Uma roda de rua: notas etnográficas da roda de capoeira de Caxias (original) (raw)
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Entrando na Roda. Capoeira e encruzilhadas metodológicas de uma etnografia em movimento
Revista Simbiótica, 2013
A finalidade deste texto é tecer uma reflexão metodológica sobre a recopilação e interpretação dos aspectos “não discursivos” da comunicação dos coletivos que estudamos. Desde um ponto de vista teórico-argumentativo é muito difícil negar a importância semiótica e sintática da corporalidade na construção social da realidade. Entretanto, quando analisamos as dinâmicas disciplinárias da antropologia, notamos que os significados corporais e sensíveis da vida coletiva ainda se consideram como um tipo de “dado” etnográfico marginal em relação às narrações discursivas facilitadas pelos sujeitos de estudo. Relataremos, então, como nossa etnografia sobre a imigração de brasileiros capoeiristas a Madri, dotou-se de uma perspectiva que tomava a corporalidade não apenas como um elemento reificado, mas como um espaço central de intercâmbios comunicativos: um lócus de encontro entre objetividade e subjetividade.
Interação e coletividade: apontamentos etnográficos sobre uma roda de choro
Revista Orfeu, 2019
A música praticada em uma roda de choro está sujeita às consequências diretas e indiretas da interação e da coletividade. No presente artigo busco demonstrar como este fazer musical proporciona formas simultâneas de negociação, promove tomadas instantâneas de decisões e oferece possibilidades singulares de organização. Teoricamente, dialogo com autores da área de etnomusicologia que apresentam discussões sobre fazer musical coletivo e suas possíveis relações entre música e sociedade. Posteriormente, apresento dados etnográficos construídos ao longo da minha pesquisa de campo, enfatizando, sobretudo, propostas de negociação, dinâmicas de revezamento, revezamentos entre músicos e diretrizes para a escolha dos instrumentos que serão tocados. The music practiced on a roda de choro is subject to direct and indirect consequences of the interaction and the collectivity. In this article, I seek to demonstrate how this music making provides simultaneous forms of negotiation, promotes instant decisions and offers unique possibilities of organization. Theoretically, I dialogue with authors of ethnomusicology who discuss music making and its possible relations between music and society. Later, I present ethnographic data constructed during my fieldwork, emphasizing negotiation proposals, dynamics of alternation between musicians, and guidelines for choosing the instruments that will be played.
Dissertação - Roda de Capoeira: música e tradição oral na cidade de São Paulo
Angoleiro, sim senhor -Contramestre Plínio, pela generosidade e confiança CAPES, pela concessão de bolsa de estudo por um período dessa pesquisa Ana Eliza, Laura, Valéria e Alexandre -e amigos e amigas, sempre Alberto Ikeda, pelo carinho, atenção e firmeza Léo, Albino, Vera e Reinaldo, por estarem sempre perto -Aracelis, in memorian Cássia, sem seu carinho e ajuda não existiriam inúmeras passagens desse trabalho Flávio, pelo amor e paciência -e por me ajudar a seguir em frente.
