, written by renowned portuguese cosmographers and astrologers.

Arte, ciência e magia: manipulando o espaço no século XVI

Formas Imagens Sons: O Universo Cultural da Obra de Arte, 2014, pp. 222-231, 2014

Abstract We can generally distinguish in the very conception of space three layers: geometrical space (abstract), physical space (concrete) and physiological space (perceptual) that can be further distinguished into visual, audible, tactual, tasting space etc. These layers, which are not identical, interrelated in different ways in sixteenth and seventeenth centuries to define the space of linear perspective. The physiological space (i.e, visual), certainly played an important role in the development of perspective. However, this space could not be considered between (or a "halfway") an abstract and a concrete spaces. Although the origins of linear perspective could be tracked in studies of optics, perspective did not follow the rules of visio (sight). Rather, it built a new field of visibility by stating its own rules in the intersection of these three coatings. Specific analyzes guided by current historiography trends in the history of science have shown that part of this process was associated to the reorganization of the visual experience and other habits related to vision as long with the proposal of natural magic to manipulate visual perception by means of different resources. As we considered in other place, natural magic was a type of knowledge that was manifested in the tension between science and art. The aim of magic was to make nature reveal its secrets by extraordinary means. In this way, magic distorted the visual experience in order to master space and grasp it in it most essential aspect. Regarding this, this paper seeks to point out some historical evidences of a complex network in which art, science and magic were involved to codify the space of visibility concerning perspective. Resumo Em linhas gerais, podemos distinguir na noção própria de espaço três camadas: o espaço geométrico (abstrato), o espaço físico (concreto) e o espaço fisiológico (perceptivo) que pode ser ainda diferenciado em espaço visual, auditivo, tátil, gustativo etc. Essas camadas, que não são idênticas, inter-relacionaram-se de diferentes maneiras nos séculos XVI e XVII para definir o espaço da perspectiva linear. O espaço fisiológico, isto é, visual, certamente teve papel importante no desenvolvimento da perspectiva, mas não por estar "entre" (ou "a meio caminho de") uma noção abstrata e concreta de espaço. Embora a perspectiva linear tenha se originado nos estudos de óptica, ela não seguiu as normas da visio (visão), mas construiu um novo campo de visibilidade, com regras próprias, na convergência dessas três camadas. Análises específicas, pautadas em tendências historiográficas atualizadas em história da ciência, têm apresentado indícios de que parte desse processo esteve relacionado à reorganização da experiência e dos hábitos visuais, bem como à proposta da magia natural em manipular o olhar por meio de diferentes recursos. Manifestada na tensão entre ciência (scientia) e arte (ars), a magia natural propôs conhecer a natureza por meios extraordinários, por vezes constrangendo-a, para que ela revelasse seus segredos. No que diz respeito ao espaço da experiência visual, a magia natural buscou distorcê-lo para poder dominá-lo e apreendê-lo em seu aspecto mais essencial. Tendo isso em vista, este trabalho procura apontar para alguns desses indícios em que arte, ciência e magia se imbricavam numa complexa rede de relações para codificar o espaço de visibilidade perspéctica.

O Materialismo Vitalista de Margaret Cavendish: Uma Alternativa ao Mecanicismo do Século XVII

Seiscentos, 2022

Resumo: Este artigo tem o objetivo de apresentar uma possível maneira de compreender como o materialismo vitalista de Margaret Cavendish emerge a partir da análise e crítica que ela faz da tese, de René Descartes, que os animais não pensam, devendo ser considerados como máquinas complexas. Há uma divergência fundamental na perspectiva em que ambos os autores definem a natureza da racionalidade. A crítica de Cavendish a Descartes não apenas apresenta um argumento contra a sua tese, desenvolvida principalmente na parte V do Discurso do Método, como introduz elementos centrais a partir dos quais pretende desenvolver o seu sistema de filosofia da natureza; sugerindo, com isso, uma alternativa filosófica sofisticada ao modelo de compreensão do mundo natural que se tornaria majoritário ao final da revolução científica.

