Cirurgia de correcção de incontinência urinária, qual a melhor opção? (original) (raw)

A incontinência urinária de esforço (IUE) pode afectar até cerca de 40% das mulheres, com grande impacto na qualidade de vida. Após a aplicação de medidas conservadoras (perda de peso, fisioterapia, por exemplo) e falha destas, a cirurgia é uma opção eficaz para o tratamento da IUE. A existência de mais de 200 cirurgias ou variantes, com o mesmo intuito terapêutico, claramente revela que nenhuma delas será perfeita. Algumas têm interesse apenas histórico e estão hoje perfeitamente desaconselhadas (operação de Kelly e suspensões com agulhas, por exemplo). Outras têm interesse limitado, como por exemplo as injecções peri ou transuretrais. As cirurgias a realizar em primeira linha incluem as fixações retropúbicas (operação de Burch) e a aplicação de fitas sintéticas sob uretra média. A operação de Burch é a mais estudada até hoje, com elevadas taxas de sucesso, poucas complicações e eficácia comprovada a longo prazo – sendo por tal considerada o padrão. A realização deste procedimento por via laparoscópica, ainda que associada a um melhor pós-operatório, não tem vantagens em termos de eficácia (alguns estudos mostram até menor taxa de sucesso) e é tecnicamente mais complicada. Mais recentemente, têm-se popularizado o uso de fitas sintéticas na uretra média. As primeiras técnicas deste grupo foram as fitas transvaginais retropúbicas, mas que perderam terreno para as transobturadoras. Estas, são de execução mais rápida e com menor taxa de complicações (nomeadamente de perfurações vesicais), sem perda de eficácia. As fitas de incisão única (“mini-slings”) têm vindo a provar ser menos eficazes que as anteriormente referidas, não sendo a sua utilização recomendável à luz dos dados actuais. Ainda que a IUE seja mais comum em mulheres mais velhas, pode ser encontrada em qualquer idade. A gravidez após correcção de IUE parece não influenciar significativamente a manutenção da continência. O parto vaginal, comparativamente à cesarina, associa-se a um discreto aumento da probabilidade de recidiva, ainda que sem significado estatístico. É duvidoso se se deve realizar sistematicamente a correcção de IUE oculta aquando da cirurgia de prolapsos genitais: ainda que seja um achado muito comum, apenas cerca de 30% das mulheres vêm a queixar-se de IUE após a correcção isolada de prolapso. Em conclusão, não existe “a” melhor opção, mas antes um leque de opções a utilizar de acordo com a experiência do cirurgião, expectativas da doente e meios disponíveis.