A capoeira em Duque de Caxias: memória e patrimônio como política no território
Anais do XVII Encontro Nacional de História Oral : Trajetórias, Movimentos e Perspectivas, 2024
A comunicação visa apresentar resultados da pesquisa em andamento realizada pelos autores no município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, acerca da memória da capoeira. A trajetória da capoeira no município possui suas especificidades, resultado de vertentes e linhagens em diálogo com variações e tensões próprias do campo, estabelecendo marcos e referências na região. A capoeira tem um passado, não muito distante, de discrimináção, proibições e desencorajamento por parte de diferentes administrações, mas também de lutas e resistências por parte do conjunto de capoeiristas e intelectuais simpatizantes que a entenderam como uma prática que reflete a memória da experiência da diáspora de povos africanos escravizados nas Américas. A prática, embora guarde diferentes estilos e uma multiplicidade de visões, possui certa identidade que a conforma como de resistência ao processo de escravização e atualmente de ressignificação desse passado como um ativo dos descendentes dos africanos, no Brasil. A capoeira atualmente passa por um processo de valorização em políticas públicas nacionais e locais, especialmente no ciclo político pós-2003, sendo celebrada como um patrimônio cultural pelo município de Duque de Caxias e o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. A pesquisa que por ora apresentamos buscou recompor o passado e o presente da capoeira através da oralidade de alguns de seus mestres, zeladores e guardiões, buscando perceber referências à memória da prática no território. Acreditamos que as recentes ações por parte do Estado vêm tanto do processo de patrimonialização e políticas de reconhecimento, quanto pela organização dos capoeiristas em diferentes sentidos, mas especialmente na valorização de suas memórias. O processo de escuta dos mestres na pesquisa vem da parceria, estabelecida entre instituições de memória e educacionais locais, que se debruçou no que estamos chamando de lugares de memória da capoeira no município de Duque de Caxias. Para a escuta, um conjunto de três mestres foi selecionado e foi aplicada a metodologia de entrevistas abertas, gravadas, durante "caminhadas" onde os mestres falavam de sua trajetória e demarcavam no território os lugares que entendiam como referências para se entender o percurso histórico da prática no município. Alguns conceitos são centrais para nossa pesquisa e nos ajudam a interpretar os resultados: memória coletiva e cultural, território e lugares de memória.
Capoeira, Cidade e Cultura: notas etnográficas sobre ocupações criativas em Fortaleza-CE
O Público e o Privado · nº 29 · jan/jun · 2017 55, 2017
O presente artigo tem por objetivo refletir acerca dos modos criativos de ocupação urbana a partir, especificamente, da ação de dois coletivos de capoeira na cidade de Fortaleza-CE, a saber: Kaiango Capoeira e Centro Cultural Capoeira Água de Beber (CECAB). Busca-se, assim, compreender como a presença corporal, a valência musical e a dimensão performativa da capoeira apresentam-se como possibilidades de efetivação daquilo que M. Agier (2015) chamou de “fazer-cidade”, um esforço concreto de dotação de sentido para a expressão “direito à cidade”, de Lefebvre (2001). Em termos metodológicos, as reflexões localizadas neste texto são produtos de experiências etnográficas, desenvolvidas ao longo dos últimos anos, entre os sujeitos que compõem os citados coletivos, atuantes tanto na região central quanto na periferia da capital cearense.
A capoeira e seus mestres: memória, saber e cultura na roda e na vida
2017
Resumo A capoeira é uma prática que une dança, luta, arte e jogo, e agrega diferentes modos de ser, comportamentos e interesses. Como manifestação física, artística e cultural, dissemina valores que vão além da roda, relacionando-se à vida em sociedade: um sentimento de comunidade, de pertencimento, um meio de resistência social e cultural, e isto a transforma numa prática que é, essencialmente, memória. No centro disto, o mestre de capoeira aparece como alguém que vai além do papel de professor, passando a ser exemplo de vida: uma espécie de pai, professor, amigo e ídolo para os mais jovens, inspirando-os a serem bons capoeiristas e bons seres humanos. Estes saberes partilhados no grupo e transmitidos por um "mestre de verdade", são os responsáveis por dar à capoeira significados sempre atuais, fazendo dela "filosofia de vida". Palavras-chave: capoeira; mestre de capoeira; memória; cultura Palabras claves: capoeira; maestro de capoeira; memoria; cultura Introdução "A Capoeira é tudo que a boca come e tudo que o corpo dá". Esta frase tão famosa e tão cheia de significado, dita por Mestre Pastinha, expressa de maneira irretocável o que a capoeira é, e a importância que ela tem na vida de seus praticantes. Buscar nos ensinamentos de Mestre Pastinha, como de tantos outros mestres de capoeira, meios para entender os meandros desta arte, que é luta, dança e, sobretudo, manifestação cultural é refazer os passos que a própria capoeira percorre: aprender com melhores, "beber na fonte", já que são eles, os mestres de capoeira, os grandes responsáveis
