As Investigações de um cão – Uma Leitura do fragmento Forschungen Eines Hundes de Franz Kafka (original) (raw)

Dissertação de Mestrado em Estudos Alemães – Literatura Alemã. Universidade Nova de Lisboa Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Um excerto: «Se Freud acredita num Eu mais profundo capaz de, através do seu fortalecimento, desafiar o impulso de morte, Kafka aposta neste seu sentido do «indestrutível», o culminar de um processo pessoal progressivo que, antes de qualquer autoridade, valoriza a experiência. Trata-se de um trabalho realizado na literatura, a qual aglutina, como um imã, constatações dos foros psicológico, social, religioso, ético ou outros. Os problemas nascem e enfrentam-se como acontece no ensaio mais heterodoxo, mas à luz de uma paixão e empenhamento na escrita como ascencio.» E outro: «Paradoxalmente, e ainda em termos de estratégia narrativa, o que torna Kafka diferente das tradições que o antecederam - sobretudo a da fábula – é a revogação, ou digamos, o colapso da distância estética que separava presumivelmente o escritor do seu leitor. Esta não apenas se afasta de uma qualquer tipologia, como ainda abole uma série de categorias para instaurar um discurso novo cujo impacto deriva essencialmente dessa violenta anulação de distâncias. Evidentemente que o leitor continuado de Kafka aprende a criar as suas próprias distâncias e, com o tempo monta a sua grelha de leitura, mas é inquestionável que, em termos de recepção inicial, a obra kafkiana é qualquer coisa de estranhamente imediata. Esta proximidade aparentemente não mediatizada está dependente da capacidade de reflexão do leitor. Onde anteriormente existia uma distância estética, surje agora a proximidade (e até a identidade), ou seja, o meditar, a análise, deixam de serem possíveis fora do texto: é preciso entrar na ficção para lhe reconhecer a estratégia. E então acontece um pouco o que, diz-se, acontece perante o diabo: quando dançamos com ele, não é ele que muda, somos nós que mudamos.