Os migrantes e os territórios. Na busca pela segurança ontológica (original) (raw)
A base motivacional das migrações tem no seu cerne a busca da melhoria do nível/qualidade de vida num território alóctone, cujos níveis de desenvolvimento permitam a concretização dos objectivos subjacentes. Contudo nessa busca não são apenas os rendimentos monetários, numa mera expressão quantitativa, que promovem essa meta, pois há outros aspectos que são considerados pelos indivíduos, os quais acabam por completar e satisfazer as suas necessidades enquanto seres unos e colectivos, tanto na esfera familiar como na comunitária. Destacam-se, entre outros aspectos, a busca da segurança ontológica, termo inicial que não deve ser entendido num sentido fechado e restrito à índole física dos indivíduos, mas que vai mais além, integrando na sua dimensão aspectos materiais e imateriais que permitem a estabilidade física e emocional do migrante, estendendo-se aos que lhe estão próximos. Assim este trabalho tem como objectivo promover a reflexão sobre as motivações que levam os indivíduos a deixarem os seus territórios de origem e a partirem para destinos internacionais, não só com base nos pressupostos enunciados pelas teorias das migrações, como também a partir da conceptualização do termo “desenvolvimento” e da evolução dos respectivos quadros teóricos, desde os anos 50 do séc.XX até aos nossos dias, destacando-se a segurança ontológica como causa/motor dos movimentos migratórios. Para ilustrar esta situação, serão apresentados dois casos práticos de comunidades imigrantes em Portugal (raia interior sul), cujas motivações para o seu estabelecimento nessas regiões de destino se relacionaram, entre outros aspectos, com a busca de situações e de elementos que lhes permitiram o equilíbrio e a segurança físico-material e identitário-imaterial pretendidos/possíveis. Perante estas situações, poder-nos-emos questionar inclusive sobre a dinâmica e o verdadeiro significado do “desenvolvimento local e regional” (usado muitas vezes num contexto negativo de atrofia territorial). A metodologia utilizada é de âmbito exploratório, ou seja, trata-se de uma abordagem temática com base na teorética apresentada por vários autores (Aydalot, Armstrong e Taylor, Badie, Benko, Corbridge, Silva Costa, Fernandes, Ferrão, Friedmann e Weaver, Haesbaert, Moreno, Stör, entre outros), bem como de documentos apresentados por organismos internancionais (PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento; Vision of Humanity). Os estudos de caso resultam, um do trabalho de campo elaborado no âmbito do mestrado em Estudos Europeus que realizei em 2005, e outro da dissertação de doutoramento em Geografia que actualmente me encontro a desenvolver e que trata da relação entre a mobilidade e o desenvolvimento regional na raia peninsular.