Clínica de Linguagem: sob efeito da novidade saussuriana (original) (raw)

A inovadora linguística saussuriana e a língua lituana

Resumo O objetivo deste artigo é mostrar o que há de inovador na proposta linguística de Ferdinand de Saussure, ao mesmo em tempo que a situa no ambiente intelectual da pesquisa em linguagem do século XIX. Nossa intenção é tornar mais complexas as imagens associadas a esse autor, que muitas vezes vê seu papel reduzido por epítetos como " pai da linguística " , " fundador do estruturalismo " ou cuja contribuição aos estudos da linguagem por vezes leva em conta apenas o Curso de linguística geral. Através da leitura dos textos publicados em vida que abordam a língua lituana, assim como uma parte do manuscrito Notes sur l'accentuation lituanienne, apresentamos o funcionamento teórico do que consideramos ser o núcleo do pensamento saussuriano: a diferença. No que diz respeito à língua enquanto objeto da ciência saussuriana, a diferença se desdobra em três aspectos, a saber, a imaterialidade, a virtualidade e a relatividade. Após apresentar esses três elementos do que chamamos de linguística da diferença na primeira seção do trabalho, consagramos a segunda aos trabalhos em torno do lituano, trazendo um breve sumário de seu papel na obra do linguista. Na última seção, introduzimos os leitores às Notes sur l'accentuation lituanienne e analisamos alguns de seus aspectos teoricamente inovadores. Esperamos, assim, deslocar a imagem tradicional do autor Ferdinand de Sassure, possibilitando que esse nome de autor invoque também outras formas de se produzir conhecimento nos estudos da linguagem e que não se perca de vista sua participação ativa na comunidade científica da gramática histórico-comparada.

O conceito saussuriano de língua: desdobramentos

Estudos Linguísticos (São Paulo. 1978), 2017

A língua, concebida por Saussure como sistema de signos e como organização gramatical vinculada à faculdade da linguagem, favorece a compreensão que se tem de um mundo tecido pela própria linguagem. Por outro lado, os herdeiros do saussurismo, entre os quais está Benveniste (1995), passam a cotejar “o homem na língua” como uma enunciação sistematizada, embora a fala tenha sido concebida por Saussure como um ato individual de vontade e inteligência, que, contraposto ao sistema linguístico, não é passível de descrição. Fala regrada remete a discurso. No debate desses pontos ficarão assentadas nossas reflexões, que procurarão trazer à luz mecanismos segundo os quais toma corpo “o homem na língua”, tal qual antevisto no interior de seus textos e dos seus discursos.

A linguística saussuriana e a multiplicidade das línguas

Revista Leitura, 2019

Este trabalho aborda a ciência saussuriana de maneira histórica e filosófica, de modo a oferecer uma leitura da obra de Ferdinand de Saussure que destaca a concepção que o autor possuía da língua e da linguagem, atravessada por conceitos não tão comumente enfatizados nos estudos saussurianos, em especial a analogia e o virtual. Através desses conceitos, o fenômeno linguístico apresenta-se de forma muito peculiar na obra do linguista, pois trata-se de um fenômeno extremamente fluído e mutável no espaço, no tempo e nas comunidades falantes. Finalmente, mostro como boa parte do interesse de Saussure, e do desafio da atividade do linguista para ele, está em desenvolver um instrumental conceitual – e um entendimento filosófico – que o habilite a momentaneamente capturar os fluxos da língua fugidia e múltipla para descrevê-la a partir de suas características imanentes

Libras na graduação médica: o despertar para uma nova língua

Revista Brasileira de Educação Médica, 2013

Danielle de Azevedo Levino participou da redação, tradução e participação no minicurso. Emyle Brito de Souza, redação, revisão e participação no minicurso. Pedro Capela Cardoso, redação, revisão geral. Anderson Carvalho da Silva, redação, revisão, participação no minicurso e orientação. Adriana Edelves Trindade Martins Carvalho contribuiu na participação no minicurso e orientação. CONFLITO DE INTERESSES Declarou não haver.