Alquimia, Ocultismo, Maçonaria: o ouro e o simbolismo hermético dos cadinhos (Séculos XVIII e XIX)

2001

Utilizados no Brasil setecentista e oitocentista no processo de fundição do ouro, sobretudo em casas de fundição, casas da moeda e em áreas de mineração, os cadinhos vêm sendo recuperados em escavações arqueológicas, além de integrarem acervos de museus relacionados à história da mineração. Sobre os cadinhos utilizados no Rio de Janeiro especificamente, Eschewege (1944, p. 267) relatou no século XIX que [...] outrora, também os cadinhos acarretavam grandes despesas ao Estado, principalmente antes do Rei chegar ao Brasil, pois, não existindo nenhum comércio direto, o Governo os comprava em Lisboa em terceira ou quarta mão, e enviava-os à sua custa para o Brasil, de modo que custavam dez vezes mais do que se fossem adquiridos diretamente. Hoje são usados os cadinhos de Ipse (sic), que são recebidos no Rio diretamente dos vendedores boêmios, razão pela qual são adquiridos por preços muito mais baratos. Introduziu-se ainda, nas Casas de Fundição, o econômico sistema de pulverizar os cadinhos rachados e misturar o produto com uma porção de boa argila e fabricar novos cadinhos, de duração igual à dos primeiros. Os cadinhos de Hesse não foram usados, como afirma Mawe. No século XIX, portanto, eles provavelmente vinham em grande parte da Boêmia, uma região rica em minérios, entre eles a grafite. Quanto aos do século XVIII desconhece-se a sua proveniência, porquanto aqui chegavam os já utilizados e reutilizados em Lisboa, sem que se tenha notícia de seus fabricantes originais. Quanto à prática de reaproveitamento de cadinhos rachados ou quebrados, também referida no texto, ela se manteve até o final do século XIX, tal como relatado por Hartt (1881, p. 70): Quando para fins metalúrgicos fazem-se cadinhos, que devem poder resistir a um grande calor e a repentinas mudanças de temperatura, para impedir que estes estalem juntam-se às vezes ao barro cru barro queimado, que se obtém reduzindo a pó cadinhos velhos. FIGURA 2-Marca encontrada em um dos cadinhos do Museu do Ouro de Sabará, Minas Gerais, associada às iniciais IS. Acervo do Museu do Ouro de Sabará. FOTOGRAFIAS 7 e 8-A pedra bruta e a pedra lavrada,

As novas concepções da matéria

Poincaré tries to tackle the question "Can science sway us into materialism?". In other words, he analyzes if science - in particular Physics - and its theories are dependent on a materialistic ontological view of the world. His final answer appears to be "no". However, in order to reach this conclusion he resorts to a brief history of Physics, providing an insightful account on the evolution of the concept of atom from Democritus to the, then, recent discoveries on the composition of the atom. In his opinion, science swung and will keep swinging between two opposing approaches over the constitution of nature: the discrete and the continuous approach.

Materialismo e idealismo na Física do final do século XIX e início do século XX a partir de Materialismo e Empiriocriticismo de Lénine. O caso exemplar da interpretação bohriana da mecânica quântica

2015

Lénine expôs e desenvolveu um conjunto de aspectos da teoria do conhecimento na sua obra Materialismo e Empiriocriticismo. Nela, o autor analisa o confronto entre as correntes materialistas e idealistas na ciência do seu tempo. Em particular, analisa aquilo a que chama “idealismo físico”, isto é, a tendência de alguns físicos para interpretarem de forma idealista os resultados de um ramo das ciências. Lénine apontou como uma das razões para a crise da física a negação do valor objectivo das suas teorias: “a matéria desaparece, restam apenas as equações”. O confronto entre estas duas linhas filosóficas fundamentais, o materialismo e o idealismo, permaneceu ao longo dos tempos. Para compreender as formas que esse confronto assume na ciência actual, estudar Materialismo e Empiriocriticismo é da maior relevância. Nesta obra, procura-se mostrar que a interpretação ortodoxa da mecânica quântica – tomada a partir dos textos de Bohr – está profundamente marcada por tendências agnósticas e idealistas. Em particular, conclui-se que Bohr antepõe, como condição de possibilidade, uma correlação entre objecto e instrumento de medida que é, no fundo – para além de um limite epistemológico inultrapassável –, a negação da independência ontológica do ser face à prática (do ente quântico face à experiência): trata-se de um “idealismo da práxis”. Bohr não pôde resolver o problema central da mecânica quântica, o dualismo onda-corpúsculo, porque não considerou dialecticamente a unidade e a contradição do ser, acabando por “desmaterializar” a teoria, negando assim a teoria científica como reflexo aproximadamente verdadeiro da realidade objectiva. // Dissertação de Mestrado em História e Filosofia das Ciências, 2012, Universidade de Lisboa, Secção Autónoma de História e Filosofia das Ciências. Orientação: professora doutora Olga Pombo.