Os livros nos inventários da Comarca do Rio das Velhas no século XVIII (1740-1760) (original) (raw)

2007, IV Congresso de Pesquisa e Ensino em História da Educação

Os inventários se apresentam como uma das melhores (e poucas) fontes para a pesquisa a respeito da circulação de livros e a possível leitura dos mesmos durante o século XVIII, sobretudo nos arquivos brasileiros. A prática de feitura dos inventários era necessária, visto que era o primeiro passo no longo processo de partilha dos bens que ficavam dos indivíduos que haviam morrido. Nesses documentos podem ser encontradas informações diversas e descrições detalhadas sobre a ocupação do indivíduo, se deixava herdeiros e os bens que possuía. É, especificamente, nessa parte dos inventários que se encontram, para nós, as informações mais relevantes, já que em meio a peças de metais preciosos, ferramentas, roupas e outros materiais, se encontravam -às vezes em separado, às vezes mesclados a outros artefatos -os livros, a biblioteca em posse daquele indivíduo. É justamente nesses livros, na sua descrição e detalhamento, que investiremos nosso olhar. Na tentativa de estabelecer alguns parâmetros, buscaremos compreender o que a posse desses livros parece representar, a existência de determinados livros como reflexo de seus possuidores e também uma possível leitura de alguns deles. Porém, se faz extremamente necessário salientar que a posse dos livros não significa de forma alguma a sua leitura. Como reflete Silvio Gabriel Diniz, "para se avaliar o grau de expansão cultural na Capitania, no século XVIII, nada mais positivo do que descobrir as bibliotecas existentes então. Elas informarão o que as pessoas cultas liam, ou melhor, o que havia para ser lido". (1959a, p.338) Nesse sentido, acrescentaríamos ao "circuito do livro", apresentado por Robert Darnton 2 , mais um elemento. Para além do autor, editor, impressor, distribuidor e vendedor, acrescentaríamos o possuidor, antes de chegar ao leitor propriamente dito. É claro que na maioria das vezes existe a sobreposição desses dois últimos agentes do circuito num mesmo indivíduo, mas não se pode afirmar diretamente que a posse de uma determinada obra implica na sua leitura e vice-versa. O que veremos, em muitos casos, é uma posse de livros que reflete um estatuto social, não 1 Graduando no curso de História -FAFICH -UFMG. Bolsista de Iniciação Científica FAPEMIG. 2 Ver Robert DARNTON. O que é a história dos livros? . In.: O beijo de Lamourette. Mídia, cultura e revolução. São Paulo: Companhia das Letras, 1990. p. 112-131.