À escuta da langue-parole: considerações a partir da teoria saussuriana

Tese de doutorado, 2020

O intuito desta tese é propor um conceito de escuta em articulação com as noções de langue e parole, levando em consideração o papel atribuído ao ouvido e ao falante a partir da reflexão linguística saussuriana. Para tanto, empreendemos uma pesquisa teórica, entrelaçada em três capítulos: o primeiro é dedicado ao ouvinte, o segundo ao falante e o terceiro à escuta. Cada uma dessas concepções, apesar de estarem dispostas separadamente em capítulos, estão imbricadas no decorrer de toda a nossa discussão; nesse sentido, sublinhamos que as três partes da tese mantêm um constante diálogo e apresentam a questão da escuta de pontos de vista singulares. No capítulo 1, “Monsieur B e a posição de ouvinte”, introduzimos o debate a partir de uma contextualização acerca do ouvido e suas implicações terminológicas, com ênfase no manuscrito Phonétique. Além disso, propõe-se uma visada do circuito da parole saussuriano para além da posição de falante, sublinhando a posição ativa do ouvinte frente à langue. Por fim, trabalhamos a partir da noção de função muda da linguagem, proposta por Jacques Coursil, com o intuito de apontar a posição de ouvinte como uma constante na linguagem. No capítulo 2, “Monsieur A: o encontro langue-parole”, situamos a concepção de falante nos estudos linguísticos e seu lugar na teoria saussuriana. Em seguida, abordamos a parole como experiência, mostrando como os conceitos de langue e parole estão unidos pela concepção saussuriana de sujet parlant. Na sequência, encaramos o sentimento da langue, presente em textos saussurianos, como um termo que reforça a experiência da parole e sua indissociabilidade em relação à langue. No capítulo 3, “A escuta linguística: efeitos do ouvido”, delimitamos as diferenças entre os termos ouvir e escutar e rastreamos definições de escuta e suas possíveis relações para a construção de um conceito linguístico. Lançamos mão de considerações advindas da filosofia com o propósito de ampliar uma concepção de escuta distante da objetividade e da passividade, realizando um deslocamento de tais considerações para o campo dos Estudos da Linguagem. Finalmente, redirecionamos nossa atenção à Linguística, buscando um embasamento teórico a partir de dois pesquisadores fundamentais: Roman Jakobson e Arild Utaker, cada um a seu modo, sob os efeitos do pensamento saussuriano. Concluímos, assim, que a escuta é uma função de interpretação linguística capaz de questionar a divisão langue-parole, cuja implicação pode repercutir em diferentes perspectivas dos Estudos da Linguagem.

Saussure e o aspecto fônico da língua

DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada

RESUMO O presente artigo tem como objetivo realizar um percurso de leitura acerca da importância do aspecto fônico da língua no legado do mestre genebrino Ferdinand de Saussure. Partindo das noções de concreto e abstrato presentes no clássico livro Curso de Linguística Geral (CLG), são analisados os conceitos de fonema, fonética e fonologia presentes na obra. A abordagem da materialidade fônica no CLG é contrastada com duas outras importantes fontes manuscritas do autor, os Escritos de Linguística Geral e o manuscrito harvardiano Phonétique.

