O ethos e a cenografia da elite fluminense contemporânea à abolição: análise de duas crônicas de Machado de Assis (original) (raw)

Os Abolicionismos na Prosa Brasileira: de Maria Firmina dos Reis a Machado de Assis

2013

Tese de doutoramento em Letras, área de Línguas e Literaturas Modernas, na especialidade de Literatura Brasileira, apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de CoimbraNo século da independência, do Império e da República, a existência do sistema esclavagista marcou decisivamente a história do Brasil, condicionando as mentalidades e o futuro da nação. Como tal, perante uma realidade insofismável, este trabalho procura demonstrar como no «século negro» a escravidão, a abolição, as relações entre senhores e escravos se estabeleceram, trazendo para a cena literária textos dramáticos e também narrativas (romances, novelas, contos, crónicas) de referências da literatura do Brasil, quase todas de autores bem conhecidos: Maria Firmina dos Reis, Joaquim Manuel de Macedo; Bernardo Guimarães, Aluísio Azevedo; e the last, but not the least, Machado de Assis. Ocupando um lapso de tempo considerável, da década de 50 do século XIX à primeira do século seguinte, e um número extenso de texto...

Machado de Assis e a eloquência oitocentista: ascensão e declínio do "império retórico"

Machadiana Eletrônica, 2018

Este artigo se propõe a refletir acerca da reciclagem e dos deslocamentos referentes ao “império retórico” em dois contos de Machado de Assis. Em termos mais precisos, buscaremos tratar dos vestígios da retórica no terreno das letras do século XIX, considerando aquilo que ficou e aquilo que, sob as lentes românticas, foi inteiramente desprestigiado. Para ilustrar nossa investigação,tomaremos como ponto de partida alguns contos daquele que sutilmente foi um dos grandes críticos do que se convencionou chamar de uma eloquência pedante, porém, que, argutamente, soube trabalhá-la dentro dos seus próprios textos ficcionais e críticos. Para chegar aos contos machadianos, faz-se necessário estabelecer um panorama que nos permita enxergar a questão de maneira mais cristalina, o que nos exigirá traçar um percurso, ainda que breve, pelos estudos de alguns dos eminentes críticos que se inquietaram com semelhante matéria.

Machado de Assis e Silvio Romero: escravismo, “raça” e cientificismo em tempos de campanha abolicionista (década de 1880)

Almanack, 2018

O objetivo deste artigo é explorar a historicidade e as desavenças em torno do abolicionismo e da presença da “raça negra” no Brasil em fins do século XIX, fundamentalmente na década de 1880, recortado nas obras de Machado de Assis (1839-1911) e Silvio Romero (1849-1914). Nesse período, os grandes debates públicos giravam em torno do fenômeno literário, razão pela qual optou-se por investigar o modo como o escravismo e o abolicionismo e o racismo científico aparecem nos textos do historiador e crítico literário Silvio Romero, bem como na literatura de Machado de Assis. Um e outro foram nomes de prestígio na República das Letras e viriam a ser sócios-fundadores da Academia Brasileira de Letras em 1897, embora apresentassem fundas divergências intelectuais e políticas, as quais o artigo busca investigar.

Niilismo e Concórdia: os leitores de Machado de Assis

Niilismo e Concórdia: os leitores de Machado de Assis, 2018

Em boa medida, quem criou o Machado de Assis que conhecemos foram seus leitores. Diante da imensa fortuna crítica que conta com importantes trabalhos estrangeiros (às vezes esses chegam a suplantar em importância os nacionais), além dos escritos de Roberto Schwarz, cujo empenho de quase toda uma vida se deu a interpretar quem chamou de “mestre na periferia do capitalismo”. Este mesmo crítico, apesar de uma forte contenda com Silviano Santiago a favor de modelos explicativos nacionais contra modelos estrangeiros para explicar a literatura brasileira, sempre contrapõe nossa sociedade a um tipo de liberalismo estrangeiro que nosso país nunca chegou a alcançar. Se essa própria noção de liberalismo pode em muito ser criticada, ainda mais seria sua aplicação a realidade nacional. Esse estrangeirismo na leitura de Machado de Assis transformou-o não em um grande autor, mas em um gigante. Contudo, o século XIX é repleto de lutas sociais importantes, teve autores de grande relevância participando disso (um dos casos paradigmáticos é Sousândrade), e tudo parece se ofuscar frente a presença do “bruxo do Cosme Velho”. Mas não se ofusca só a literatura, mas a complexa sociedade brasileira da segunda metade do século XIX como um todo. O pequeno texto abaixo tende a abrir algumas brechas diante dessa unanimidade machadiana, provocar alguns questionamentos, na análise principalmente dos leitores de Machado e do que se chamou de “autor hipocondríaco”, ou seja, o éthos da escrita machadiana.