Revista Orfeu, 2019
Este trabalho apresenta a etnografia de uma roda de choro ocorrida em julho de 2016 no Instituto Casa da Cidade, situado na Vila Madalena, bairro da cidade de São Paulo/SP. A roda em questão, na época realizada mensalmente, era organizada por um músico veterano no cenário do choro paulistano e reunia músicos amadores, profissionais, estudantes e ouvintes. Foram observados aspectos do fazer musical da roda e o perfil de seus participantes sob a perspectiva de alguns autores ligados à etnomusicologia, entre eles Ruth Finnegan, Thomas Turino, John Blacking e Etienne Wenger, por meio da observação participante e entrevistas realizadas com frequentadores do evento. Conclui-se que a roda tem características que a diferem de outras rodas de choro da capital, por ter a participação de músicos amadores e profissionais em um ambiente democrático e acolhedor, e por evidenciar aspectos de resgate da história pessoal dos músicos. This paper presents the ethnography of a roda de choro that occurred in July, 2016, at The Casa da Cidade Institute, located in Vila Madalena, São Paulo. The roda in question, at the time held monthly, was organized by an elderly musician in the scene of the São Paulo choro and brought together amateur musicians, professionals, students and listeners. Aspects of the musical making of the roda and the profile of its participants from the perspective of some authors related to ethnomusicology were observed, among them Ruth Finnegan, Thomas Turino, John Blacking and Etienne Wenger. The methodology adopted was ethnography with participant observation and interviews with attendees of the event. It is concluded that the roda has characteristics that differ from other rodas de choro of the capital, to have the participation of amateur and professional musicians in a democratic and welcoming environment, and for evidencing aspects of rescue of the personal history of the musicians.
Antropolitica - Revista Contemporanea de Antropologia
O presente artigo pretende problematizar a inserção partilhada das práticas da umbanda e da capoeira em território português, tomando como base uma etnografia realizada em um templo de umbanda e um grupo de capoeira no norte de Portugal, com a pretensão de averiguar como estas práticas e seus líderes concertaram estratégias de fixação na sociedade portuguesa e se beneficiaram de fatores conjunturais e históricos comuns aos processos de transnacionalização. Na tentativa de compreender os desdobramentos destes fenômenos, mobilizaremos os conceitos de contracolonização e espaços circulares afro-lusófonos.
Resumo: O presente artigo, de perspectiva teórica, teve como centralidade os saberes acumulados pelos "velhos mestres", os guardiões desse arquivo cultural que mantém viva as tradições da capoeira. A memória desses sujeitos, transmitida pelo viés da oralidade, representa uma valiosa expressão de circularidade dessa cultura popular e, nesse sentido, a preservação de conhecimentos históricos e culturais. Compreender a ritualidade como experiência mnemônica e constituição de uma identidade que se fundamenta em valores que apontam para a cosmovisão africana, e a roda como espaço lúdico de convivência humana e produção de outras formas de ser e estar com-o-outro-na-roda, para além da competição e formas de subjugar o outro, constitui o objetivo dessa pesquisa. A pesquisa teve como perspectiva teórico-metodológica a discussão de conceitos como memória e identidade, pós-modernidade, a fenomenologia de Paul Ricouer e, ainda, um diálogo com perspectivas críticas acerca de uma sociedade do esquecimento que se sobrepõe a uma sociedade da memória, da individuação e de produção cultural massificadora. Ao término desse jogo teórico-reflexivo, compreendeu-se que a memória, representada pela ritualidade e oralidade, revela-se indispensável experiência humana na constituição de uma identidade, vinculada aos fundamentos eidéticos da capoeira, como respeito, alteridade e, ainda, a preservação das tradições, no sentido do compartilhar saberes e fazeres com o outro, portanto, da práxis da capoeira. Palavras Chave: Capoeira, Memória, Ritualidade, Oralidade, Identidade e Fenomenologia. Abstract: This article, from a theoretical perspective, is centered in the accumulated knowledge of "Old Masters", the guardians of the cultural heritage, keeping alive the traditions of capoeira. The memory of these individuals, transmitted by oral means, is a valuable expression of circularity in this popular culture. Rituality is taken as a mnemonic experience and provides an identity based on values of "African worldview". The research discusses concepts such as memory and identity, postmodernism, phenomenology of Paul Ricoeur etc.