Sincronia e diacronia mais além da linguística: Saussure... e depois Lacan

2023

Este texto tem como questão observar o que faz Jacques Lacan com os conceitos de sincronia e diacronia emprestados de Ferdinand de Saussure. Pautado pela noção de domínio de memória (Foucault, 1969 apud Chiss; Puech, 1994), percorro brevemente as reflexões do mestre genebrino e seus deslocamentos, sobretudo a partir de R. Jakobson e o círculo de Praga, a fim de levantar alguns pontos que balizam a leitura de Lacan. Neste percurso de leitura, busco trazer elementos que componham as condições de produção de três recepções (Chiss; Puech, 1994; Puech, 2000) distintas do saussurismo, quais sejam o momento de publicação do curso; a leitura do Círculo de Praga; e o "estruturalismo generalizado", quando a teorização saussuriana alcança áreas conexas, como a psicanálise. Ao realizar uma releitura de Freud a partir das lições de Saussure sobre a linguagem, Lacan pensa a dicotomia em questão na relação com o inconsciente e o trabalho interpretativo do analista, deslocando, portanto, o objeto sobre o qual incide o tempo na teorização saussuriana. Nesse sentido, meu objetivo é compreender, em Lacan, o funcionamento dos conceitos saussurianos de sincronia e diacronia e a distância deste uso com o que se pode ler no Curso de Linguística Geral (1916). Do ponto de vista da História das Ideias Linguísticas, essa leitura se mostra ilustrativa de como as formulações saussurianas vão sendo deslocadas da linguística para o "estruturalismo generalizado" que animou as ciências humanas sobretudo nos anos de 1950 e 60 e reescritas, no caso específico deste trabalho, na psicanálise. Palavras-chave: sincronia; diacronia; tempo; língua; sujeito falante.

Efeitos da introdução de la langue na discussão do diagnóstico na Clínica de Linguagem

DELTA: Documentação de Estudos em Lingüística Teórica e Aplicada, 2018

RESUMO Este artigo aborda criticamente alguns aspectos da “avaliação da linguagem”, uma instância importante do processo diagnóstico. Comentários críticos, referentes à prática, assentada na Fonoaudiologia, de projeção de aparatos gramaticais sobre dados de falas sintomáticas para decidir sobre normalidade ou patologia são apresentados e discutidos. Argumenta-se que instrumentos descritivos de natureza categorial só podem conduzir a análises negativas e deixam passar a mobilidade efetiva que caracteriza falas patológicas. De fato, resultados diagnósticos raramente tomam distância de uma paráfrase sofisticada da queixa do paciente. Assume-se, neste artigo, que as ideias de Saussure são uma saída das descrições. Elas abrem a possibilidade de abordar a fala como algo mais do que mera atualização da gramática, o que é essencial frente a natureza idiossincrática de falas sintomáticas. Procura-se, aqui, iluminar a importância de considerar o funcionamento da linguagem e tomar relações com...

Saussure e a definicao de lingua

RESUMO: Para se estabelecer como ciência, a lingüística necessitava definir seu objeto e obter um método que atendesse ao estudo desse objeto. O pesquisador suíço Ferdinand de Saussure, atento a essa necessidade e com uma enorme capacidade de ler e processar o conhecimento lingüístico da humanidade de então, final do século XIX e limiar do século XX, foi quem primeiro delimitou esse objeto, a língua, e municiou aos lingüistas de um método, o estruturalismo. O objetivo deste artigo é evidenciar a importância de se reler Saussure. Através da análise historiográfica e cronológica da obra Curso de lingüística geral (2002), de Saussure. Essa preocupação se justifica a partir da necessidade de constante reformulação e delimitação do objeto das investigações das ciências da linguagem. Devido ao grande desenvolvimento da disciplina lingüística no século passado, contando atualmente com uma infinidade de vertentes de pesquisa, faz-se necessário revisitar os teóricos que definiram as bases sobre as quais principiaram a se fazer tais pesquisas, com o intuito de que se possam adequar quanto à delimitação do objeto de investigação consoante o acúmulo de conhecimento obtido. Essa é uma discussão epistemológica que necessita ser desenvolvida a fim de se buscar uma compreensão mais exata do objeto e do método de estudo, visto que o avanço teórico já não permite ver da mesma maneira as ciências da linguagem.

A Variação No Sistema Saussureano Da Língua

Cadernos Do Il, 2012

Este trabalho visa a discutir dois fenômenos linguísticos presentes na obra de Ferdinand Saussure-formações analógicas e flutuações-, tendo como objetivo principal defender a ideia de que, ainda que a palavra 'variação' não apareça na obra do autor, é possível inferir pela reflexão acerca dos fenômenos acima citado, que a variação como um processo de mudança e alternância está presente no sistema da língua de Saussure, não sendo um processo concernente apenas ao domínio da fala, como afirmam alguns autores. Para esta argumentação, serão consideradas as discussões presentes no Curso