Machado de Assis e o debate sobre a visão dos escravagistas

2019

This article aims to present José Maria Machado de Assis’s perspectives about 19th Century Brazilian Slave Owner’s property comprehension, as well as about how that group used to relate with the land. We intend to do it, analyzing two administrative procedures of property request from Espirito Santo, a Brazilian province. Machado de Assis worked at the Agriculture ministry and wrote on those files. We also will consider two literary texts from this man of letters.

Niilismo Político e galhofa em Esaú e Jacó, de Machado de Assis

O objetivo geral deste artigo é argumentar que o niilismo político é um leitmotiv do romance "Esaú e Jacó", aparecendo como perspectiva a ser galhofada. A principal reivindicação do presente estudo é que Machado de Assis teve uma aguda consciência do caráter complexo e multifacetado da presença do niilismo em seu tempo. The main purpose of this paper is to argue that nihilism is a leitmotif of Esau and Jacob, presented as a perspective to be mocked. The fundamental claim is that Machado de Assis had an acute awareness of the complex and multifaceted nature of the presence of nihilism in his time.

O contexto da publicação e o prefácio de "Ressurreição": Machado de Assis e os cavaleiros da causa nacional e da ordem romântica

Opiniães, 2016

A partir da trajetória de Machado de Assis, considerando suas tomadas de posição e o contexto de Ressurreição, apresento uma leitura sincrônica da primeira advertência à Ressurreição, explorando o romance também, mas brevemente. O objetivo primário é mostrar o anúncio de adequação feito por Machado no prefácio desse romance às exigências de Quintino Bocaiúva, em 1863, quando este, então preceptor do teatro realista, criticava Machado por não partilhar a causa nacional do Romantismo brasileiro: a formação moral do leitor. Ao dialogar com seus pares, Machado apresenta seu romance, então, conforme a crítica de Bocaiúva, aliás, o paradigma validado pela teoria do Romantismo brasileiro. Observarei como Machado configura o diálogo com o crítico de 1863, com o contexto de 1872, ano de publicação de Ressurreição, e como este romance responde às exigências quintiniana de 1863. Hipótese: a presença da fábula de Esopo subsidia a pressuposição de que Ressurreição acomoda-se à ordem romântica e ...

Entre a crônica e a epopeia: Machado de Assis em versos homéricos

Semina-ciencias Agrarias, 2015

The aim of this study is to show the presence of classical epic, Homer's Iliad, in the chronicle of Machado de Assis, analyzing the intertextual dialogue between Machado de Assis and the epic poem by Homer, considering the concept of intertextuality developed by Julia Kristeva from philosophical conceptions of Bakhtin. In the chronicle of March 18, 1894 for the newspaper Gazeta de Noticias on sunday column "A Semana", Machado de Assis crosses Homer's epic to his chronicle, rewrites the epic text for the daily issues of his weekly column. To Tiphaine Samoyault, writing is rewriting, "stand on the existing foundations and contribute to a continued creation" (2008, p. 77) one of the principles of intertextuality. It was observed that from the reading and assimilation of the classic poem, Machado de Assis can approach so far genres, bringing the verses to his prose, leaving it closer to poetry. In this sense, we can see the richness of Machado de Assis chroni...

Crônicas de Machado de Assis e romance folhetim de Almeida Garrett: duas experiências pioneiras

Revista FAMECOS, 2016

The article tries to show the relationship between journalism and literature, from two reference cases: in Portugal, Almeida Garrett; in Brazil, Machado de Assis. It is known that most constant and main occupation of Machado de Assis was the journalistic chronicle, which he held throughout his life. From there he drew sustenance. More than that, in chronic he exercised style and themes that develop later in stories and, above all, in the novel. As for Almeida Garrett, already in maturity, published "Travels on my land" in serials in the Journal Lisbonense Universal, not because he had some difficulty finding editor, but because, as is proposed here, the narrative form adopted, the serial corresponded to writer's goals, to make a kind of political chronicle without risk of persecution by the then authorities. In both cases it is intended to conclude that the relationship between journalism and literature are narrower than appears at first sight and, above all, journalism allowed the literary dissemination through the spaces of the so journals.

As crônicas do útil e do fútil: Machado de Assis e as metacrônicas

2018

Desde sua origem biblica ate sua evolucao a genero literario, a cronica encontra-se sobre uma tenue linha entre literatura e jornalismo. Comecando por Esdras, passando pela Idade Media, ate o seculo XIX, o genero percorreu um longo caminho ate chegar ao Brasil e adquirir caracteristicas proprias. Um dos maiores cronistas do pais, Machado de Assis, assina tres metacronicas sobre as quais me debrucarei: 30 de outubro de 1859, 15 de setembro de 1862 e 1o de novembro de 1877. Estas tres cronicas abordam tanto a producao deste tipo de texto, como tambem outros fatos. Palavras-chave: Cronicas; Machado de Assis; Metacronicas.